Mudanças nos hábitos de vida e longevidade transformaram a terceira idade, que mudou ao longo do tempo. Não se envelhece mais como em outros contextos — práticas saudáveis permitem romper a barreira dos 60 anos com um corpo mais em forma e funcional. Mas, no rosto, não há como disfarçar o envelhecimento: a idade aparece, mesmo com rotina de alimentação balanceada e exercícios. Até onde ir nas intervenções cirúrgicas para manter um conjunto harmonioso e condizente com a idade e o que esperar de procedimentos estéticos nessa faixa etária?
Cirurgião plástico e professor da Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre (UFCSPA), Denis Valente avalia que "vovôs e vovós garotões", muitas vezes, ostentam condições clínicas melhores do que pacientes jovens. A idade cronológica, por si só, não é tão limitadora para uma cirurgia quanto o estado geral de saúde. Os exames de uma pessoa acima dos 70 anos podem estar muito melhores do que os de outra entre os 30 e os 40 anos.
— Acabei de fazer rejuvenescimento facial em um paciente de 74 anos que pratica natação quatro vezes por semana, tem perfil atlético e exames quase iguais aos meus, e tenho 47 — exemplifica Valente.
Intervenções no rosto são muito procuradas por essa fatia de público. Com o passar dos anos, perde-se gordura no centro da face. Pele, tecidos musculares e de gordura vão migrando para o centro e para baixo — ou seja, o rosto vai caindo e vindo para o meio. Procedimentos mais leves, como uso de fios e preenchedores, não resolvem mais a partir de certo ponto, quando se recorre à cirurgia plástica.
— Aumentou muito a demanda pelo rejuvenescimento no pós-pandemia. As técnicas evoluíram muito. Antigamente, o pessoal tinha medo, era basicamente cortar e espichar. Os conceitos mudaram nos últimos 15, 20 anos. Antes se operava para rejuvenescer muito. Atualmente, nos preocupamos também com a volumetria facial. Tiramos gordura sobrando no pescoço e colocamos nas maçãs do rosto, por exemplo. Nosso foco tem sido em cirurgias que parecem que não foram feitas e com recuperação rápida — relata o cirurgião.
A demanda é dos próprios pacientes: homens e mulheres já chegam aos consultórios pedindo um aspecto de naturalidade. As técnicas atuais obtêm resultados bem diferentes de outras mais antigas, que horizontalizavam a boca, deixando-a repuxada.
— Não temos mais intenção de fazer a mulher parecer 20, 30 anos mais jovem. Queremos que pareça que ela está envelhecendo de uma maneira saudável. As pessoas não têm mais vergonha de envelhecer como tinham antes. "Quero que mostre que tenho a minha idade, mas que estou bem para a minha idade", dizem. A idade deixou de ser um problema. Chega a ser um fator de vitória — comenta Valente.
Naturalidade, segurança e recuperação rápida
Para Paulo Roberto Becker Amaral, cirurgião plástico do Hospital Moinhos de Vento e preceptor do Serviço de Cirurgia Plástica da Santa Casa, em Porto Alegre, são três os pilares para um bom procedimento, principalmente depois dos 60 anos: naturalidade, segurança e recuperação rápida. Diante da solicitação do paciente, o médico deve, quando necessário, manifestar-se contrário à realização do desejo se julgá-lo inadequado.
— Aprender a dizer "não" é muito importante. Somos procurados por uma indicação subjetiva, a solicitação da pessoa para melhorar isso ou aquilo. Ao técnico, cabe avaliar, fazer um diagnóstico correto em todo sentido, não apenas anatômico, mas também emocional. Às vezes, o que a paciente sonha não é compatível com a realidade dela, como um rosto superjovem em um corpo que não é mais tão jovem nem tem um andar tão jovem. Isso é conversado. Acontece de dizer "não, não faça", "não é o momento, volte no ano que vem" ou "espere dois, três anos" — fala Amaral.
