A chegada do verão transforma a Estrada do Mar, que conduz a muitas das praias mais populares do Estado, em habitat natural do veranista gaúcho. É ali que vai desembocar grande parte dos mais de 200 mil veículos que devem seguir para o Litoral Norte neste feriadão de Ano-Novo. É ali também que se enfrentam aborrecimentos e perigos com potencial para estragar a temporada de praia.
Para ajudar os veranistas a evitar surpresas desagradáveis ao longo do veraneio, GaúchaZH consultou o capitão Rogério Silva dos Santos, responsável pelo Comando Rodoviário da Brigada Militar entre Santo Antônio da Patrulhe e Torres, e percorreu nesta semana os 90 quilômetros da rodovia, para mapear os pontos críticos, marcados por congestionamentos e risco de acidentes.
Esse risco tem a ver com a própria natureza da via. Para começar, a Estrada do Mar não dispõe de um canteiro central para separar os veículos que transitam em sentidos opostos. Além disso, ela tem apenas uma pista em cada sentido, ainda que essa pista tenha sido projetada com largura maior do que o habitual. Outra particularidade é que, ao longo de toda a sua extensão, ela não conta com acostamento.
Essas características estão relacionadas com alguns dos tipos de acidentes mais comuns na rodovia. A pista mais larga, por exemplo, foi pensada para facilitar ultrapassagens: o carro que vai à frente encosta para a direita, permitindo a passagem. O problema é que, em consequência do enorme movimento nos meses de verão, muitos motoristas tentam usar a Estrada do Mar como se tivesse duas faixas em cada sentido. Isso costuma redundar em colisões frontais.
— Não há espaço suficiente para fazer ultrapassagens simultâneas em sentido contrário. A folga é mínima. A Estrada do Mar não permite que, tanto de um lado como de outro, dois veículos transitem ao mesmo tempo. Há um grau de risco elevado a todo momento — afirma o capitão Rogério.
A falta de acostamento, por sua vez, significa que veículos em pane ficam parados na própria pista em muitos trechos, o que aumenta o perigo de colisões. Mas não é só isso. Em quase toda a extensão da rodovia, de Osório a Torres, há um desnível entre o leito da estrada e a margem. Qualquer descuido pode significar uma saída de pista.
— Ou não tem margem para saída ou tem um desnível. Temos notados acidentes em que o motorista simplesmente sai da pista e desce o barranco. Ele perde o controle do veículo. Em alguns, temos notado que há o uso de redes sociais na direção. Quando ele perde o controle, tendo o desnível, obrigatoriamente ele desce o barranco — alerta o capitão.
Exatamente 10 anos atrás, no verão de 2007/2008, uma série de acidentes fatais chamou a atenção dos gaúchos para as ciladas da Estrada do Mar. Na ocasião, veículos que saíram da pista caíram em valas ou açudes, matando os ocupantes por afogamento. Na época, ZH fez um mapeamento dos perigos da rodovia. Comparando a situação de então com a de agora, notam-se algumas mudanças significativas. A principal delas foi a colocação de guard-rails nos pontos em que corpos d´água ladeiam a via. Os veículos continuaram a sair da pista, mas já não caem neles. Segundo o capitão Rogério, é importante ficar atento para o fato de que, em alguns pontos, o guard-rail salvador foi rompido por colisões e não foi recolocado.
Outras alterações ajudaram a conter os congestionamentos. O viaduto junto a Curumim eliminou um cruzamento que costumava ser traumático. Já na confluência com a RS-407, o Daer adotou como solução temporária a obrigatoriedade de um retorno de cerca de dois quilômetros, que ajuda a dar continuidade ao fluxo. A mudança será implantada a partir de hoje.
Veja os números de acidentes e mortes ano a ano na rodovia desde 2008, segundo o CRBM:
2008: 368 acidentes, sem dados sobre mortes
2009: 405 acidentes, 14 mortes
2010: 395 acidentes, 16 mortes
2011: 312 acidentes, 13 mortes
2012: 275 acidentes, 9 mortes
2013: 292 acidentes, 10 mortes
2014: 237 acidentes, 9 mortes
2015: 204 acidentes, 3 mortes
2016: 196 acidentes, 4 mortes
2017: 198 acidentes, 9 mortes - números até 27/12/2017