Encravada entre casas populares, condomínios de luxo e a zona rural de Tramandaí, no Litoral Norte, a Lagoa das Custódias vem sendo descoberta por quem costumava visitar a região apenas motivado pelos banhos de mar.
Localizada nos fundos da cidade, ela se tornou atrativo turístico com a criação da Expedição Pôr do Sol, um passeio de caiaque ou de canoa que começa atravessando um estreito arroio, passa por baixo de uma ponte, cruza por juncos com mais de 1m sobre a lâmina de água e termina em meio a um cenário quase sempre cinematográfico.
A aventura só é possível com orientação de instrutores e se não estiver chovendo. A ideia de apresentar um novo olhar sobre Tramandaí partiu do turismólogo Tiago Lucas Corrêa, 37 anos, proprietário de uma agência de turismo de aventura e morador da cidade.
Cansado das mesmas alternativas de pontos turísticos da região, Tiago elaborou a proposta com base na própria experiência de vida.
– Temos belezas naturais que vão além da praia de mar, mas a maioria dos visitantes e, até, de moradores desconhece. Fazia este trajeto por lazer, mas decidi compartilhar a experiência para que mais pessoas possam ter acesso à parte da cidade que não é vista – justifica.
Motivada por descobrir novidades na praia visitada há anos pela família, a professora Simone Berguenmayer, 39 anos, aceitou o convite do marido, o policial civil Luis Carlos Olson, 39 anos, para desbravar a Lagoa das Custódias ao lado dele e do filho Klaus, sete anos.
Moradora de Santiago, a 466km de Tramandaí, Simone vinha resistindo ao passeio por temer o uso do caiaque, equipamento que Luis Carlos já dominava. Entusiasmado, o filho do casal foi quem convenceu a professora a se desafiar.
Mas um problema ocorreu ao longo do dia agendado para o passeio, 9 de janeiro, e quase fez com que Simone desistisse: choveu à tarde nos arredores da lagoa e havia previsão de temporal para a área no horário previsto da expedição.
Até aquela data, nenhum passeio havia ocorrido em 2017 por conta da meteorologia contrária.Durante toda a tarde, Tiago e a equipe organizadora ficaram monitorando o clima e de olho na movimentação das nuvens e do vento. Até que 30 minutos antes das 19h15min, hora prevista para o encontro do grupo, a família recebeu a mensagem:
– Boa tarde, o tempo abriu, o passeio vai ocorrer! – foi a senha, dita por telefone, por Tiago, animado com o primeiro passeio do ano.
A experiência
Reunidos no terreno de um condomínio fechado, cortado pelo Arroio Camarão, a família e outros quatro turistas ouviram as orientações finais dos dois instrutores antes de partirem. O passeio é cronometrado de acordo com o horário que o sol irá se pôr.
Naquela data, a previsão era de ele sairia de cena às 20h32min. Como o fim de tarde estava sem vento, o percurso até o ponto final levaria cerca de uma hora.
– E se virar o caiaque? – perguntou o atento Klaus, para risos dos outros.
– Larga tudo, abraça o colete – orientou Tiago.
Feita a seleção de coletes, remos, caiaques e canoas, o grupo saiu no horário previsto. Klaus foi com o pai numa canoa e, inicialmente, demonstrou tensão nas primeiras remadas. Simone foi em outra embarcação e perdeu o medo logo ao entrar no arroio.
Depois de passarem sob a ponte da RS-030, que vai até o centro de Tramandaí, à medida que avançavam pelo Arroio Camarão, os nove aventureiros deixaram de ouvir os sons dos veículos que cruzavam a estrada e das pessoas às margens. Pelo caminho, apenas os sons dos remos na água. O silêncio não é obrigatório, mas a espera pela lagoa fez com que a turma seguisse quase sem falar.
Estreitando em meio ao caminho ladeado pelos juncos, o arroio voltou a se abrir, como uma cortina, para apresentar a Lagoa das Custódias. O sol já estava querendo se pôr quando o grupo alcançou o meio da cortina de água, onde foi possível descer das embarcações. Klaus, que até então quase não esboçara um sorriso, se soltou.
