Quando os fogos iluminaram a noite de Capão da Canoa, no primeiro instante de 2018, emocionando o mar de gente que se aglomerava desde o mar propriamente dito até os primeiros prédios da orla, a arquiteta de Passo Fundo Aline Berwian, 31 anos, já estava a postos para a festa de Réveillon havia 16 horas. Acompanhada da família e de amigos, num total de 11 pessoas, ela havia se instalado na praia às 8h para esperar o novo ano. O grupo passou o dia inteiro na areia, almoçou um churrasco assado no local e gastou boa parte da tarde organizando uma elaborada ceia à beira-mar.
Enquanto milhares de pessoas celebravam em pé ou acomodadas em cadeiras de praia, de olhos voltados para o alto, a fim de desfrutar dos 15 minutos de queima de fogos, a família de Aline refestelava-se ao redor de uma mesa repleta de iguarias: sob a toalha havia pernil, lentilha, salpicão, farofa, sobremesa e uma ampla variedade de frutas, tudo sob o teto da tenda iluminada com lâmpadas coloridas. Para beber, os amigos trouxeram espumante e cerveja.
- Estamos planejando isto a meio ano. Meu pai faz questão de cear na hora da virada, à meia-noite. Eu não queria perder a queima de fogos de jeito nenhum. Então eu disse: "Vamos chegar a um consenso". E assim surgiu a ideia de fazer a ceia na beira do mar. Viemos cedo para pegar um bom lugar - contou a arquiteta.
Do lado da tenda, ainda se achava a churrasqueira onde a turma preparou o almoço, conservando algumas sobras de linguiça assada. Era o lanche da madrugada.
- A ideia é ficar até o nascer do sol, para pegar toda a energia que ele tem e começar o ano com essa positividade.
Na hora de pular as sete ondas, Aline pediu saúde, alegria e trabalho - e também o bebê que ela e o marido, André Spiecker, 41 anos, estão desejando.
- O mar está marrom, mas tem de pular, né? Quem sabe ano que vem não estamos aqui de novo, com o baby! - devaneou Aline.
Ao redor do grupo, a multidão que horas antes havia escoado da cidade para a praia como um onda branca, brindava, se abraçava, fazia chover espumante, vibrava a cada explosão de cores, tirava selfies para as redes sociais. Sentados em cadeiras de praia na areia, os namorados Everton Vieira, 31 anos, e Lidiane Flores, 24 anos, de Santa Maria, acompanhados de uma parente, Júlia Flores, 36 anos, abriram os espumantes para comemorar, enquanto esperam pelos shows no palco. Também haviam trazido carne de porco assada para a ceia. Policial Militar, Everton esteve em Capão da Canoa no ano passado a serviço da Operação Golfinho, encantou-se e quis vir para passar o réveillon. O casal sonha em mudar para a praia.
- Vou pular onda e pedir paz, saúde e para vir morar aqui - confidenciou Lidiane.
O momento insólito da festa foi protagonizado pelo prefeito da cidade, que subiu ao palco com seu secretariado e, faltando cinco minutos para a meia-noite, apanhou o microfone para engatar um discurso, naturalmente ignorado pela massa, que só foi acabar a uns segundos da virada, abafado pela contagem regressiva iniciada em coro pelo multidão.
