O instituto Oceano Vivo, organização não governamental de cunho ambiental, estreou em dezembro um projeto-piloto de monitoramento da fauna marinha na região da Ilha dos Lobos, em Torres. Na semana passada, ZH esteve a bordo do avião que leva os pesquisadores, mas as estrelas do sobrevoo não foram nem os lobos marinhos que dão nome ao local, nem os leões marinhos, habitantes característicos da região.
A surpresa do monitoramento foi uma silhueta escura com barbatana que nadava próxima à região da Ilha, a mais de 2 quilômetros da costa. As lentes do fotógrafo Bruno Alencastro registraram o animal que foi analisado posteriormente por especialistas.
- Pelo formato e pela coloração, tem tudo para ser um tubarão-baleia -- afirma Marcelo Szpilman, biólogo marinho e um dos maiores especialistas em tubarões no Brasil.
- É um tubarão-baleia - sustenta Walter de Nisa e Castro Neto, professor de biologia da Ulbra, que já fez registros do animal no Rio Grande do Sul. - Trata-se de um animal em extinção. O último registro na costa gaúcha foi feito pelo menos há 10 anos. Vocês tiveram sorte de fotografar um animal desses - comenta.
- Ainda não podemos dizer se foi sorte ou não. Agora iremos sobrevoar mais algumas vezes a região para ver se ele continua por aqui e para entender o comportamento dele - diz Thiago Nóbrega Lisbôa, presidente da ONG Oceano Vivo.
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O tubarão-baleia é o maior peixe conhecido (lembre-se: baleias são mamíferos) e pode chegar a 20 metros de comprimento. Apesar do tamanho e do nome assustador, o gigante é inofensivo ao homem, assegura Walter de Nisa:
- É um animal que não ataca seres humanos. Ele é planctonófago, ou seja, se alimenta de plâncton através da filtração da água, que entra na boca e sai pelas brânquias. Sua dieta também inclui pequenos polvos e peixes.
Projeto para "entender" uso do local
O monitoramento aéreo da Ilha dos Lobos está em fase de implementação e ajustes de metodologia. Os voos devem ser mensais.
- A Ilha dos Lobos é a única unidade de conservação marinha do Rio Grande do Sul. Temos diversas espécies que utilizam aquela região para se alimentar. Estamos fazendo esse trabalho para entender quais animais são comuns naquela área e qual uso fazem daquele espaço - afirma o presidente da Oceano Vivo, Thiago Nóbrega Lisbôa.
O projeto seria realizado com drones (aeronaves não tripuladas), mas a ONG fechou uma parceria com a Escola de Aviação Civil Realizar, que forma pilotos e promove passeios panorâmicos em Torres para turistas.
- Topamos participar porque estamos inseridos nesse contexto do litoral - conta William Biavatti, gerente comercial da escola e instrutor de voo.
A aeronave utilizada é um monomotor de quatro lugares, um Cessna 172 fabricado em 2005 nos EUA. Segundo Biavatti, esse modelo é perfeito para pesquisas de observação porque tem asas altas, o que permite maior visibilidade do solo. No voo, que sai do aeroporto de Torres e dura em torno de 30 minutos, os quatro lugares são ocupados por piloto, fotógrafo (ambos na parte da frente) e dois pesquisadores.
Os dados coletados são repassados ao Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), uma autarquia pública federal responsável pela gestão das 320 unidades de conservação federais espalhadas por todo o país. Com a missão de proteger o patrimônio ambiental, o ICMBio vem construindo parcerias com instituições de pesquisa como a Oceano Vivo para realizar de forma conjunta o monitoramento da biodiversidade do Refúgio de Vida Silvestre (Revis) da Ilha dos Lobos, chefiada por Aline Kellermann, analista ambiental do ICMBio.
- Fazemos imagens a mais de 300 metros de altura na região próxima à Ilha. Avistado um animal, temos um procedimento de espiral para nos aproximar e poder registrar imagens que posteriormente serão analisadas para a identificação das espécies. O monitoramento aéreo é mais preciso do que o feito por barco porque as condições de ondulação e maré, se estamos em uma embarcação, podem atrapalhar a observação - diz Nóbrega.