"Santo Antônio, rogai por nós, intercedei a Deus por nós". Centenas de fiéis entoavam a frase em homenagem ao padroeiro dos pobres quando o caminhão com sua imagem começou a se movimentar, às 19h02min desta segunda-feira (13), em frente à Paróquia Santo Antônio do Partenon. Acompanhada por gritos de "viva Santo Antônio", a canção marcou o início da tradicional procissão luminosa, que estava suspensa havia dois anos, em função da pandemia de covid-19.
Com a ajuda de lamparinas feitas de garrafas plásticas, fiéis seguravam velas que enfeitavam o entorno de toda a paróquia, localizada na zona leste de Porto Alegre. O público do aguardado evento era composto por pessoas de todas as idades e, de acordo com participantes, era bem maior do que em anos anteriores.
Antes do início da procissão, um grupo cantava músicas religiosas em cima de um caminhão com caixas de som. Ao redor da paróquia, as pessoas repetiam as letras e dançavam, animadas.
Desirée Cunha, 50 anos, é participante assídua das procissões luminosas e, neste ano, veio acompanhada da filha, Fernanda Marques, 25. A professora se emociona ao falar sobre a possibilidade de voltar ao evento após dois anos, especialmente porque a presença na paróquia é uma herança de família: a avó, a mãe e a irmã casaram no local, e todos familiares foram batizados lá.
— Sempre quando tem alguma coisa, a gente pede para algum santo. E eu sempre peço para o Santo Antônio e nunca me falha. Então, para mim, é bem emocionante vir hoje aqui, me deixa muito feliz, porque a nossa relação com o Santo Antônio é bem especial, bem forte — afirma.
Para o servidor público estadual Eduardo Alves, 59 anos, a fé se sobrepõe ao frio, portanto, vale se esforçar para participar da procissão mesmo diante das baixas temperaturas da Capital. Moradores do bairro Jardim Botânico, ele e a esposa, Bernardete Carbonari, 60 anos, participam sempre que podem do evento e das missas da paróquia.
— É uma alegria, parece que a vida está voltando à normalidade. (Vamos) agradecer também por termos passado por isso (a pandemia de covid-19) sem ter sofrido, sem ter partido alguém da família com essa doença terrível. Só temos gratidão, estamos com saúde, graças a Deus, então é cada vez mais agradecer — destaca Alves.
Segurando uma vela, Bernardete conta que sua relação com Santo Antônio começou ainda na infância, porque seu pai era muito devoto e mantinha uma imagem grande do padroeiro dos pobres pendurada na cozinha da casa onde moravam.
— Todas as noites o pai rezava um terço com todos os 10 filhos juntos, sempre ajoelhados na direção do Santo Antônio — relembra a eletrotécnica aposentada, antes de sair com o marido em direção à multidão.
Por volta das 19h15min, a Rua Paulino Chaves já estava tomada por fiéis, que acompanharam os caminhões cantando e balançando as lamparinas no ritmo das músicas. Maria Regina Motta Bitencourt, 69 anos, estava entre eles e relata que batizou a segunda filha na Paróquia Santo Antônio do Partenon, há 41 anos, e que o pai também era devoto. Portanto, a participação no evento já é uma tradição.
— A energia de estar aqui é diferente, o calor humano, tudo isso é importante para a gente. O mundo inteiro estava sofrendo com o isolamento, então estarmos novamente aqui é muito importante — aponta, acrescentando que a pandemia veio para ensinar muitas pessoas sobre o valor humano e a importância do amor e da união.
Após percorrer ruas do bairro, a procissão retornou à paróquia para o encerramento com a bênção da saúde e das velas. Ao longo do dia, ocorreram missas de hora em hora, além da tradicional distribuição de pães, que está associada ao perfil do santo de ajudar os necessitados. Santo Antônio também é conhecido como o santo casamenteiro.