Arnaldo José da Costa Filho, 101 anos, não faz rodeios ao citar os motivos que o levaram a passar de um século de vida:
— Nunca tomei um gole de álcool, nem botei um cigarro na boca. Sempre fiz bastante esporte, me alimentei de forma saudável. Também nunca fui homem de noitada — diz o médico aposentado.
Arnaldo mora no bairro Ipanema, na zona sul de Porto Alegre, é um das 1.365 pessoas do Estado acima dos cem anos, segundo o Censo Demográfico 2022. O grupo cresceu 47% na comparação com a pesquisa anterior, de 2010. Arnaldo foi médico do Renner, o time vencedor do Campeonato Gaúcho de 1954 e é conhecido por ser o primeiro especializado em medicina esportiva no Estado.
Ele trabalhou até os 92 anos e assegura que parou porque “a memória começou a falhar”. Hoje tem a assistência de uma cuidadora. O médico aposentado relata que busca manter uma rotina de atividades físicas e intelectuais.
— Sou assinante de Zero Hora, leio as notícias, faço as cruzadinhas todos os dias. Vejo televisão, não perco um jogo de futebol. Faço 15 minutos de exercício por dia no pedalador — resume o dia a dia em casa, que inclui alimentação balanceada, o mesmo cuidado que tinha na juventude.
E como chegar aos cem anos? A pergunta é respondida com base na experiência médica e também de alguém que faz parte do grupo dos centenários.
— Em primeiro lugar: não fumar e não beber, isso é fundamental. Procurar sempre fazer uma atividade física e cuidar para ter uma alimentação sadia. E, sobretudo, repouso: gente que passa a noite inteira dançando e pulando não vai até cem anos.
O que explica o crescimento
Virgilio Olsen, professor da Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre (UFCSPA) e chefe do Serviço de Geriatria da Santa Casa de Porto Alegre, diz que o crescimento das pessoas com mais de cem anos é reflexo de avanços da Medicina no século passado. A partir da década de 1960, por exemplo, a queda da mortalidade infantil e o acesso a vacinas no país contribuíram para que o brasileiro vivesse mais:
— Começamos a ter tratamento para doenças que não tínhamos. As pessoas começaram a reconhecer pressão alta, diabetes, conseguiram conviver com condições crônicas de saúde, foram desenvolvidos tratamentos de câncer. Começamos a entender quais são os hábitos de vida que fazem com que a gente viva mais e melhor — afirma.
Ele cita outros fatores que influenciaram no envelhecimento da população: saneamento básico nos municípios, o que reduz doenças infectocontagiosas e mesmo a disseminação da importância de manter uma rotina de exercícios e alimentação saudável. Olsen resume os quatro pilares que levam à longevidade:
— O primeiro é cuidar da saúde; o segundo é estar atento às questões cognitivas, seguir aprendendo ao longo da vida. O terceiro é a participação social: continuar engajado com questões da comunidade, da família. O último pilar é o de segurança social, conseguirmos andar na rua sem ser assaltado, por exemplo, e também ter uma reserva financeira para viver.
João Senger, geriatra e diretor do Instituto Moriguchi, diz que o aumento das populações idosas é uma tendência verificada em todo o mundo, o que, por consequência, incrementa o grupo dos que vivem mais de cem anos.
— Os gráficos que mostram o aumento de centenários na Suécia, no Japão e na Holanda parecem foguetes: é uma coisa astronômica o que vem aumentando o número de centenários em todo o mundo. Isso, claro, tem a ver com todo o envelhecimento da população, que está relacionado com os progressos na Medicina, das novas medicações e ao estilo de vida.
Este último, para Senger, têm mais peso no cenário do aumento de centenários do que os outros fatores: o autocuidado é o que tem papel decisivo para fazer uma pessoa viver mais do que a média, pois o “estilo de vida pesa mais do que tecnologia e dinheiro”:
— Os centenários, em geral, são pessoas que tiveram uma vida saudável, nunca fumaram, não exageram na bebida, não foram obesos e que sempre fizeram alguma atividade física. Além disso, tiveram a felicidade de não terem doenças genéticas, como diabetes, pressão alta e colesterol — explica o estudioso.