A passagem da Estado Maior da Restinga pelo Complexo Cultural do Porto Seco, no próximo desfile, marcará a despedida de Viviane Rodrigues do posto de madrinha de bateria da escola. Hoje, aos 46 anos, Vivi tem um novo objetivo para o Carnaval de Porto Alegre, principalmente para a sua escola, que é passar conhecimento carnavalesco para as próximas gerações.
– O trabalho que eu quero organizar é com as crianças. Temos muitas crianças na oficina da bateria, por exemplo, mas não temos uma escola para formar meninas passistas, madrinhas e rainhas. Quero trabalhar o social, trazendo estas crianças para dar continuidade ao legado da escola – explica Vivi, que entrou pela primeira vez no barracão da Tinga aos sete anos de idade.
Aos 16 anos, Vivi conquistou o título de Rainha do Carnaval da Capital. De lá para hoje, são 30 anos desfilando, sendo a maior parte desse tempo como madrinha de bateria da Tinga.
Não está sendo uma tarefa fácil abrir mão do posto na escola que tanto se orgulha em representar. No ano passado, a madrinha havia adiantado para a reportagem que a trajetória estava chegando ao fim. Nos ensaios para o desfile de 2023, ela conta que tem revivido momentos marcantes e que precisou de tempo para trabalhar a ideia da despedida.
– A cada ensaio é como um filme que passa de tudo que vivi. Desde quando eu cheguei aqui nessa quadra. A primeira vez que eu vi a Restinga na Avenida, falei “Essa é minha escola”, sem saber que um dia eu seria a rainha da escola e do Carnaval de Porto Alegre. São lembranças lindas, mas, ao mesmo tempo, será um desprendimento que eu tive que trabalhar ao longo dos meses, porque é uma ligação muito forte – detalha.
Fortalecimento
Empresária no ramo comercial, casada e mãe, Vivi também é conselheira da escola. Para ela, a renovação faz parte e é importante para o Carnaval:
– O nosso Carnaval vai voltar a crescer. Mas precisamos fortalecer nossas raízes e, para fazer isso, o trabalho tem que começar dentro da escola, para que a cultura, a festa linda que todo mundo vê, continue a existir.
Depois dos desfiles, Vivi iniciará a organização do projeto na agremiação e prevê que até a metade do ano a iniciativa de envolver as crianças comece a ser colocada em prática.
– Muitas vezes, as pessoas olham somente o externo, a beleza, mas por trás de toda essa montagem (da madrinha) existe um fundamento. Saber o que é representar a bateria, como é importante o papel de conduzir junto com o mestre. É isso que quero passar para outras meninas: o preparo, o caminho para chegar lá. E também ajudar na diretoria da escola – explica.
Orgulho da trajetória e sucesso até na Globo
Além de brilhar na Avenida e ser uma das mais conhecidas madrinhas de bateria da Capital, Vivi ganhou visibilidade nacional. Em 2012, a gaúcha esteve à frente da bateria da Acadêmicos do Tatuapé, de São Paulo, e em 2013, participou do concurso Musa do Carnaval, do Caldeirão do Huck. Ficou entre as quatro finalistas. À época, ela se sentiu grata por levar a bandeira do RS e por ter representado o Carnaval gaúcho.
Essa bagagem de como sambar e conduzir a bateria e, principalmente, amar e respeitar o Carnaval, é o que deseja ensinar.
– É sobre trilhar uma caminhada séria, para chegar onde tu quer, com respeito ao segmento – afirma.
Para fechar o ciclo, ela prepara uma fantasia para o enredo que homenageia Anastácia:
– Será uma fantasia linda, em homenagem às mulheres guerreiras da comunidade, vitoriosas que vão em busca do seu sustento e têm tudo a ver com o enredo. Vai ser emocionante.