A cearense Benigna Cardoso da Silva foi beatificada na tarde desta segunda-feira (24) em Crato, no sertão do Ceará. Ela foi brutalmente assassinada aos 13 anos, em 1941, por um rapaz que a assediava. Depois passou a ser venerada pelos católicos como mártir da pureza e da castidade. A estimativa é que a cerimônia, que começou às 15h, receba mais de 60 mil pessoas.
A programação continua nesta terça-feira (25) com atividades também em Santana do Cariri, cidade natal da menina. Nesta segunda-feira, o Parque de Exposição Pedro Felício Cavalcante, em Crato, foi palco para a celebração da beatificação com o Momento da Misericórdia, conduzido pelo missionário Geraldinho e Comunidade Missão Resgate.
Às 16h, o público prestigiou o musical A Hora do Martírio, dirigido pela Comunidade Filhos Amados do Céu e padre Monteiro. Às 17h, começou a liturgia solene da beatificação pelo cardeal Leonardo Steiner, arcebispo de Manaus, que representa o papa Francisco. Além dos devotos que acompanharam a cerimônia presencialmente, fiéis também acompanharam a solenidade pelo Youtube.
Veja como foi o primeiro dia de beatificação:
Na terça-feira (25), a programação será retomada às 14h, quando uma carreata com a imagem da jovem sairá da cidade sede da diocese até Santana do Cariri. A população local acolherá os devotos na entrada do município, com uma caminhada conduzindo o quadro com a imagem reconstruída de Benigna. O cortejo percorrerá as ruas da cidade com destino à Paróquia Sant'Ana.
História
Benigna Cardoso da Silva nasceu no Sítio Oiti, em Santana do Cariri, no dia 15 de outubro de 1928. Os pais biológicos morreram e ela foi adotada, junto de seus irmãos mais velhos, pela família Sisnando Leite.
Ainda com 12 anos de idade, ela começou a ser assediada por Raul Alves, quatro anos mais velho que ela. Os dois estudavam no mesmo colégio e o rapaz começou a persegui-la. Ela recorreu ao então pároco da cidade, o padre Cristiano Coelho, para contar a situação. Ele a aconselhou a ir estudar na sede do município e lhe presenteou com uma Bíblia que, segundo sua biografia, tornou-se o seu livro de cabeceira.
Em 24 de outubro de 1941, Benigna foi ao poço com seu pote para pegar água, e Raul estava à espreita. O jovem tentou estuprá-la e, com a resistência da jovem, a matou.
— Ela rejeitou por ver no ato uma ofensa a Deus e, em consequência, ele a golpeou várias vezes com facão. Desde então, ela é invocada como mártir, heroína da castidade, mártir da pureza — disse Danilo Sobreira, coordenador de Pastoral da Paróquia Senhora Sant'Ana de Santana do Cariri à agência Vatican News.
Desde maio de 2019, o dia 24 de outubro é também o Dia de Combate ao Feminicídio no Ceará. A data foi instituída pela Lei 16.892, que prevê a realização de campanhas, debates e seminários para conscientizar a população sobre a importância do combate ao crime e a outras formas de violência contra as mulheres.
O papa Francisco assinou, em outubro de 2019, o decreto que reconhece o martírio da menina brasileira — a declaração é decisiva para a beatificação, já que assim não é necessário reconhecer um milagre.
— Benigna, em vida, foi vista como uma pessoa santa. Era muito dedicada aos estudos, era a primeira da classe, caridosa, amante da natureza e dos animais, extremamente religiosa, com assídua participação na Eucaristia aos domingos. Recebeu de presente uma Bíblia do pároco. Ela lia as histórias e trazia para a sua vida como reflexão, transmitindo aos amigos e sendo até catequista por ensinar a palavra de Deus — contou Danilo Sobreira.
Complexo
No local, de difícil acesso, da morte da jovem, foi erguido um monumento com uma cruz, além de uma lápide e um memorial que conserva alguns de seus objetos pessoais. Católicos iam até lá para rezar e pedir a sua intercessão. Em 2005, foi construída uma capela em uma área próxima para receber os romeiros.
Perto da pequena capela, está em construção o chamado Complexo de Benigna. A previsão de entrega da obra está prevista para agosto de 2023. O local vai contar com uma estátua de mais de 20 metros e um espaço para oração que será chamado de Santuário de Benigna, segundo explica Ypsilon Felix, secretário de Cultura de Santana do Cariri à agência Vatican News:
— São mais de 48 mil metros quadrados de área, com capacidade para abrigar mais de 100 mil romeiros, com áreas para estacionamento, ambulantes e grandes celebrações.
Processo de beatificação
Antes de ser considerado santo, um candidato a beatificação passa por três estágios. Primeiro, é reconhecido como Servo de Deus, quando o Vaticano aceita abrir o processo de beatificação encaminhado por alguma diocese.
Assim que for reconhecido que o candidato cumpriu de forma heroica as 11 virtudes exigidas ou sofreu martírio em defesa da fé, ele passa à condição de Venerável. Quando há a comprovação do milagre, o candidato é considerado Beato, e sua imagem pode, então, ser cultuada no país onde morreu. No caso de martírio reconhecido, como é o caso de Benigna, o milagre é dispensado.
Somente a comprovação de mais de um milagre eleva o candidato à condição de Santo, e sua imagem pode ser venerada em todas as igrejas do mundo. Para que os milagres sejam reconhecidos, médicos especialistas de fora da Igreja precisam atestar que a cura em questão não tem explicação na ciência.