O plástico é um dos materiais de maior sucesso já criado, diz o professor Ignacio Moreno, do curso de Biologia Marinha do Centro de Estudos Costeiros, Limnológicos e Marinhos (Ceclimar – UFRGS). Em contrapartida, também tem potencial para ser o maior dos vilões tanto do ambiente quanto do próprio homem. É o caso, em especial, dos plásticos efêmeros, que são usados uma única vez e depois descartados.
– Ele é um baita produto. Mas a gente usa errado. Isso vai nos trazer problemas severos. Todo o plástico fabricado até hoje ainda está no planeta – sustenta Moreno.
A vida do material funciona mais ou menos assim: na natureza, o plástico fica anos a fio sem se degradar. Vai diminuindo de tamanho, até se tornar microplástico. Esse material, invisível a olho nu, acaba parando nos organismos de animais filtradores, como alguns peixes, tubarões e baleias. Os danos à fauna são imensuráveis e vão além: vez ou outra, ao comer um peixe, podemos estar ingerindo microplástico.
– A gente nem imagina a repercussão de tudo isso – afirma o professor.
Estudos publicados em 2018 já revelaram que 90% do sal marinho consumido no mundo contêm microplástico. A água que bebemos ou usamos para outros fins também estão tomadas da substância. Em 2017, a organização Orb Media retirou amostras de 159 torneiras em 14 países dos cinco continentes – o trabalho mostrou que 83% das águas abarcavam esse elemento. Em 2018, a análise de 250 garrafas de 11 marcas líderes do mercado de bebidas revelou que 93% dos líquidos engarrafados estavam contaminados.
E por que os canudos?
Você pode estar se perguntando: por que atacar os canudos nas campanhas e não copos, pratos, talheres plásticos? Ainda mais que, em escala global, o canudinho representa apenas 0,03% dos resíduos plásticos resgatados no ambiente.
Ele é fácil de ser retirado de circulação e é um objeto gerador de discussão. Quando falamos que não pode mais usar canudo plástico, a pessoa pergunta “por quê?”. Aí contamos sobre o impacto do plástico.
GUILHERME TAVARES NUNES
Professor de Biologia Marinha do Ceclimar
A escolha é simbólica, explica o professor de Biologia Marinha do Ceclimar Guilherme Tavares Nunes, que ajudou no embasamento científico do projeto de lei de Imbé, que entrou em vigor em dezembro de 2018:
– Ele é fácil de ser retirado de circulação e é um objeto gerador de discussão. Quando falamos que não pode mais usar canudo plástico, a pessoa pergunta “por quê?”. Aí contamos sobre o impacto do plástico. Então, o canudinho abre uma frestinha para a gente entrar com o pé na porta no debate a respeito do consumo exagerado do plástico, especialmente o de uso único, e também sobre a destinação incorreta. É importante retirar o canudo? É, mas ele é muito mais importante como gerador de debate.
Quem não abre mão de bebericar um drinque com canudinho pode optar por outros materiais, como inox e vidro, a exemplo da bióloga Sue Bridi Nakashima. Sentada na orla de Imbé, ela retira seu canudo de vidro de dentro da bolsa de praia para tomar a caipira de açaí em copo de vidro feita pelo pessoal do Secret. Ela diz:
– Meu mestrado foi sobre dieta de um tipo de tartaruga. Notei que ela ingeria muito mais lixo do que alimento. A partir dessa pesquisa, a gente tenta não utilizar tanto plástico em casa, mesmo o biodegradável.
Ignacio Moreno, do Ceclimar, alerta sobre a versão biodegradável, que promete dois anos e meio para biodegradação completa:
– Eu apostaria que, antes de virar microplástico, esse canudo dura, no mínimo, 30 dias na água do mar. Nesse período, há o risco de ser comido por um animal.
Se na areia o plástico é sinônimo de sujeira, no mar pode matar: não raro, animais marinhos confundem canudos com algas e ingerem o material.