Valente destaca a singularidade dos resultados em cirurgia plástica, que não são mensuráveis como os de condutas adotadas por outras especialidades médicas:
— A cirurgia plástica lida com resultados intangíveis. Não tenho como fazer um seguimento dos meus resultados como se tratasse um câncer. O rejuvenescimento facial é totalmente dependente do que a pessoa vai pensar da cirurgia. Temos sempre que adequar expectativas. Uma paciente de 80 anos que fica parecendo ter 60 já teve um lucro absurdo.
Ao decidir se submeter a uma intervenção, é importante refletir sobre o alcance desse procedimento, para além do resultado que será conferido no espelho.
— Temos relatos de pacientes que fizeram cirurgias e a autoestima melhorou muito, mas nunca um milagre, isso não existe. Não há cirurgia que entregue a resolução de todos os problemas e tristezas da vida. A anatomia tem bastante a ver com a emoção, mas não é a única responsável. Se a forma perfeita, a beleza, fosse tão importante assim para as pessoas, não teria pessoa bonita infeliz. Todos os bonitos seriam felizes. Existe limitação. Um dos maiores cuidados que o cirurgião deve ter no pré-operatório é ver se a pessoa não está com expectativas irreais — acrescenta Amaral.
"Agora tenho a idade que quero ter"
Superativa, Rosemari Lerch, 73 anos, exercita-se diariamente. Caminha, pedala, faz musculação, ioga e alongamento. Conta que aprendeu a cuidar do corpo aos 40 anos.
— Nós dois interagimos muito bem — descreve a psicóloga.
Todo esse investimento, entretanto, não se refletia apenas em aprovação quando se olhava no espelho. Rosemari sempre se achou bonita, mas o aspecto do rosto e do pescoço a desagradavam.
Em agosto, ela se submeteu a um rejuvenescimento facial, procedimento que incluiu o pescoço. Tecidos da face e do pescoço se comportam de modo semelhante, com flacidez e perda de elasticidade da pele, explica o cirurgião plástico Paulo Roberto Becker Amaral. A satisfação de Rosemari com o resultado é completa.
— Foi como se eu entrasse no túnel do tempo e saísse de lá com 30 anos a menos. Agora tenho a idade que quero ter — conta a paciente.
Ela não se incomoda com o número que representa sua idade:
— Para mim, é importante a idade espiritual. Me sinto recomeçando com autoconsciência. Há 30 anos, não me olhava como me olho agora.
Procedimentos mais procurados
Entre os desejos mais buscados no consultório de cirurgiões plásticos por pacientes da terceira idade, está o rejuvenescimento facial — de mulheres e homens. Com o envelhecimento, a pele se torna mais flácida e as formas se modificam, como se houvesse um escoamento dos tecidos moles sobre a estrutura óssea. O trabalho do especialista é reposicionar esses tecidos, com técnicas que variam conforme cada caso. O rejuvenescimento não é solução definitiva, como pontua Denis Valente, que faz uma comparação:
— Vamos atrasar a hora, mas o relógio vai continuar indo para a frente. Cerca de 10 anos depois (da cirurgia), você terá alterações que podem ser corrigidas com nova intervenção. O fenômeno do envelhecimento não parou, ele seguiu à medida em que o tempo foi andando.
A cirurgia de pálpebra é outra bastante solicitada. Nesses casos, costuma haver uma mistura entre as questões estética e funcional: além de a imagem desagradar, há dificuldade para ler e se maquiar. Cirurgias corporais como elevação de mama e abdominoplastia também têm grande procura.
— Tem muita paciente que, nessa faixa etária, consegue ter condições de pagar, acaba tendo apoio familiar ou vê que os procedimentos estão mais simples e acessíveis. Também não é infrequente atender viúvas cujos maridos não deixaram elas fazerem a cirurgia antes — comenta Valente.
Ainda em relação às mamas, outra intervenção bem solicitada é a de retirada de próteses de silicone, o chamado explante.
— O ideal de beleza mudou de várias formas. As mulheres de mais de 60 anos procuram mais o explante do que a colocação de prótese. Por questões hormonais ou não, por aumento de peso, elas já não querem mais as mamas tão grandes e retiram próteses que foram colocadas até 20 anos atrás, e então fazem a modelagem da mama com o tecido próprio da paciente — explica Amaral.