Espremido entre uma loja de artigos para bebê e a entrada de um prédio, na loja 4 do número 2.146 da Avenida Paraguassú, em Capão da Canoa, um dos últimos postos telefônicos do Litoral Norte sobrevive graças aos estrangeiros. O estreito espaço mais parece um corredor: do lado esquerdo de quem entra estão quatro computadores com acesso à internet, do lado direito, seis cabines de madeira com as portas pintadas de branco se perfilam até o final do ambiente.
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Valdir Cardoso Scheffer, proprietário do local, é representante comercial e comprou o espaço há quatro anos para que a mulher, grávida na época, pudesse trabalhar perto de casa e dos filhos.
- Aqui neste local já era um posto telefônico. Comprei ele com tudo dentro. Posteriormente, coloquei os computadores para internet e impressão para complementar o serviço. Muita gente dizia para eu não comprar porque a concorrência com os celulares era certeza de falência. Eu arrisquei e o negócio se pagou nos primeiros dois anos - explica.
No passado, os postos eram a única ponte de comunicação entre quem estava no Litoral e quem ficava na cidade. Com a expansão da internet e dos celulares, viraram artigo em extinção nas areias do Estado. A sobrevivência do posto de Capão tem apenas um motivo: os hermanos.
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- No inverno, o lucro vêm dos computadores. No verão, o que mais me dá dinheiro são as cabines. 70% do meu lucro vêm das ligações internacionais feitas por argentinos e uruguaios. Além deles, os imigrantes do Haiti e Senegal também usam o serviço para se comunicarem com suas famílias - explica o proprietário.
- Nós somos o último posto telefônico do Litoral Norte. Existiam postos em Torres e Tramandaí mas eles fecharam nos últimos
10 anos. Muitos estrangeiros que estão veraneando em outras praias vêm para Capão para utilizar nosso serviço - afirma Maria Luiza Suvay, única funcionária do estabelecimento.
O minuto de uma ligação internacional para Argentina custa R$ 3,50, para o Uruguai, Haiti e Senegal, R$ 3.
Pontos mais comuns no país dos hermanos
Um senhor baixo e careca, com um tablet embaixo do braço, faz a pergunta que é respondida incansavelmente por Valdir durante o dia todo:
- Para llamar a Argentina és 0054?
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Hugo Quiróz é argentino de Monte Caseros, em Corrientes, e está veraneando com a mulher em Capão da Canoa. Mesmo com um tablet nas mãos, afirmou que não comprou um pacote internacional de internet porque achou caro e por isso recorreu ao posto telefônico para matar a saudade da filha e da neta de quatro anos. Após mais dois minutos e meio de ligação, pagou quase R$ 9 e se disse satisfeito com o serviço:
- Busquei um posto desses por toda Capão da Canoa. Ainda bem que achei e pude falar com minhas meninas. Na Argentina, postos como esse são muito comuns. Temos pelo menos um em cada cidade - conta o simpático hermano.
O estudante Mathias Rojas e sua mãe Alba, naturais de Posadas, também buscaram incessantemente um posto para conversar com a avó Alberta.
- Descobrimos o lugar por acaso, passamos na frente nesta semana e aproveitamos para ligar para casa e dar notícias à minha mãe - relata a professora argentina.
Contatadas pela reportagem, as prefeituras de Xangri-lá, Cidreira, Tramandaí, Imbé e Torres afirmam que não existem mais postos telefônicos em seus municípios.