Entre os motivos que levaram à saída do presidente americano Joe Biden da corrida eleitoral estão questionamentos sobre sua saúde e problemas cognitivos relacionados ao envelhecimento. Com isso, Biden estava sendo pressionado a abandonar a candidatura, sendo que oficializou sua desistência neste domingo (21). Surgiram então discussões sobre etarismo nas redes sociais.
Nos últimos meses, o democrata apresentou confusão mental, cansaço e dificuldade de raciocínio durante debates e pronunciamentos públicos. Um dos argumentos frequentes é de que o presidente estaria muito velho para participar da disputa, ou seja, que não teria vitalidade e saúde o suficiente para um novo mandato.
Pesquisa do jornal The New York Times em parceria com a Siena College apontou que 73% dos eleitores acreditam que Biden é “velho demais para ser um presidente eficaz”. Aos 81 anos, ele foi o presidente mais velho a assumir o cargo no Estados Unidos, em 2021, quando tinha 78.
Etarismo é o preconceito com base na idade do sujeito, também conhecida como idadismo ou ageísmo. Há uma campanha global de combate a essa discriminação, conduzida pela Organização Mundial da Saúde (OMS).
Para a especialista em diversidade etária Fran Winandy, o problema está no discurso etarista, que atribui limitações às capacidades de um indivíduo simplesmente pela sua idade. De acordo com ela, essa narrativa foi potencializada pela imprensa e pelas mídias sociais nos últimos meses. Com isso, é possível, sim, escorregar no preconceito.
— Temos vários modelos de pessoas em cargos relevantes que são velhas, mas que não estão afetadas cognitivamente. Só que é mais fácil dizer que ele está velho demais para seguir na disputa. Esse é um discurso etarista comum que usamos, “fulano está velho demais para tal coisa, está gagá”. Nós misturamos as coisas — explica.
Impacto do estilo de vida
Evidentemente, Joe Biden tem questões de saúde que afetam sua capacidade cognitiva, mas isso não se deve somente à idade, segundo Fran. Ela destaca que diversos fatores contribuem para essa deterioração da saúde, e não o envelhecimento em si, incluindo os hábitos nutridos ao longo da vida – como a prática de exercícios físicos, o fato de ingerir bebidas alcoólicas com frequência ou não, a relação com cigarro, entre outros exemplos. Isso tem relação com a chamada reserva funcional (ou poupança).
— Temos inúmeras formas de envelhecer. Há pessoas que envelhecem com saúde física e mental. Outras com somente uma dessas duas coisas, e outras com nenhuma das duas. Se a pessoa não tem uma poupança de saúde, ela estará mais propensa a ser afetada por doenças crônicas relacionadas ao envelhecimento, como Alzheimer e Parkinson.
É preciso levar em consideração que as gerações mais velhas tinham um estilo de vida menos saudável, muitas vezes. Conforme Fran, o consumo de bebida alcoólica e cigarro era uma forma de autoafirmação comum entre os baby boomers, por exemplo – aqueles que nasceram entre as décadas de 1940 e 1960.
As preocupações sobre a idade de Biden evidenciam tensões sobre o peso da idade na liderança. Após a desistência de Biden, a vice-presidente Kamala Harris, 59 anos, foi indicada para assumir a candidatura democrata na disputa contra o ex-presidente Donald Trump.
Também vêm surgindo reflexões sobre a idade do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que deve concorrer à reeleição em 2026, quando terá a mesma idade que Biden tem hoje.