Não é só impressão: a freeway engarrafou mais nos dois últimos feriados de 2015 e no primeiro final de semana de 2016 do que em mesmos períodos de anos anteriores. Apenas nos dias 30 e 31 de dezembro, foram pelo menos 28 horas de tranqueira ou movimento intenso, o maior período desde 2012 – data a partir da qual a Concepa, empresa privada que administra a rodovia, divulga dados.
Freeway tem congestionamento na volta do Réveillon
Novos valores para pedágio da freeway entram em vigor
Saiba os melhores horários para pegar a estrada
A concessionária e a Polícia Rodoviária Federal (PRF) atribuem os congestionamentos à maior demanda pelo trecho – em razão da crise e da alta do dólar, que desencorajam viagens longas e levam mais gente a fazer bate-e-volta à praia – e à falta de planejamento dos viajantes para evitar horários de pico.
– O problema não é a estrada, mas, sim, o comportamento dos motoristas – resume Alessandro Castro, chefe da Comunicação da PRF no Estado.
Apesar das orientações de Concepa e PRF para buscar horários alternativos, a rodovia operou no limite em diversos momentos – a capacidade é de 85 carros por minuto –, o que causa lentidão e maior risco de acidentes. Houve, ainda, aumento no número total de carros que cruzaram a freeway em direção às praias no Réveillon: 142 mil, um acréscimo de 7,5% sobre os 132 mil do mesmo feriado do ano anterior.
– Com o dólar no atual valor e o feriado em véspera de final de semana, muita gente optou por ir ao litoral gaúcho. E não teve jeito: em alguns momentos, a estrada parou – afirma Thiago Vitorello, diretor-presidente da Triunfo Concepa.
Parte dos engarrafamentos decorrem de acidentes ou falhas de manutenção – que levam os demais carros a parar, desviar ou dar espaço para o serviço de emergência. Em 2015, houve 32 mil emergências mecânicas na freeway, sendo 2,2 mil no período de Ano-Novo – 600 a mais do que em 2014. A maioria causada por problemas evitáveis: falta de água no radiador, óleo baixo, estepe murcho e até falta de gasolina.
Medidas amenizaram - mas não resolveram - engarrafamentos
Nem a conclusão da quarta faixa entre a Capital e Gravataí, em dezembro – obra de R$ 160 milhões – eliminou o arranca e para nas proximidades do pedágio. Para tentar escoar o volume de carros, a administradora libera desde 2013 o acostamento para tráfego em Santo Antônio da Patrulha e tenta agilizar o pedágio permitindo a circulação de cobradores entre os carros que aguardam realizar o pagamento. Na opinião de especialistas, ajudou, mas não resolveu.
– Se todo mundo sai ao mesmo tempo para a praia, nem todo o esforço para escoar o trânsito vai impedir engarrafamentos – explica o professor da graduação em Engenharia Civil da Unisinos, João Hermes Nogueira Junqueira. – E, à medida que muita gente comprou seu primeiro carro nos últimos anos, é de se esperar que o trânsito fique cada vez mais intenso na freeway se nada for feito para organizar essa demanda.
A liberação do acostamento para circulação é uma solução temporária vista com agrado pelo especialista. Como essa opção ocorre quando há maior fluxo, em velocidades abaixo do limite, o risco de acidentes graves cai. Além disso, há refúgios para emergências. – Em termos de segurança, é preferível você liberar o acostamento do que deixá-lo suscetível a algum motorista “esperto” dirigindo por ali – afirma Junqueira.
Exemplos do exterior podem inspirar mudanças
O incremento do número de horários de pico da freeway nos últimos anos sugere que os congestionamentos podem se tornar mais frequentes daqui por diante. Em 2012, por exemplo, o feriado de Réveillon registrou quatro horas de lentidão da via, ante 28 horas em 2015. Resultado também do gradativo aumento do uso da rodovia pelos usuários, que cresceu 1,9% anualmente nos últimos três anos.
Exemplos de fora do Brasil apontam algumas saídas para equilibrar o fluxo durante épocas de maior demanda. Um deles seria a cobrança diferenciada: quem viaja pela manhã ou após as 21h pagaria um valor mais baixo nos pedágios do que os viajantes de horários de pico. Trata-se de uma alternativa adotada em metrópoles como Londres, no Reino Unido, para desestimular o uso do carro em horário comercial.
– A vantagem desta opção é que se consegue dividir melhor o uso da capacidade da estrada, já que a freeway passa boa parte do tempo com movimento relativamente baixo – Luis Antonio Lindau, doutor em Transportes e diretor da Organização WRI Brasil Cidades Sustentáveis.
Outra alternativa seria cobrar por quilômetro rodado, solução adotada em muitas cidades dos Estados Unidos e do Chile. Neste caso, um chip no automóvel calcularia a distância percorrida em rodovias concedidas, enviando a cobrança por boleto. O problema desse modelo é que poderia empurrar motoristas a acessos e estradas menores como a ERS-040, que atravessa Viamão em direção à Cidreira e a Balneário Pinhal, ou a ERS-030, a “Estrada Velha”.
– É preciso pensar em todas as artérias que dão fluxo ao Litoral. Não adianta ter uma via rápida, mas vários acessos às praias ou estradas alternativas em condições ruins. As pessoas vão continuar procurando a freeway – argumenta João Hermes Nogueira Junqueira, da Unisinos.
Concessão será disputada em 2017
A freeway poderá mudar de mãos em julho de 2017, quando termina o atual contrato de concessão e será escolhido, por licitação, um novo controlador. A Triunfo Concepa anunciou que pretende concorrer à renovação. Mas terá a disputa de mais de 20 grupos, que manifestaram interesse junto ao Ministério dos Transportes. O contrato poderá incluir, ainda, o trecho gaúcho da BR-101, uma parte da BR-116 e a BR-386 – com duplicação entre Lajeado e Carazinho.
O modelo que vem pela frente ainda é desconhecido: os grupos estão desenhando o estudo que ajudará a definir tarifa, tempo de concessão e obras necessárias. Um desses levantamentos poderá servir de modelo para a licitação e definir se há necessidade de duplicação da rodovia, construção de faixas alternativas que possam ser usadas em ambos os sentidos durante momentos de maior demanda ou de novas rampas de acesso a cidades.
Thiago Vitorello, diretor da Concepa, avalia ser importante prever uma ampliação no número de faixas, ao prever o fluxo para até 30 anos – a licitação poderia pedir a quarta e a quinta faixas em toda a extensão da rodovia de ambos os lados. Mas essa é uma alternativa controversa. Especialistas em tráfego analisam que qualquer ampliação do número de faixas de rolamento demandaria um investimento muito alto, e a rodovia passaria a maior parte do ano subutilizada.
– Qualquer ampliação na rodovia vai implicar em aumento na tarifa. A questão é se precisamos de mais investimento na freeway enquanto outras rodovias, como e a ERS-040 e ERS-118 há anos não recebem melhorias – compara João Hermes Nogueira Junqueira, da Unisinos.
Luis Antonio Lindau avalia que novas ampliações na freeway apenas empurrariam mais para a frente a necessidade de regular melhor a demanda em períodos de grande procura, como feriados:– Não dá para pensar sempre em ampliar o número de faixas. Se a freeway tivesse o dobro de espaço, o dobro de pessoas pegariam a estrada às 18h e o problema continuaria.