Enquanto milhares de pessoas saem no verão da Região Metropolitana pela freeway em busca do sol, da areia e do mar das praias do Litoral Norte, ZH traçou o caminho oposto. Nossa equipe da cobertura de praia pegou a ERS-030 e partiu rumo a Santo Antônio da Patrulha para opções de lazer e gastronomia diferenciados. Confira abaixo.
Terra do sonho, da cachaça e da rapadura
Pouco menos de 50 quilômetros separam Tramandaí de Santo Antônio da Patrulha. Entrando via ERS-030, não dá para imaginar o que espera os visitantes na chamada Cidade Alta.
Subindo até uma das principais avenidas do município, a Borges de Medeiros, uma porção de construções de estilo português se enfileiram pela via. Bem cuidadas, as casas são coloridas e trazem características do passado como a dupla cobertura de telhas e as janelas com o vidro para fora e um tampão de madeira na parte interna.
– Antigamente, por volta de 1820, vidro era muito caro. Então, para mostrar poder, as pessoas faziam as janelas com eles para fora – explica a turismóloga e guia Maria Eduarda Braga.
Nesta mesma avenida, localiza-se o Museu Antropológico Caldas Júnior, uma casa construída em 1820 e que serviu de moradia para o alferes e vereador Francisco Xavier da Luiz e para o fundador do jornal Correio do Povo, Francisco Antônio Vieira Caldas Júnior, até seus 12 anos. Reza a lenda que a residência abrigou Dom Pedro I durante uma passagem pela região em 1826.
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Durante a suposta passagem do imperador por solo gaúcho – a viagem ainda gera discussão entre pesquisadores, que não confirmam que ele passou, de fato, por Santo Antônio da Patrulha –, ele teria bebido água de um chafariz que abastecia a cidade. Foi então que pediu a construção de uma fonte no local. Na nascente, ergueu-se a Fonte Imperial, obra concluída em 1847, e que é tradicional ponto turístico da região.
– Quem bebe desta água ou se casa com alguém daqui, ou vem morar no município – alerta a guia sobre uma das histórias populares que cercam a fonte.
– Mas precisa fazer o sinal da cruz após beber – completa rindo.
Não dá para não comer
Em terras produtoras de cana de açúcar, não podem faltar doces e nem cachaça. Um dos passeios mais saborosos da região é às fábricas de iguarias artesanais feitas com açúcar, melado e amendoim.
Produtora de rapaduras, pés de moleque, mandolates e outros doces tradicionais, a Doces Seleção, situada na ERS-030, é parada obrigatória. Fundada há 18 anos, a loja oferece uma série de produtos do município e, até fevereiro, deve finalizar uma reforma que permitirá que os visitantes conheçam um pouco mais da fabricação das delícias que saem dali.
Quem deve mostrar um pouco mais do seu trabalho após esta obra é o Celso Inácio da Silva, que há 12 anos trabalha na empresa. É ele quem comanda os caldeirões recheados da mistura que origina os pés de moleque a uma temperatura que pode chegar a mais de 200°C. Taí uma boa explicação para o ditado que diz que a rapadura é doce, mas não é mole: é preciso dedicação e um trabalho manual e artesanal para produzi-la. Depois de sair do fogareiro, a massa é depositada nas formas redondas ou espalhadas por uma mesa gigante até que sequem. Curioso também é o processo de fabricação do mandolate. Feito à base de claras em neve com açúcar, o amendoim é misturado em uma máquina feita com motor de carro antigo que bate tudo até obter a consistência desejada. Finalizado o processo, a massa é estendida numa mesa, onde é prensada para ficar parelha.
Além das rapaduras e da cachaça, Santo Antônio também é a terra do sonho. Mas não aquele que todo mundo conhece das padarias. Este é completamente diferente. Coberto de açúcar e canela, o doce tem o tamanho de uma bola de handball e vem acompanhado de "chimia", doce de leite e nata. Servida quentinho, a iguaria é a especialidade da Casa Da Colônia, parador que comercializa as delícias da marca e ainda tem almoço e lanches coloniais.
Este sonho não se parece em nada com o doce que se conhece. Sua massa não leva nenhum fermento, o que dá uma trabalho extra na hora de fritá-lo: o óleo não pode estar muito quente para não cozinha o bolinho por fora e deixá-lo cru por dentro. Depois de alguns minutos em uma panela, eles são levados para outra ainda maior onde ganham cor. Na boca, tem uma textura molhadinha e que não se compara com nenhum outro doce.
Caminhada serve de treinamento para Santiago de Compostela
Passada toda a comilança – ou antes dela – Santo Antônio da Patrulha oferece aos visitantes uma caminhada chamada de Caminho Gaúcho de Santiago de Compostela. O trecho de 12 quilômetros por entre a zona rural do município é totalmente sinalizado com plaquinhas que levam mensagens ao peregrinos. No meio do caminho, uma cruz de ferro faz referência à original europeia. Por ali, as pessoas largam pedras, que representam seus problemas ou seus pecados. Criado em 2014 em um local escolhido por um cônsul espanhol, o trajeto é muito procurado por pessoas que desejam fazer um treinamento para o caminho original. Quem percorre os 12 quilômetros, recebe, ao fim, um certificado que comprova o feito.
Santo Antônio, a mãe do RS
Instalado em 1811, Santo Antônio da Patrulha era um dos poucos municípios gaúchos, ao lado de Rio Grande, Rio Pardo e Porto Alegre. Dali, originaram-se diversos municípios, que são considerados filhos, netos, bisnetos e trinetos de Santo Antônio. Vacaria, Rolante, Osório e Lagoa Vermelha, por exemplo, são filhos do município. Canela, Gramado, Igrejinha, Antônio Prado, Torres, Tramandaí e Maquiné são netos, e assim por diante.
Serviço
Doces Seleção
Informações pelo telefone: (51) 3662-6380
Site: http://www.docesselecao.com.br/
Casa Da Colônia
Informações pelo telefone: (51) 3662-3089
Site: http://www.dacolonia.com.br/
Caminho Gaúcho de Santiago de Compostela
Informações pelo telefone: (51) 3662-8560