Há quase 20 anos, um dos cartões postais da praia de Atlântida, em Xangri-lá, sofreu o primeiro abalo. Era maio de 1997 quando uma ressaca no mar derrubou o braço sul da plataforma de pesca, que, antigamente, tinha forma de "T". Restos da estrutura podem ser vistos até hoje no local em dias de maré baixa e água limpa.
Passados mais de 19 anos do primeiro problema, a construção foi danificada novamente. Desta vez, com outra forte ressaca que atingiu o Litoral Norte no dia 28 de outubro de 2016. Nesse dia, a água avançou por toda a faixa de areia e as ondas chegaram a três metros de altura.
As avarias foram concentradas no braço norte, que teve as muretas de proteção derrubadas e a ligação com a parte principal prejudicada. Desde então, o trecho restante foi interditado pela Associação dos Usuários da Plataforma Marítima da Atlântida (Asuplama) por questões de segurança.
Para recuperar a plataforma, que é aberta ao público e conta com 300 associados em dia, a Asuplama encomendou três laudos técnicos que garantem a conservação da estrutura principal, necessitando apenas de reparos. No entanto, os valores da obra ainda assustam a diretoria da associação. De acordo com diretor desportivo e conselheiro ,Thiago Barata, os orçamentos devem chegar na casa dos R$ 200 mil.
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Sem condições de bancar a reforma sozinha, a entidade buscou ajuda dos órgãos públicos.
– A prefeitura de Xangri-lá diz não ter verba para o auxílio na recuperação – afirma Barata.
O tema dá brecha para uma ampla discussão, afinal, trata-se de um lugar privado, situado em área da Marinha, o que isentaria a prefeitura e até mesmo o Estado de investir no local.
– É uma estrutura privada em uma área pública, mas o município usa e divulga a plataforma como ponto turístico. Eles não podem se omitir – reclama o advogado e membro do conselho deliberativo Carlos Eduardo Acunha Corrêa, citando que a contracapa do carnê de IPTU de Xangri-lá leva uma foto da plataforma.
Conforme a Associação, a prefeitura não está interessada na causa, afirmação que é rebatida pelo vice-prefeito Érico de Souza Jardim. Segundo ele, o município tem participado de todas as reuniões organizadas junto a autoridades para analisar como é possível ajudar na recuperação da estrutura.
– Verba municipal não tem como agora, mas estamos interessados em ajudar e não vamos medir esforços para recuperar a plataforma – garante o vice.
Na busca de uma saída mais rápida para solucionar o impasse, a Asuplama tem investido em campanhas junto aos associados para arrecadar fundos que banquem a reforma. O grupo também procura investimento de patrocinadores, como em anos anteriores, que exponham suas marcas em placas ao longo da plataforma.
Sonho americano no Litoral Norte
Construída há 47 anos, a "velha senhora", como é chamada, faz parte de um restrito rol de plataformas de pesca existentes no Brasil. São apenas seis em todo o território nacional, sendo que três ficam em solo gaúcho: Atlântida, Tramandaí e Cidreira.
Conforme Celso Filippini, presidente do conselho deliberativo da Asuplama, a estrutura foi erguida em 1970 por um empresário que tinha muitas terras na região. Depois de voltar de uma viagem dos Estados Unidos, ele decidiu fazer a obra, desconsiderando a hostilidade do nosso mar.
Com vida útil estimada em apenas 30 anos, a "senhora" tem sobrevivido às ressacas do litoral gaúcho. Depois da queda do braço sul, a estrutura foi reforçada e a segurança garantida. Quase 20 anos depois, a Associação, que administra o local desde 1975, luta para manter vivo o principal atrativo do município e o ponto de encontro e lazer dos pescadores.