Observado pelo pai e pelos instrutores, o menino começou a remar sozinho, fazendo todas as manobras orientadas, tamanha a tranquilidade da água no trecho.
– Nem sempre é assim. O vento pode mudar a lagoa. Por isso, o passeio só é recomendado com quem conhece a região – alerta Tiago.
Foram cerca de 20 minutos de contemplação e fotos em meio à natureza silenciosa. E mesmo com a proximidade da saída do sol, o que faria a volta ocorrer no início da noite, houve quem quisesse permanecer até a despedida derradeira – negada pelos instrutores.
Era preciso retornar com o final de luz do dia para passar pelos juncos. Na volta ao ponto inicial, Simone e Klaus demonstravam nos sorrisos a satisfação.
– Foi uma grande experiência. Uma Tramandaí que eu jamais imaginaria conhecer. Vale muito e vou fazer novamente! – garantiu a professora, apoiada por Klaus e pelos outros aventureiros.
Saiba mais
/// A Lagoa das Custódias pertence ao complexo lagunar da Bacia Hidrográfica do Rio Tramandaí e é uma das únicas que está totalmente dentro do território da cidade.
/// Por estar num ambiente de transição com o mar, a lagoa tem períodos de água doce e de água salobra.
/// A remada é considerada de nível fácil.
/// O passeio tem duração de 2h.
/// As saídas ocorrem a partir das 19h, dependendo do horário que o sol irá se pôr.
/// O passeio oferece acompanhamento de instrutor e equipamento completo (caiaque, remo e colete).
/// Veranistas, turistas e moradores agendam conforme o preparo físico e disponibilidade de horário.
/// São oferecidas 20 vagas, diariamente.
Leia mais notícias
<titulo 1="" coluna="">A origem do nome da lagoa
"A Lagoa das Custódias está localizada no antigo "Rincão das Custódias" local da estância do português e sargento mór Custódio de Souza Oliveira. Custódio casou em 1779, em Porto Alegre, com Francisca Maria de Jesus, mas antes do final do século XVIII já estava no litoral. O casal gerou dez filhos - cinco filhos e cinco filhas (Ana, Silvana, Maria, Francisca e Antônia), que provavelmente dão nome à lagoa (em seu "Pequeno Dicionário Histórico e Geográfico do município de Osório", publicado na Revista do IHGRS, em 1937, Fernandes Bastos, que é desdente do Custódio, não esclarece a origem do nome, mas é bem provável que seja devido a residência dos/das descendentes do Custódio no local). A estância de Custódio também ficava próximo a "Fazenda do Arroio" pertencente a Tomás José Luiz Osorio. Nesse local nasceu o general Osorio, militar brasileiro que dá nome a cidade de Osório, onde hoje se localiza o Parque Histórico."
FONTE: Pesquisa e texto do historiador, genealogista, escritor e sócio-fundador da Academia de Escritores do Litoral Norte Gaúcho, Rodrigo Trespach
"Os barulhos da cidade vão ficando para trás"
"À medida que avançamos pelo Arroio Camarão, depois de passar sob a ponte de uma rodovia movimentada, os barulhos da cidade vão ficando para trás. Ainda há moradias dos dois lados em parte do trecho. Aos poucos, o curso de água estreita e o caminho fica ladeado por juncos. Ouvimos apenas o som dos caiaques que deslizam sobre a água e os remos que agitam a sua superfície tranquila que espelha o céu. Finalmente, depois de alguns metros, o curso estreito em meio ao junco se abre e revela a Lagoa das Custódias com um espetacular por do sol. Nesse trecho, a água fica na altura do joelho. Dá pra descer do caiaque e apreciar o fim da tarde de dentro da água."
Relato do fotojornalista Mateus Bruxel, que fez o passeio
<titulo 1="" coluna="">Contato: (51) 985121012 - Whats app instrutor Tiago e www.facebook.com/Expedicoesjamboo
<titulo 1="" coluna="">
<titulo 1="" coluna="">Serviço
Expedição ao Pôr do Sol
Valor R$ 30 - com agendamento prévio
Saídas diárias, que dependem do clima na região
A aventura só é possível com orientação de instrutores e se não estiver chovendo