Inconformados com o cenário na sua praia, moradores de Atlântida Sul resolveram colocar a mão na massa — ou melhor: no lixo.
Munidos com sacolas e luvas, os voluntários realizam mutirões de limpeza desde o começo de dezembro no balneário de Osório. Também enfeitaram a orla com cerca de 30 placas coloridas feitas de material reciclado. "Não deixe nada além de pegadas", "não polua, evolua" e "areia não é cinzeiro" estão entre as indiretas espalhadas pela turma.
— Estamos tentando conscientizar as pessoas a respeito do seu lixo. Falta muito trabalho de educação ambiental aqui — comenta a oceanógrafa Shirly Gus Zbinden, 27 anos.
Antes do verão, os voluntários se conheciam só de vista. Por meio de uma comunidade no Facebook, descobriram que ver a praia limpa era uma vontade em comum e formaram um grupo no WhatsApp, que atualmente conta com 22 integrantes. Não falta quem os chame de "escravos" ou "puxa-saco" da prefeitura, ou argumente que quem paga IPTU não precisa fazer isso, mas o grupo tenta não dar bola.
— A gente faz porque quer ver a praia mais limpa mesmo. É um retorno para nós — diz o comerciante Rogério Krenn, 37 anos.
O professor de Educação Física Marco Leotti, 51 anos, acrescenta que a subprefeitura fornece luvas e sacos de lixo, mas ressalta que o grupo não tem quaisquer interesses políticos ou financeiros.
No primeiro mutirão, realizado em 2 de dezembro, os voluntários encheram uma caçamba de caminhão com lixo, incluindo calçados, travesseiros e até um fogão. Na última terça-feira (2), o que a autônoma Ana Hennemann, 45 anos, mais encontrou foi bituca de cigarro, tampinhas, canudinhos, e havia também pedaços de garrafa de vidro, provavelmente um "souvenir" da virada de ano. São coisas menores, mas não deixa de preocupar a moradora:
— Isso vai para o mar, e os bichos podem engolir achando que é alimento.
Os trabalhos desta semana ainda contaram com a ajuda de um voluntário mirim, sobrinho da artesã e auxiliar administrativa Andrea Pacheco dos Reis, 33 anos, que o levou para "aprender desde criança". João Paulo dos Reis Rodrigues, oito anos, era o mais entusiasmado:
— Gostei de recolher o lixo para ajudar minha prainha.