O arcebispo metropolitano de Porto Alegre, Dom Jaime Spengler, avaliou, nesta segunda-feira (25), dia de Natal, em entrevista ao Gaúcha Atualidade, que setores da sociedade vivem um momento de moralismo exagerado. Na avaliação de Dom Jaime, parte dos ambientes religiosos está sendo impactada por esse moralismo que provoca exclusão de grupos sociais.
— Em alguns ambientes religiosos, também entre nós católicos, estamos sofrendo as consequências de um moralismo exacerbado. A moral é importante, faz parte do convívio social, e marca uma ou outra tradição religiosa de uma forma característica. Agora, não podemos cair em moralismos exacerbados que não levam a nada, excluem. Quando lemos o Evangelho, todo o esforço de Jesus é de acolher, incluir a todos — respondeu Dom Jaime, ao ser questionado sobre regras potencialmente excludentes da Igreja Católica.
O arcebispo, que também é presidente da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), valorizou a decisão recente do Vaticano de permitir que padres concedam bênçãos a casais homoafetivos.
— Quando tocamos nestas situações delicadas, de casais de segunda, terceira, quarta união, e também de casais homoafetivos, faço uma pergunta muito simples: são pessoas? Se são pessoas, merecem o nosso respeito também. E quando se aproximam pedindo uma benção, imagino que buscam também uma palavra de conforto, de esperança, de fazer frente à própria situação que vivem. Não podemos negar. Mas também não podemos compactuar com comportamentos que vão contra o que são valores fundamentais: o respeito pelo outro, pelo próprio corpo, pela individualidade — disse Dom Jaime.
Dom Jaime Spengler destacou o cuidado com a democracia e com a segurança pública como debates fundamentais para 2024:
— Creio que a questão da democracia entre nós precisa ser aprofundada. Existe uma crise da democracia que atinge vários países do mundo e também a nossa realidade nacional. Na nossa realidade local, a (questão é a) segurança, por incrível que pareça. Temos comunidades nos arredores de Porto Alegre onde não podemos fazer uma celebração religiosa depois das 18h. É impossível. Há controle, toque de recolher, milícias.
O presidente da CNBB também defendeu que haja uma mudança de mentalidade em relação ao cuidado com o meio ambiente, diante do que avalia ser um pedido de ajuda do planeta Terra.
— Eu tenho 60 anos, e nas nossas regiões nunca tinha ouvido falar em ciclones, tufões. Cidades completamente destruídas. Recentemente estive em Manaus, e me chamou atenção: o Rio Amazonas secou. Os extremos. E junto com isso, na cidade, os olhos ardiam, em Manaus, tamanha a quantidade de fumaça. A verdade é que o planeta está pedindo socorro. O planeta está pedindo ajuda.