Eu adoro as minhas pernas. Há quem diga que uma grande mulher precisa ter bases fortes. As minhas são perfeitas nesse sentido. O problema é que sou bem branquela. Coincidentemente, minhas pernas também são. Dizem que é genético. Maldita genética. Apesar de ser uma coisa natural, vocês devem saber que parte da sociedade não encara isso com bons olhos.
Outros fatores colaboram para a minha falta de cor. Exemplo: detestar banho de sol. Vamos combinar, não é a coisa mais legal (nem racional) do mundo ficar torrando no calor. Dormir no sol também não dá. Para dormir, é preciso conforto e temperatura agradável. É uma questão de merecimento, sabe? Poxa, trabalho a semana toda, daí, na folga, vou descansar e assar ao mesmo tempo? Nem pensar! Eu quero é sombra e água fresca.
Mas não pense que é só na praia que a brancura incomoda. Dia desses, estava eu na redação de ZH quando o Fraga (renomado cartunista que fez este lindo desenho acima) comentou em tom de deboche:
- Nossa, Isa. Que pernas tão brancas...
Olha, não sou mulher que se deixa abalar com facilidade, mas confesso que dei uma murchada naquela hora. O Fraga é um intelectual, não fala qualquer bobagem. Quando fala, atinge a pessoa. Falei de sexismo, de ditadura da beleza, um punhado de clichês da mulher moderna ofendida... Mas não que tenha adiantado. O Fraga é intelectual mas é meu amigo. Amigos têm essa liberdade pra nos sacanear. É carinho.
Apesar dos pesares, saibam ele e toda a humanidade que jamais me darei por vencida. Faz um calor do cão nesse Estado e não vou colocar calças. Além do mais, as mulheres ralaram muito pra conquistar o direito de usar o que bem entender. Não sou afeita a retrocessos. O Rio Grande que se acostume com o meu par de palmitos debaixo do vestidinho.
Caucasianas que por infelicidade do destino possuem pernas da mesma cor que o resto do corpo, uni-vos! Libertem suas coxas e panturrilhas das amarras sociais e tomem as ruas! Só passem bloqueador, por favor.