Ainda que tenha sido lançada em 2006, a plataforma de jogos Roblox é uma das mais populares entre o público infantojuvenil na atualidade. O nome provavelmente já foi ouvido em mais de uma ocasião por pais de crianças, que se familiarizam cada vez mais com a plataforma. O ambiente online chega até mesmo a ser liberado em algumas escolas no contraturno ou em aulas de informática. Contudo, a alta frequência de uso pelos pequenos também é motivo de preocupação dos responsáveis e exige cuidados para evitar vícios e garantir a segurança das crianças no mundo digital.
O Roblox traz centenas de jogos de todos os tipos — inclusive games e tendências de mercado —, como terror, aventura, culinária, moda, simulação de vida, entre outros. Porém, nem todos são gratuitos. A plataforma é organizada de maneira similar a outras, como o Minecraft. O grande diferencial do game é a abertura a vários módulos — permitindo que, além de jogar, as pessoas produzam seus próprios jogos para a plataforma, conforme Lucas Goulart, pós-doutorando em Comunicação pela Universidade Paulista (Unip) e especialista em games:
— É uma coisa que era bastante comum na década de 1980, 1990, ter jogos que promoviam essa produção própria, e o Roblox volta um pouco nessa característica de ter simplicidade de produção e aceitar que produzam jogos e comercializem suas produções.
A plataforma traz ainda a questão contemporânea dos “mods” — modificações que podem ser feitas nos jogos. O artifício tem se tornado cada vez mais popular, auxiliando na produção e na possibilidade de rentabilidade dos mods. Além disso, o Roblox permite que os jogadores comprem e vendam itens e roupas.
— Enquanto há uma discussão se mods pagos são ou não éticos do ponto de vista de produção da comunidade, o Roblox meio que resolve isso colocando que é ok vender na própria plataforma deles — explica.
O especialista avalia que o jogo se tornou uma febre em uma idade específica, que abrange a infância e o início da adolescência. Ele elenca diferentes fatores para a popularização do game: um estilo de jogo mais flexível e mais simples; os gráficos, voltados ao público infantil; a abertura para outras produções; a diversidade de conteúdos; bem como a facilidade de gameplays por youtubers, aos quais as crianças são próximas.
Alertas aos pais
Ainda que o Roblox também seja utilizado positivamente, como na introdução de conhecimentos de programação a crianças e adolescentes, especialistas indicam a necessidade de ter cautela. Cada jogo possui diretrizes de idade, que funcionam como indicações aos usuários. Por isso, recomenda-se que os pais estejam junto no momento em que as crianças acessam os módulos.
Além disso, não é possível estipular um tempo de uso dentro da plataforma. Contudo, os responsáveis podem fazê-lo por meio das configurações dos próprios dispositivos. Há ainda outras questões às quais os pais devem estar atentos: as crianças podem interagir com outras pessoas pela plataforma, via chat, emojis e comunicação gestual dos avatares.
Gestor da escola de programação Código Kid Porto Alegre, que oferece um curso de Roblox Studio, Eduardo Magalhães reforça que, assim como em qualquer outra interação social, é preciso ter cuidado. Os pais precisam conversar sobre segurança digital e ajustar as configurações do game, adicionando as camadas de proteção que forem mais convenientes conforme a idade. Também é possível limitar o chat, removendo-o completamente ou restringindo-o a amigos.
Porém, Magalhães pondera que o game também pode ser uma solução em algumas ocasiões em que os pais estão ocupados, permitindo que os filhos joguem e interajam com amigos.
— O problema não é essa interação, e sim o tempo que ele fica — afirma.
No mesmo sentido, a psicóloga e psicanalista Maria Cecília Pereira alerta que os games podem tornar os jovens adictos, ou seja, viciar. Por isso, é preciso estar atento ao tempo que ficam diante dos jogos e das telas — tanto os pais quanto cuidadores, escolas e educadores. O mais importante deve ser observar se o jovem está preferindo os jogos online a outras interações:
— A questão é quando a vida da criança gira só em torno dos jogos online. Aí, sim, os pais devem estar muito atentos, tomar cuidados e se preocuparem.
Os adolescentes costumam enfrentar dificuldades de socialização e com o próprio corpo e identidade, conforme a psicóloga. Assim, mesmo que eles se divirtam nos jogos compartilhados e interajam com amigos, às vezes, também se escondem de questões como grupos de pertencimento e encontros entre os jovens.
Além disso, os pais devem ter precaução ao liberar jogos online para crianças. É importante verificar a qualidade dos games, se eles são violentos ou construtivos e se geram adrenalina, disputa ou ansiedade.
— E, também, lógico que tem de ser monitorado. A gente não pode deixar os jovens, as crianças e os adolescentes, diante das telas e dos jogos sem saber o que eles estão fazendo. É fundamental poder ver o tipo de entretenimento que eles estão buscando — ressalta.
A psicanalista enfatiza a importância de apresentar outras brincadeiras aos filhos fora do mundo virtual, como jogos de tabuleiros ou bola, ou brincar em um parque, de modo que não utilizem apenas a tela para diversão. O objetivo deve ser realizar atividades que possam movimentar e aumentar a interação — além de lidar com as frustrações, já que é diferente perder em um jogo quando se está cara a cara com o oponente.
Maria Cecília incentiva ainda os pais a participarem em games no mundo virtual — e, de forma alguma, deixar as crianças jogar com estranhos.
— (É) muito perigoso. As crianças não sabem se defender, ainda não têm capacidade crítica de discriminação. E a gente tem visto muitas situações de riscos que as crianças correm nos jogos. Com certeza, no caso das crianças, é mais risco de adição e de assédio ou abuso — aponta.