A separação conjugal nem sempre é algo fácil, pelo contrário, pode ser traumática para os envolvidos. Quando aquele, agora, ex-casal tem filhos, a situação se torna ainda mais delicada. Em alguns casos, as brigas de ex-parceiros se configuram em alienação parental.
A legislação define alienação parental como interferência na formação psicológica da criança ou adolescente por um dos pais ou outro responsável contra um dos genitores. As penalidades vão de advertência ao compartilhamento da guarda ou a sua inversão.
O que é alienação parental?
A alienação parental, segundo explica a psicóloga Valéria de Oliveira Thiers, professora de Psicologia da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS), é quando a mãe ou o pai falam tão mal do ex-companheiro na frente da criança que acaba destruindo a imagem que o filho tem do progenitor ou progenitora.
— Alienação parental é quando um dos pais ataca diretamente a figura do outro perante os filhos, e isso vai destruindo a figura daquele pai ou daquela mãe para as crianças. Como os filhos vão desenvolver um apego seguro com aquele pai ou aquela mãe que está sendo mal falado se escuta o tempo inteiro que a pessoa é ruim, que é má? — questiona.
O psicólogo Leonardo Garavelo, professor de Psicologia da Universidade La Salle e especialista em terapia familiar e conjugal, afirma que é importante a pessoa avaliar se não está sendo injusta na forma como trata o ex-parceiro, independentemente dos motivos que teve para se separar.
— Geralmente, a alienação parental está relacionada ao orgulho, ao ciúme, à possessividade, até mesmo à ganância. O sujeito acaba usando o filho para atingir o ex-companheiro. Mas que tipos de afetos escolhemos para nossas vidas? — reflete.
Alienação parental afeta saúde mental das crianças
Brigas e agressões verbais têm impacto direto na saúde emocional dos filhos, mesmo que não sejam eles os alvos dessas agressões.
— Isso traz danos seríssimos para a criança e o adolescente, porque eles são frutos desse amor. Inconscientemente, as crianças acabam tomando para si essa violência, como se fossem elas as responsáveis por essas agressões — alerta o psicólogo Leonardo Garavelo, professor de Psicologia da Universidade La Salle e especialista em terapia familiar e conjugal.
Ao crescer debaixo do fogo cruzado dos ataques promovidos pelos pais, a criança acaba tendo dificuldade de estabelecer vínculos afetivos seguros e saudáveis com as demais pessoas. Segundo Garavelo, a tendência é de que, ao se tornar adulta, reproduza esse padrão de relacionamento conturbado que foi aprendido dentro de casa:
— A criança perde o chão, a base. Acaba tendo um psicológico mais frágil, torna-se irritável, usando da raiva e da violência, e terá baixa tolerância à frustração. Futuramente, vai se tornar um adulto que vai buscar relações inspiradas na do pai e da mãe, na do avô com a avó. Esse tipo de relação afetiva baseada na violência costuma ser reproduzida de geração a geração.
Alienação parental é caso de Justiça
Casos de ex-companheiros que vivem em desavença e expõem essas rusgas nas redes sociais são mais comuns do que se imagina, garante a advogada da família Michele Rosendo. Isso pode ser entendido como difamação e parar na Justiça, gerando dano cível.
— Não acontece só com celebridades. É algo muito comum, porque as pessoas querem destruir a imagem do ex-cônjuge perante a família e os amigos. O que vai caracterizar um dano é a particularidade de cada situação. Há casos de ex-parceiros que mentem sobre o outro nas redes sociais e difamam, mas também há casos de mulheres que vão às redes sociais, sem citar o nome do ex-marido, para compartilhar a dor da decepção. Nesse caso, o viés é de compartilhar a dor e não haverá direito à indenização — pondera.
Em situações mais graves de alienação parental, o genitor que constantemente desqualifica o ex-parceiro para o filho, inclusive adotando medidas para impedi-los de conviver, pode até perder a guarda da criança.
— Conforme a gravidade da alienação parental, as penalidades vão se agravando. Pode ter desde aplicação de multa, que é mais leve, até perda da guarda da criança. Mas é um processo desgastante, porque as crianças terão de ser ouvidas por psicólogos e até pelo juiz. É um abalo emocional muito grande para a família — diz.
Definição de regras em conjunto
Um dos pontos de maior conflito entre ex-casais tem a ver com as regras que cada um vai adotar quando estiver com o filho. Enquanto a mãe pode não querer que a criança use o celular, por exemplo, o pai pode entender que não há problema em apresentar o pequeno à tecnologia.
Pelo bem do filho, é necessário que os dois sentem, conversem e cheguem a um acordo.
— Os valores e as regras precisam ser combinados. Se a mãe diz que não pode usar o tablet e o pai vai lá e libera o tablet, a criança entende que não há uma norma, uma lei. E essa norma é fundamental para a constituição do psiquismo da criança. O próprio Freud falava que, para o indivíduo ser introduzido na cultura de uma sociedade, ele precisa entender que existem leis e regras, que existem combinações que vão ajudá-lo a viver nessa sociedade — explica o psicólogo Leonardo Garavelo.
Pode ser difícil manter uma boa relação com o ex-parceiro ou ex-parceira, mas é necessário baixar as armas em nome da criação dos filhos, frisa a psicóloga Valéria de Oliveira Thiers. Até porque os casais podem se separar, mas permanecerão ligados para sempre, justamente por causa das crianças.
— Às vezes, não é possível ser amigo do ex, mesmo que a pessoa queira, mas ela precisa entender que o ex ou a ex seguirá fazendo parte da sua vida, porque é pai ou mãe de seus filhos. Não existe ex-pai nem ex-mãe. Eles podem manter uma relação de distância, mas precisa ser uma relação de respeito em relação aos filhos — reforça.