Como será ver o mar pela primeira vez? Será como estar diante da Torre Eiffel e pensar que ela parecia maior nos cartões-postais? Ou como estar na Muralha da China e se dar conta de que nada nos preparou para a grandiosidade do momento? Será como olhar a Terra do espaço ou como observar a paisagem desde o topo de uma montanha?
Para quem nasceu a poucas horas da praia, o mar é aquela experiência que se perde no princípio dos tempos, como o rosto da mãe ou a voz do pai. Alguns dos momentos mais intensos de felicidade da minha infância estão associados a brincadeiras na praia - assim como alguns dos maiores sustos também.
O mar ensina desde cedo que ali, onde tudo parece prazer e beleza, há regras e rituais a serem cumpridos. É preciso prestar atenção no vento, olhar a cor da bandeira, perguntar para os adultos se hoje se vai ao fundo ou não e, acima de tudo, conhecer os próprios limites. E mesmo quando fazemos tudo como nos ensinaram, o mar insiste em nos surpreender, em brincar com a nossa confiança. Muito antes de entendermos a lógica nem sempre tão lógica das marés, aprendemos que, na água, deve-se confiar desconfiando. Ou pelo menos foi isso que eu entendi.
Aqueles que conseguem lembrar da experiência de ver o mar pela primeira vez despertam sentimentos conflitantes nos marítimos de primeira hora. Sentimos uma ternura condescendente por quem não foi batizado nas águas marinhas antes da memória das coisas. Nos comovem as histórias de longas jornadas até a beira da praia, silêncios contemplativos, lágrimas de deslumbramento. Por outro lado, sentimos uma certa inveja do neófito capaz de evocar o momento exato em que foi tragado por aquela onda de beleza sem paralelo. Porque só quem vê o mar depois de uma certa idade pode descrever para nós como é vê-lo pela primeira vez. Em um pequeno texto, já clássico, chamado "A Função da Arte", o escritor uruguaio Eduardo Galeano conta a história de um menino que ao chegar perto do mar pela primeira vez fica tão embriagado de paisagem que pede a ajuda do pai: "Me ajuda a olhar!".
Talvez o mais perto que podemos chegar dessa sensação de deslumbramento inicial seja reencenar, com nossos filhos, uma versão revista e remasterizada daquele momento em que fomos levados até a beira da praia pela primeira vez. Como tantas vezes e em tantas circunstâncias diferentes, vamos cobrar dos novos navegantes coragem e cautela, em igual medida, na exploração do novo território. Vamos querer que não se furtem à vertigem do mergulho, que não tenham medo do caldo nem do repuxo traiçoeiro, mas esperamos que saibam se proteger dos humores do mar e da ousadia desnecessária.
Nunca vamos voltar a ver o mar pela primeira vez, mas conduzir uma criança em suas primeiras expedições nesse oceano de sensações inéditas e desafios inesgotáveis pode ser (e é) tão inesquecível quanto.