Similar a uma guarita de guarda-vidas, a Rosa dos Ventos de Atlântida Sul, no Litoral Norte, conquista uma olhadela rápida dos visitantes, quiçá uma selfie. Mas para um grupo de amigos da praia, tem tanta importância que vai ser levada para sempre na pele.
O monumento, ou mirante – como chamam a estrutura cheia de pontas –, foi tatuado por 15 jovens, na panturrilha, no braço e até na barriga.
— Eu posso estar morando lá nos Estados Unidos, vou olhar e pensar: foi aqui que eu me criei, foi aqui que eu aprendi a surfar, que fiz amigos que vou levar para sempre — diz Lucas Grezzana Maciel, conhecido como Dagger, 23 anos, que veraneava em Atlântida Sul quando criança e hoje é professor de surfe no balneário.
A estrutura vermelha que marca os pontos cardeais era e é até hoje seu ponto de encontro antes de pegar ondas, cenário de luaus com fogueira e violão e moldura para incontáveis vezes do nascer do sol – que está presente na tatuagem, bem no topo da torre. Também é onde os jovens passaram as viradas de ano – todas desde que Dagger se lembra por gente.
Quem desenhou a tatuagem foi Lucas Martins, 23 anos, durante uma aula de história no Colégio Estadual Albatroz. Junto com o amigo Paulo Roberto dos Santos, foi o primeiro a marcá-la na pele, há quatro anos em um estúdio de Rainha do Mar. Tornou-se tatuador pouco depois e foi ele mesmo que reproduziu a imagem no resto da gurizada.
— Foi instantâneo, o pessoal viu e disse: marca uma pra mim — conta, ressaltando a "ligação" que o grupo tem com o local: — É a única coisa que a gente tem para representar Atlântida Sul.
A tatuagem sofreu várias transformações desde o "cobaia". Na mais nova versão, feita há cinco meses, ela acompanha o nome de uma banda de rap criada por alguns dos jovens, chamada ATS Crew. Está estampada na barriga do produtor musical Gabriel Mezzomo, 19 anos.
Parte dos guris nasceu ali, parte veraneava quando criança e escolheu o balneário para morar – e montar seu negócio. É o caso de João Erig, 18 anos, que passou as férias da infância inteira na casa da avó e resolveu montar sua barbearia no balneário. Em contrapartida, os guris também deixam sua marca na praia. Alguns participam dos mutirões de limpeza que ocorrem desde dezembro em Atlântida Sul.
— Aqui é nossa casa, por isso a gente quer cuidar tanto, preserva tanto isso aqui. Muita gente vem de fora e acha que aqui é a Disney, acha que pode fazer o que quiser — queixa-se João.
Os amigos não temem incorrer em exageros. Comparam a Rosa dos Ventos à Torre Eiffel ou a um templo. Quando a ressaca de outubro de 2016 entortou o "mirante", preocuparam-se. Alguém lhes disse que iam derrubá-lo. Em coro, juram que nunca permitiriam.
— Iam ter que passar por cima de nós — diz Dagger.
Sete meses depois, a prefeitura colocou o monumento da década de 1980 no lugar com a ajuda de uma máquina.
O grupo de amigos não se resume só aos 15, é formado por dezenas. Muitos dos que ainda não têm a tatuagem garantem que vão marcar uma hora no estúdio de Martins o quanto antes. O serviços gerais e rapper Jonathan Taylor, 26 anos, conhecido como Pedigree, quer tatuar na panturrilha. Isadora Andrade, 20 anos, pretende fazer nas costas. Além da amizade com a turma, o monumento ainda tem um outro significado para os dois: foi onde começaram a namorar, escondidos da mãe dela.
— E a gente fala também que, quando fizermos nosso casamento, vai ser aqui — adianta Isadora.
Para os amigos, o que "ATS uniu, ninguém separa". Ainda mais se estiver gravado na pele.