Eles já chegaram — e em maior número do que na temporada passada. Os estrangeiros estão por todas as partes do litoral de Santa Catarina: praias, shoppings, calçadões e rodovias. Estimativa divulgada pela Santur, órgão oficial de divulgação do turismo catarinense, aponta que o Estado deve receber 1,5 milhão de visitantes internacionais durante a alta temporada de verão, que vai até o dia 28 de fevereiro. Caso a expectativa se confirme, será um aumento de 36,3% em relação ao verão passado, quando 1,1 milhão de turistas de fora do país vieram.
A maioria vem da nossa vizinha Argentina. Nesta temporada, eles representarão aproximadamente 80% dos turistas estrangeiros. Florianópolis e Balneário Camboriú são os destinos favoritos daqueles que chegam por via terrestre, com 31% e 24% das preferências, respectivamente. Na capital, as águas calmas e quentes de Canasvieiras, no norte da Ilha, historicamente atraem os "hermanos".
O casal de funcionários públicos Carlos Miranda, 64 anos, e Susana Blanco, 58, curtiu a praia mesmo com o tempo nublado da manhã desta segunda-feira. Os dois vieram pela primeira vez ao litoral catarinense em 2010, por conta da indicação de um primo. Desde então, têm vindo praticamente todos os verões — os cinco últimos foram sem falta.
Provenientes da cidade de Santa Rosa La Pampa, na Argentina, eles pegaram aproximadamente 2,3 mil quilômetros de estrada para chegar a Santa Catarina, onde permanecerão por duas semanas. Além de Canasvieiras, também devem visitar a região de Bombinhas, no litoral Norte.
— Gostamos da calma. As pessoas aqui são muito amáveis — diz Miranda.
Não é só de turistas fiéis, porém, que vive o litoral catarinense. O aposentado buenairense Jorge Lascano, 71 anos, não vinha ao Estado desde 2003. Desta vez, contudo, resolveu trazer toda a família para comemorar o aniversário da esposa.
— Somos 22 ao todo, incluindo filhos, noras, genros e netos — conta Lascano, enquanto caminha junto ao trapiche de Canasvieiras.
Outro casal de Buenos Aires que voltou a Florianópolis neste ano foi o de Roberto Pellegrino, 75, e Maria del Carmen Pizzo, 73. Eles lembram de ter vindo pela primeira vez à cidade há cerca de 30 anos e dizem ter visto muitas mudanças, nem todas elas positivas.
— A água está muito suja e a faixa de areia encolheu muito. Tem pontos em que mal dá para passar — reclama Pellegrino.
Explicações econômicas
Para o presidente da Santur, Valdir Walendowsky, os dois principais fatores que explicam a vinda em massa de turistas do Mercosul são: proximidade e aumento do custo de vida nos países vizinhos. Explica-se: Santa Catarina, dentro do Brasil, é o destino de praia mais perto para muitos argentinos, uruguaios e paraguaios que desejam sair de seus países. Além disso, muitos aproveitam a viagem para comprar produtos que saem mais em conta no Brasil do que em suas nações, como é o caso de eletrodomésticos, alguns eletrônicos, roupas e peças para carros.
— São algumas das nossas vantagens competitivas neste momento. O custo de vida nesses países está significativamente mais alto do que no Brasil. Do ponto de vista geral, a economia dos nossos vizinhos também está um pouco melhor e eles têm a cultura de curtir as férias independentemente de questões macroeconômicas — opina Walendowsky.
Um otimismo moderado também se enxerga entre o setor de bares e restaurantes. Uma pesquisa feita pela seção catarinense da Associação Brasileira de Bares e Restaurantes (Abrasel) apontou que sete entre cada 10 empresários da área notaram um aumento no número de estrangeiros entre Natal e Ano-Novo.
— O câmbio está um pouco mais favorecido para eles em relação à temporada passada. A inflação no Brasil também está um pouco menor, o que faz com que a perda do poder de compra seja menor aqui — diz o presidente da Abrasel-SC, Raphael Dabdab.
O secretário estadual de turismo, cultura e esporte, Leonel Pavan, diz que o número de voos charters cresceu significativamente, já que o aeroporto de Navegantes, no litoral Norte, foi autorizado a recebê-los pela primeira vez. A chegada de cruzeiros em Balneário Camboriú é outro ponto celebrado por Pavan:
— São mais de 20 escalas programadas que devem injetar mais de R$ 40 milhões na economia local, além de Porto Belo, que também recebe cruzeiros e deve receber 40 mil turistas em pelo menos 18 escalas. O movimento é muito grande e toda a economia está sendo beneficiada.
Florianópolis como destino favorito
Um levantamento realizado pelo site Mercado Livre indicou que o Brasil é mesmo o destino favorito dos argentinos que pretendem tirar férias no começo de 2018. O país é apontando por 47% dos participantes da pesquisa. Entre esses, Florianópolis foi escolhida por 37,3%, mais que o dobro do segundo colocado, o Rio de Janeiro (18,1%). Na sequência, aparecem Salvador (9,5%) e Recife (7,3%).