A pandemia de covid-19 modificou os planos da comemoração dos 20 anos do WimBelemDon, um projeto social que utiliza a prática do tênis para a inclusão à sociedade de jovens em situação de vulnerabilidade social do extremo-sul de Porto Alegre.
A ideia era celebrar as duas décadas de funcionamento em outubro de 2020, mas o planejamento foi alterado no início daquele ano, quando o projeto teve de fechar as portas devido às restrições sanitárias de combate ao coronavírus. No ano seguinte, uma celebração maior foi possível, mas ainda com cuidados e máscaras para evitar a contaminação pela doença.
Agora, ao completar 22 anos, o cenário permite uma comemoração sem restrições. As atividades deste mês incluem a exposição “WimBelemDon, uma história de sonhos, educação, perseverança e transformação social”, que ocorre até o próximo dia 31 no Barra Shopping Sul, na zona sul da Capital. A mostra pode ser visitada na Saída F, é gratuita e está aberta ao público no mesmo horário de funcionamento do shopping.
No local, o visitante conhecerá a história do projeto por meio de imagens e vídeos. Com o esporte aliado a atividades culturais, pedagógicas e socioemocionais, a iniciativa já ajudou a transformar a vida de mais de mil crianças e adolescentes. A ONG foi criada em 2000 pelo fotógrafo Marcelo Ruschel e sua esposa, Luciane Barcelos.
— Usamos um esporte cativante como o tênis para atrair as crianças e fidelizá-las às atividades do projeto. Assim, conseguimos transformar a vida delas, devolvendo bons cidadãos para a sociedade. O propósito não é formar tenistas — diz Ruschel.
WimBelemDon é um trocadilho com o tradicional torneio de Wimbledon e o bairro Belém Novo, onde está a sede da ONG. Em meio às dificuldades da pandemia, o projeto conseguiu lançar, em dezembro de 2020, o livro que conta as duas décadas de história da ONG. No entanto, o material teve de ser atualizado com a rotina dos dois anos de restrições ocasionados pela crise sanitária global.
A suspensão das atividades na sede da instituição, em março de 2020, não impediu o atendimento às crianças e adolescentes da região. Mas foi preciso modificar toda a rotina dos profissionais da equipe técnica. Naquele momento, foi feita uma pesquisa para medir o nível de ansiedade, a empregabilidade e a questão financeira dos responsáveis pelas crianças.
Essa iniciativa auxiliou o projeto a entender o cenário familiar no qual estavam inseridos os jovens. Somado a isso, por meio do doações, os responsáveis pela ONG conseguiram arrecadar mais de R$ 200 mil, que foram utilizados para aquisição de cestas básicas e vales-alimentação para as famílias dos atendidos durante os dois anos seguintes.
Os trabalhos com os estudantes seguiram a distância: as crianças e adolescentes recebiam atividades para serem feitas em casa, orientadas por profissionais, situação que seguiu até a flexibilização das restrições. Os trabalhos online contemplaram as oficinas de cinema, aprendizagem, alfabetização e reforço escolar, psicologia e esportiva.
— A população, de forma geral, teve de se adaptar (à pandemia), todos ficaram ansiosos. Mas tudo o que fizemos fidelizou as famílias, as crianças ficaram com mais vontade de estarem aqui. Por esse lado, os últimos dois anos foram momentos muito positivos para o projeto — diz o fundador da ONG.
Segundo Marcelo Ruschel, a instituição é financiada por meio de doações de pessoas físicas e empresas, leis de incentivo e parcerias com o poder público (veja abaixo como doar). O projeto tem hoje 17 funcionários e conta com voluntários responsáveis por oficinas culturais e pela parte administrativa. Ao todo, cerca de 70 crianças são atendidas na sede do WimBelemDon atualmente.
Entre os projetos da instituição para este ano e 2023 estão a construção de mais salas de aula com o Projeto Eco-salas, com containers navais, aquisição de um veículo para deslocamento das crianças em atividades externas e a aprimoração da plataforma de streaming utilizado na pandemia.
Quem faz parte
O WimBelemDon atende jovens entre seis e 18 anos, que são encaminhados após avaliação do Centro de Referência de Assistência Social (Cras) do bairro. Além do tênis, são oferecidas atividades culturais, pedagógicas e socioemocionais, com almoço e lanche diariamente, de segunda a sexta-feira. Cinema, artes, laboratório de aprendizagem, alfabetização, língua estrangeira, ioga, meditação e grupos de psicologia estão entre os trabalhos ofertados no local.
Ariela da Cunha, 12 anos, está no projeto desde 2018. Ela conheceu a iniciativa por meio de amigas que frequentavam o local. Segundo ela, desde então, insistiu para que a mãe a colocasse no WimBelemDon. Desde então, apaixonou-se pelo esporte: a adolescente diz que o tênis é, hoje, sua atividade preferida na ONG.
— Pretendo trabalhar aqui ou ser tenista. Gosto do laboratório de aprendizagem e psicologia, venho todos os dias. Os professores são legais e a comida também é muito boa — comenta.
Já Monique dos Passos, 16 anos, relata não ter tido nenhum contato com o esporte antes de ingressar no projeto. Hoje ela frequenta o WimBelemDon três vezes por semana, mesmo sem poder jogar tênis devido a uma fratura na perna, da qual ainda se recupera. Aos 12 anos, comenta ter feito "cara feia" ao entrar na ONG por iniciativa da mãe.
— Quando ela me falou que eu começaria no projeto, eu disse que não queria, porque pensei que seria chato. Agora sinto falta de jogar, do barulho da bolinha na quadra, da sensação de bater a bolinha na raquete. Aqui é muito bom, o acolhimento, a relação com as outras pessoas. Fiz amizades que quero levar para a vida toda — pontua.
O foco do projeto social é incluir na sociedade jovens em situação de vulnerabilidade social. É assim que Rafael Bernardes, 29 anos, define a própria trajetória no WimBelemDon. A história dele na ONG começou em 2003, aos 10 anos. No início, ao aprender a jogar tênis, quis se tornar profissional: conseguiu vencer torneios, mas, por fim, observou que essa não seria a carreira a ser seguida nos próximos anos. Aos 16 anos, saiu da instituição com conhecimentos que o ajudaram na vida profissional.
— Aqui foi o lugar onde peguei gosto pela leitura em uma oficina que tínhamos. Depois percebi que queria trabalhar com comunicação, com escrita, audiovisual, a partir da experiência que eu tive no projeto — acrescenta.
Em 2019, Rafael começou o segundo período no projeto, agora como funcionário. Jornalista formado, ele recebeu um convite para integrar a comunicação do WimBelemDon. Além disso, ele é responsável por uma oficina de cinema, todas as quartas, na qual são organizados debates com os jovens da ONG sobre o conteúdo consumido na atividade.
Programação da exposição
O que: Exposição “WimBelemDon, uma história de sonhos, educação, perseverança e transformação social”
Onde: Saída F do Barra Shopping Sul, em Porto Alegre
Atividades: Oficinas de tênis, ioga e artes, contação de histórias, apresentações musicais e conversas com embaixadores e parceiros do projeto
Quando: até o dia 31 de outubro, com atividades no decorrer do dia
Programação completa: www.wimbelemdon.com.br/expowimbelemdon
Como ajudar o projeto
É possível fazer doações mensais de qualquer valor, que podem ser cobradas no cartão de crédito ou por meio de boletos bancários. Para participar desta modalidade, acesse: https://www.wimbelemdon.com.br/doe/
Outras formas de doação estão disponíveis no link: www.wimbelemdon.com.br/colabore