É cedo para dizer se a desistência de Joe Biden terá impacto na candidatura do presidente Lula à reeleição, em 2026. Hoje, Lula é candidato - e, mesmo que não pensasse em concorrer, não diria para não começar a tomar café frio dois anos antes da eleição. Na eleição de 2026 Lula terá a mesma idade que Biden tem hoje. Isso não o impede de ser candidato, até porque ser octogenário não é sinônimo de incapaz. Mas é indiscutível que a idade pesa, principalmente se do outro lado estiver um candidato de raciocínio mais rápido.
Biden desistiu porque foi forçado pelos democratas e, principalmente, pelos financiadores de campanha. Resistiu até se dar conta de que a história não lembraria dele por ter feito um governo de bons resultados, mas por ter insistido em concorrer sem condições de enfrentar um candidato com o perfil de Donald Trump. No Brasil, tudo vai depender como estiver a saúde física e mental de Lula. Hoje, o presidente apavora seus aliados mais próximos quando resolve improvisar e acaba dizendo bobagem, o que tem acontecido com relativa frequência.
O PT não vai fazer o que os democratas fizeram. Primeiro, porque Lula não é tratado pelo partido como um homem comum, sujeito a cometer erros, mas como uma entidade. Segundo, porque o Brasil não tem mais a figura dos grandes financiadores de campanha: hoje, o dinheiro vem do fundo eleitoral, e as doações de pessoas físicas, as únicas autorizadas, são irrelevantes.
Em 2026, caberá ao próprio Lula avaliar se tem condições de disputar a eleição ou se é mais prudente apoiar alguém de sua confiança para enfrentar o candidato da direita, seja o governador Tarcísio Gomes de Freitas, seja o deputado Eduardo Bolsonaro, considerando-se que Jair Bolsonaro está inelegível e dificilmente sua situação será revertida.
Biden declarou apoio à vice Kamala Harris, que nas pesquisas aparece como uma candidata competitiva para enfrentar Trump - ainda que não indique uma eleição fácil. O vice de Lula é o ex-governador Geraldo Alckmin, que fez carreira como tucano e, por conveniência, está no PSB. O mais provável, se Lula não for candidato, é que o PT indique outro nome. Se fosse hoje, seria o ministro da Fazenda, Fernando Haddad. Como estará Haddad daqui a dois anos depende dos resultados que ele conseguir entregar na economia. Os outros nomes disponíveis no PT são fracos, o que pode reforçar a disposição de Lula de ser ele novamente o candidato.