Mais um jogo virtual acende o alerta nos pais sobre o impacto que pode gerar no comportamento das crianças. Poppy Playtime é um game de terror, disponível para computador e celular. Embora seja destinado a adultos, seu personagem, o Huggy Wuggy, virou ursinho de pelúcia comercializado na internet. A questão é que não é nada fofinho: aparece em vídeos falando sobre "dar o último suspiro" e "abraçar até matar".
Em alguns países, há relatos de crianças traumatizadas com os sustos provocados por Huggy Wuggy e suas falas aterrorizantes. Por aqui, algumas escolas estão chamando a atenção dos familiares sobre o perigo de deixar os pequenos sozinhos diante das telas, já que podem acessar conteúdos inapropriados, como o jogo em questão e outros considerados brutais.
Na avaliação de especialistas ouvidos por GZH, já não há mais como evitar: a infância atual está marcada pelas tecnologias digitais e a pandemia enalteceu isso. Nesse cenário, é importante que pais e responsáveis monitorem como os filhos estão passando o tempo na internet.
Segundo a psicóloga Carolina Lisboa, da Pós-Graduação em Psicologia da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS), o receio de que os jogos tenham efeito negativo nas crianças é um dilema frequente no consultório. Na avaliação dela, alterações de personalidade são decorrentes de causas variadas, e não somente uma, como um game violento.
Portanto, é a forma como as crianças vão se engajar nesses jogos que vai determinar se terão um comportamento agressivo ou não.
— Alguns estudos já apontaram que os jogos, em si, não são um risco. É como a criança se engaja com a tecnologia que vai determinar o risco. Se a criança e o adolescente usam como lazer, é provável que haja alívio nas angústias, alívio da ansiedade — diz ela.
No entanto, observa a psicóloga, ao usar expressões como "dar o último suspiro", o boneco Huggy Wuggy passa a mensagem de banalização da vida, fazendo uma inversão de valores e soando até como estímulo ao suicídio. Cabe aos pais decidirem se desejam que as crianças tenham acesso a esse tipo de conteúdo.
— Os pais têm que se perguntar quais valores querem passar para o filho. Se não querem que o filho jogue, tem que explicar o por quê, dizer que é importante valorizar a vida, valorizar comportamentos não agressivos. Já um outro pai pode pensar: "não vou impedir meu filho de jogar em casa, porque ele vai jogar com os colegas na escola". Então é importante que esses pais fiquem atentos e conversem para fomentar a reflexão, para fazer a criança pensar — sugere.
Para a psicóloga Juliana Carmona Predebon, professora de Psicologia da Uniritter, o risco desse tipo de jogo ser destrutivo para as crianças é real e precisa ser considerado, já que os pequenos ainda estão em fase de formação, absorvendo cada informação e estímulo.
— Claro que um game não é a única variável, mas pode afetar as crianças. Elas podem sofrer terrores noturnos, apresentar medo de dormirem sozinhas, além de sofrerem de falta de concentração, choro, agressividade, alterações comportamentais, inclusive alteração no padrão alimentar — cita.— Mas proibir aguça a curiosidade. Os pais têm que ter diálogo aberto, acompanhar.
Professor na área de segurança cibernética da Unisinos, Leonardo Lemos observa que jogos virtuais costumam oferecer espaço para bate-papo entre os usuários, lugares muito atraentes para pedófilos. Esses criminosos, inclusive, podem se passar por crianças e adolescentes como forma de estabelecer uma conexão com suas vítimas.
Diante desse perigo, é importante que os pais fiquem por perto enquanto os filhos usam a internet. Uma sugestão é convidar a criança para jogar na sala ou na cozinha, sob os olhares dos adultos, em vez de permitir que fique trancada no quarto.
— Estar ao lado não significa necessariamente estar ao lado, mas estar presente. Deixa a criança por perto para jogar, e não no quartinho, com a porta fechada. Além disso, os pais precisam falar com a criança, orientar, para que quando não estiverem presentes, essa orientação ressoe — diz Lemos.
Se o diálogo não for suficiente ou ainda não passar a segurança que os pais necessitam, Lemos lembra que é possível recorrer a ferramentas digitais para determinar o que as crianças vão fazer na internet. Mecanismos de controle parental já estão disponíveis em alguns sistemas operacionais ou podem até mesmo ser baixados no celular. Com o software instalado, os pequenos só poderão acessar o que os pais permitirem.