Por Gustavo Spolidoro, diretor de cinema e professor da PUCRS
As aventuras do diretor de cinema Gustavo Spolidoro nos mais de 20 veraneios passados em Tapes incluíam entrar no Carnaval do clube sem pagar ingresso e outras transgressões adolescentes na companhia da turma do Camping dos Pinheirais da Lagoa.
Tem uma piadinha que diz que após desenhar o litoral de Santa Catarina à perfeição, Deus ficou tão cansado que dormiu e seu braço correu, gerando o traço monótono que é o litoral do RS. Talvez pensando nisso meus pais tenham optado por passar nossas férias sempre na Costa Doce, no caso Tapes e o Camping dos Pinheirais da Lagoa (com alguns pulos na casa da Vó Ignez em Rainha do Mar e em Santa Catarina).
Com cinco anos de idade, eu conheci aquele que se tornaria o meu melhor amigo dos verões pelos próximos 20 anos, o Gladstone Antunes. Foi ele o responsável por muito do que aprendi de bom e do que os meus pais não necessariamente julgavam bom, mas que era bom de qualquer forma. Certa vez, quando as "ondas" da lagoa atingiam alturas de surfe, o Stone desapareceu.
Meu jovem e tenso cérebro era incapaz de raciocinar que era praticamente impossível alguém se afogar naquelas ondas, num lugar calmo, sem repuxo, de águas razoavelmente claras, sem buracos ou qualquer um dos motivos que leva alguém a se afogar no mar.
Desesperado, eu mergulhava e mergulhava. Resolvo sair da água para pedir ajuda e avisar do ocorrido ao Tio Sebas e à Tia Jaci e então dou de cara com o Stone bem sentado na areia, rindo da minha cara. Troquei a notícia triste por uma das deliciosas torradas da Tia Jaci naquelas torradeiras de fogão (só o que utilizo até hoje!).
E assim sempre foi a nossa convivência. Muito mais de risadas do que de preocupações. Dentre outras grandes parcerias, o Stone era o responsável por me mandar relatos (ainda no tempo do telefone fixo) do paradeiro da minha namorada dos verões, a Patrícia Flores da Luz.
Mas a turma do camping e do loteamento Pinvest era grande e crescia mais ainda durante o Carnaval. Íamos em grupos de 20 pessoas ou mais, do camping até o centro pela beira da praia à noite, movidos à base de "porradinha" (no caso, a "famosa" cachaça Ninom com Fanta ou Teem - num período em que era "permitido" encher a cara antes dos 18).
Se o grupo era menor, lotávamos a Marajó dos meus pais ou o Voyage do Tio Sebas e nos largávamos para o Centro (num período em que era "permitido" dirigir com menos de 18).
O Gladstone sempre tinha um plano para tentar entrar no carnaval do Clube Aliança sem pagar - usando o CPF de alguém que já tinha entrado (sem foto!), escalando a lateral do clube pelo cano de água e a mais bem sucedida e genial de todas as suas invasões: sempre após o desfile na avenida, os blocos desfilavam no clube e depois saíam.
Numa dessas, o Stone posiciona-se defronte ao portão do Aliança e, quando abrem-se as portas para a saída do bloco, ele começa a sambar de costas como se também estivesse saindo do clube, porém vai sambando para trás aos poucos, com seus dedos indicadores apontados para cima, até fazer a sua triunfal entrada anual no Clube Aliança!
Patrícia, Stone, Stallone, Brown-cow, Fernando Xexe-K, Iury, Digo, Felipão, Denise, Simone, Dinho, Tali, Neia, eu preencheria os 2 mil caracteres do texto lembrando todos os amigos que tivemos em mais de 20 verões em Tapes. A eles eu dedico estas reminiscências.
Sabe quem é a pessoa à direita na foto? Clique e dê seu palpite! A resposta será publicada na Zero Hora de sexta-feira.
Houve uma vez um verão
A lembrança de todos os amigos em mais de 20 verões em Tapes
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