Os veranistas que começaram a chegar a Imbé em peso neste início de temporada foram recepcionados com uma surpresa para lá de desagradável. Depararam-se com boa parte do calçadão à beira-mar desfeito ou em obras. Há homens trabalhando, material de construção empilhado, entulho espalhado, trechos intransitáveis e até mesmo ferros retorcidos saindo da areia.
As perspectivas não são nada animadoras para o veraneio. Na melhor das hipóteses, segundo projeção da prefeitura, o calçadão só estará concluído em março, quando os turistas já tiverem ido embora.
A situação está decepcionando os frequentadores da praia. Moradora de Triunfo, Camila Menezes do Nascimento, 23 anos, instalou-se na véspera do Natal em uma casa alugada nas proximidades da barra do Rio Tramandaí. É ao pé da praia, mas a zona está com o acesso muito complicado, por causa do calçadão inconcluso e do acúmulo de montes de areia. Por isso, ela tem sido obrigada a ir de carro até um ponto mais distante, onde o acesso é melhor.
— No ano passado, estava em obras. Achei que agora já ia estar arrumado. Chegamos e estava deste jeito. Só não fomos embora porque já tínhamos alugada a casa e trazido uns amigos. No ano que vem, se Deus quiser, não vamos vir para Imbé — reclamou, Camila, que procura manter sempre ao colo a filha de dois anos, Maria Clara, para evitar que ela se machuque no entulho e nos ferros que saem perigosamente da areia.
A moradora de Cidreira Vanessa Martins, 36 anos, aproveitou a terça-feira (26) para apresentar o Litoral Norte a Augusto Rasec, 26 anos, visitante de São Paulo, e precisou fazer uma escalada para chegar ao mar, nas imediações da barra. Ela considera que as prefeituras deixam para a última hora as obras:
— Quando está chegando o verão é que eles começam a arrumar. Daí atrasa tudo e o turista encontra essa situação. É assim que funciona o litoral — afirma.
Augusto, que elogiou a limpeza e a higiene das praias gaúchas, na comparação com as de São Paulo, também reprovou a situação do calçadão:
— Chegar e ver em obras não é legal. Faltou estrutura. Fora isso, as praias são bem bonitas.
A porto-alegrense Aline Schmidt, 23 anos, que foi passar o dia em Imbé, avaliou que a situação do calçadão estraga a experiência, principalmente para crianças e idosos, que têm mais dificuldade de mobilidade, e também para quem gosta de caminhar ou pedalar no calçadão, privado dessas atividades. Jean Barbosa, 34 anos, morador de Carazinho, acredita que a situação do calçadão vai afetar a percepção dos veranistas sobre Imbé.
— Está muito ruim, né? O pessoal vai levar uma imagem negativa daqui — diz ele.
Riscos aos banhistas
Em meio às dificuldades de acesso e ao visual poluído por causa das obras, um elemento chamava atenção na tarde desta terça-feira na zona do calçadão, pelo risco potencial que oferecia: as várias barras de metal que saíam da areia, algumas meio escondidas, nas imediações da guarita 135.
GaúchaZH alertou os salva-vidas, e o aluno-sargento Marco Paim foi até o local fazer uma vistoria. Ele acredita que o vento tenha afastado a areia, fazendo os ferros aparecerem. Para o salva-vidas, eles podem oferecer risco, principalmente levando em conta que os banhistas costumam circular descalços.
— Vamos sinalizar e fazer contato com a prefeitura, para isolar essa área — antecipou.
GaúchaZH mencionou o problema ao prefeito Pierre Emerim. Ele disse desconhecer a situação e afirmou que iria até o local. Em caso de necessidade, vai isolar o trecho. O prefeito acredita que os ferros foram deixados pela empresa que venceu a licitação para remodelar o calçadão, mas abandonou a obra.
Atrasos
O prefeito lamenta a situação que os veranistas vão enfrentar nesta temporada na orla do município:
— Faço questão de me desculpar pelos problemas. Ninguém gosta de fazer obra no verão, mas não tivemos alternativa — afirma Pierre Emerim.
Segundo Emerim, dois fatores que fugiram ao controle da prefeitura levaram à situação complicada na beira da praia de Imbé. O primeiro deles foi o abandono de uma etapa da obra de remodelação do calçadão pela empresa que venceu o processo licitatório, o que obrigou ao chamamento da segunda colocada e provocou meses de atraso no cronograma.
O outro problema diz respeito aos cerca de 600 metros de calçadão destruídos pela grande ressaca de outubro de 2016. Segundo Emerim, a prefeitura encaminhou no mês seguinte, em novembro do ano passado, solicitação ao governo federal para receber verbas para situação de emergência. Só no final do mês passado, um ano depois, veio a autorização para as obras e a liberação dos recursos, da ordem de R$ 740 mil.
— Vão achar que é descaso da prefeitura, mas não faltou empenho. Estive no mínimo 12 vezes em Brasília, mas a burocracia é muito grande. E nesse meio tempo o município fica impedido de fazer qualquer coisa no local.
Conforme o prefeito, a partir da autorização, as obras passaram a ser realizadas "de segunda a segunda, dia e noite" e estão em bom ritmo. Ele não bate o martelo sobre a data de término.
— Já vi prazo de seis meses ser feito em quatro e obra de um ano levar três anos. O prazo é até abril, mas pelo ritmo atual acho que no início de março vai estar pronto. Na temporada de 2018/2019, aí, sim, a beira-mar vai estar linda, com cinco a seis quilômetros de calçadão e ciclovia.
O prefeito também pretende terminar até sexta-feira o rebaixamento dos montes de areia acumulados nas proximidades da barra, que se somam à obra do calçadão para prejudicar o acesso dos banhistas no local.