Neste verão, o lojista Alex Pinheiro, 33 anos, resolveu aderir a uma tendência dos últimos anos no litoral gaúcho e acrescentou um novo e polêmico item aos apetrechos tradicionais de praia como cadeira e guarda-sol: uma potente caixa de som.
Cada vez mais frequente à beira-mar, o aparelho portátil permite aos veranistas escolher a própria trilha sonora para curtir dias ensolarados de praia como ontem. Basta conectar um pen drive, o bluetooth do celular ou usar um cabo auxiliar. Mas a prática também causa desconforto em praianos que discordam do gênero musical escolhido ou gostariam de ouvir apenas o relaxante barulhos das ondas.
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Com os amigos reunidos em volta do alto-falante, que tocava música sertaneja e nativista, Pinheiro conta que decidiu pagar R$ 150 pelo equipamento com bateria de quatro horas de duração após constatar o avanço dos DJs improvisados na areia.
– Antigamente, a gente só ouvia a música dos quiosques ou conversava. Agora a coisa fica mais animada, além de evitar que a gente tenha de escutar o funk de alguém – conta o lojista de Carazinho, que passa férias em Capão da Canoa.
Após testemunhar uma discussão entre uma veranista e um rapaz que ouvia som alto, Pinheiro conta que procura deixar o volume baixo, a ponto de ser audível apenas por poucos metros. Já a aposentada Débora Mordente, 57 anos, resolveu investir em um aparelho mais moderno e potente para esta temporada – adquirido por R$ 200 via internet.
– A gente deixa num volume mais baixo, mas se vê que o pessoal em volta está gostando, aumenta – brinca Débora.
A prática também ganha adeptos em Torres. O contador Márcio Costa, 31 anos, gastou mais de R$ 1 mil em um dispositivo portátil. Ao redor do grupo de amigos de Flores da Cunha, varia entre sertanejo e pop.
A onda das caixas portáteis sucede outras alternativas de música na orla, como as rádios-poste ou a música ambiental fornecida por quiosques. O problema é que nem todos toleram a expansão das playlists individuais na orla, onde com frequência os guarda-sóis têm de compartilhar espaços apertados.
– Penso que esse tipo de atitude não combina com a praia. Principalmente porque o volume costuma ser inversamente proporcional à qualidade da música. Péssima – reclama o consultor de imóveis Eduardo Dias, 50 anos, que mora na Capital e veraneia em Torres.
A estudante Gabriela Dias, 20 anos, filha de Eduardo, observa que às vezes o som de um grupo de veranistas chega a se confundir com o de outro:
– Fica uma música em cima da outra. Uma confusão.
Brigada Militar pode ser chamada
O Batalhão Ambiental da Brigada Militar informa que, em caso de som muito alto à beira-mar, é possível requisitar a intervenção do policiamento por perturbação da tranquilidade pública.
– Nesses casos, procuramos contornar a situação e chegar a um acordo. Mas não temos recebido reclamações desse tipo – diz o soldado da BM Paulo Buttenbender.
O prognóstico é de que as trilhas sonoras sigam se expandindo na orla. Muitos veranistas que ainda não compraram seu equipamento, como a supervisora pedagógica de Sapucaia do Sul Márcia Rebelo, 40 anos, já fazem planos:
– A gente acaba ouvindo o som dos outros. Algumas vezes dá vontade de pedir para trocar de música, mas não tem como, né? Então estou pensando em comprar uma caixinha dessas para mim para poder ouvir sofrência.
Nova moda estimula mercado informal das areias
À medida que aumentam os aparelhos de som portáteis diante do mar, cresce na mesma proporção um mercado informal destinado a abastecer os equipamentos com uma fonte praticamente inesgotável de músicas.
Carrinhos de diferentes DJs, que se dedicam a montar listas de músicas para vender em pen drives ou CDs, circulam entre os banhistas. Um deles é empurrado por um homem vestido de Chaves (personagem do seriado mexicano homônimo, grande sucesso no Brasil) e uma mulher de Chiquinha (outra personagem do mesmo seriado).
O rapaz, Lucas Goulart, 18 anos, de Viamão, conta que começaram vendendo as trilhas sonoras em Magistério. Conforme as caixas de som foram se popularizando, passaram a rumar para praias mais ao norte. Passaram por Pinhal, Cidreira e agora estão em Capão. Mas já fazem planos mais ousados:
– Queremos dar "up" no negócio e ir para Santa Catarina.
Um pen drive de oito gigabites, com 1,7 mil músicas armazenadas, é vendido a um preço de R$ 50.