Sair de casa e voltar com os pés encharcados, ficar ilhado ou ter carros, casas e comércios atingidos pela água são situações já antigas para alguns moradores e veranistas de Capão da Canoa, Imbé e Tramandaí, três das praias mais movimentadas do Litoral Norte. Não precisa nem cair uma chuvarada. Basta uma precipitação moderada e, em poucos minutos, diversas ruas ficam debaixo d'água.
Um dos locais onde o problema é mais recorrente é na movimentada Rua Pindorama, em Capão da Canoa, onde se enfileiram lojas, restaurantes e barracas de crepes. No início da tarde da última quarta-feira, a rua tornou-se um rio – já é até comum entre os moradores chamá-la de Rio Pindorama em dias de chuva. A água descia desde a Avenida Paraguassú, atravessava a Rua Guaraci, formando um poço de água, e seguia em direção à Beira-Mar, onde a situação não era menos complicada.
Gislane Pires, 62 anos, dona de um dos restaurantes da Pindorama, colocou até um estrado de madeira na rua, rente ao meio-fio. Ele funciona como uma ponte, que ajuda os pedestres na tentativa de chegar a um local seco. Nesta semana, no entanto, com tanta água para todos os lados, não havia muito para onde ir – a não ser que se estivesse disposto a molhar os pés e mais um pouco da perna. A água que escorria era escura, carregava plásticos e outros resíduos jogados na rua. Nas poças, ainda brincavam cachorros de rua – que urinavam com frequência no local.
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– Tenho o restaurante há 34 anos, sempre foi assim. Quando meu filho era pequeno, fazíamos barquinhos de revista e largávamos para ver qual chegaria primeiro à Beira-Mar. Hoje quem vem de fora vê essa água toda e logo pergunta: "Cadê o prefeito?". Está certo que esta quantidade de água não destrói, não mata ninguém, mas é um incômodo. E a gente continua esperando que ele seja solucionado – afirma Gislane.
Ubirajara Dutra, 69 anos, veraneia há duas décadas em Capão da Canoa. Boa parte deste tempo, na região das ruas Guaraci e Pindorama. Para ele, além de as vias serem asfaltadas, pesa o fato de não haver caimento em direção ao mar, nem bocas de lobo que pudessem escoar a água.
– Aí a moda é andar de chinelos de borracha, porque nunca se sabe quando será preciso botar o pé na água ao sair de casa – afirma Dutra, militar aposentado. – Bem que o nome diz, para passar o verão em Capão deveria se ter uma canoa mesmo – conclui.
O secretário de Meio Ambiente e Planejamento, Jorge Arbelo, afirma que o problema é que o município conta com somente algumas galerias para a drenagem pluvial. O titular da pasta encara os alagamentos da Rua Pindorama como um "calcanhar de Aquiles" e garante que a prefeitura está ciente disso. No entanto, ele adianta que a solução não deve vir tão cedo.
– Todo o escoamento ali é superficial. Criar galerias seria quase impossível, devido ao grande número de redes que passam pela região. O que deve ser feito é um estudo topográfico para viabilizar uma obra que dê um declive em direção ao mar. Agora, se vamos resolver em quatro anos? Difícil, para isso precisa de tempo, projetos, recursos ou fontes de financiamento – afirma Arbelo.
Tramandaí e Imbé sofrem do mesmo problema
Em Tramandaí, é a mesma coisa – e o alagamento não complica somente as férias dos turistas, mas o dia a dia dos moradores do município. Qualquer chuvinha e lá estão várias das ruas mais movimentadas da cidade inundadas. Denilson Rocha Oliveira, proprietário de uma ferragem na Rua Fernandes Bastos, próximo à Rua Caldas Jr., um dos pontos mais atingidos em dias de chuva, já perdeu as contas de quantas vezes viu a água chegar na porta de seu estabelecimento.
De acordo com o comerciante, o problema ocorre porque toda a água que se acumula nesta região de Tramandaí escoa para a Rua Fernandes Bastos, devido ao caimento. Além disso, as bocas de lobo seriam de pouca vazão e, não raro, estão repletas de sujeira.
– Tenho várias fotos destes alagamentos. É sempre um prejuízo para quem deixa os carros e motos estacionados nestes pontos. Os pedestres também não conseguem circular. A água sobe até quase um metro de altura, e aí quando passa um ônibus ou um caminhão, ela entra na loja. E a inundação só diminui umas três horas após parar de chover. Espero que, com a mudança dos gestores, algo seja feito – conta Oliveira.
Contatada por Zero Hora, a prefeitura de Tramandaí informou que engenheiros da Secretaria de Obras estão realizando um estudo sobre as redes que passam sob os pontos mais críticos de alagamento na cidade.
– Sou morador do município e sei que este é um problema antigo. Só que não existe na prefeitura os projetos de como foi feito o encanamento pluvial da cidade. Então estamos realizando um mapeamento dos canos atuais e vamos verificar a viabilidade de expandir a rede, levando mais rápido a água das ruas para a lagoa ou para o mar – disse o secretário de Obras de Tramandaí, Antônio Augusto Galaschi.
A prefeitura de Imbé informou que realiza constantes limpezas nos valos, canoas de esgoto pluvial e bocas de lobo do município. Parte do problema, como os frequentes alagamentos na região da Rua Alegrete, no entanto, devem-se também à proximidade do lençol freático com a superfície, informou a administração local.