Casamentos em dias alternativos e até nas vésperas de feriados estão cada vez mais comuns no Estado. A partir da liberação dos eventos com pistas de dança, proibidos por mais de um ano por conta da pandemia de coronavírus, casais que desejam eternizar o enlace ao lado de amigos e familiares voltaram a celebrar o dia do “sim” depois de um vaivém de marcações e remarcações.
A organizadora de eventos Neca Esbroglio, que também é a vice-presidente da Associação Gaúcha de Empresas e Profissionais de Eventos, conta que a maior parte dos DJs e fotógrafos mais badalados já não têm agenda para 2022:
— Os casais de março de 2020 ao final do ano de 2020 remarcaram várias vezes. Até a terceira remarcação do mesmo casamento tem sido muito comum. E isso inclui os casais do início deste ano. As marcações e remarcações acompanharam todas estas ondas. E isso envolve o local da festa e todos os fornecedores. É um trabalho árduo para quem está organizando. Os nossos lugares e fornecedores estão quase nos seus limites.
Um “tsunami” é como a decoradora floral Fernanda Rosa define a retomada dos trabalhos. Com eventos agendados até o final deste ano, ela já tem confirmações e também solicitações de datas para 2022. Fevereiro, que sempre foi um mês de baixa para a decoradora, está com todos os finais de semana confirmados. Assim como Fernanda, a wedding planner Mariana Schmidt viu a agenda transbordar e cita ter apenas o dia 12 de março livre para uma reunião com noivos. Mariana está atendendo, inclusive, clientes com data para 2023.
Nas igrejas católicas, crescem opções por datas alternativas
Não são apenas os profissionais especializados em casamentos que estão com as agendas lotadas. As igrejas católicas também viram aumento na busca por datas.
A Nossa Senhora das Dores, uma das mais procuradas em Porto Alegre, já está com mais de 50% da agenda fechada para 2022.
Há sábados, por exemplo, com quatro casamentos: dois pela manhã e dois à noite. A média antes da pandemia era de dois por sábado. Na Catedral Metropolitana de Porto Alegre, há 30% a mais de procura por datas em 2022 do que nos anos anteriores. A administração avalia que este aumento é devido ao grande volume de casamentos que não ocorreram durante o período mais intenso da pandemia.
Com os protocolos atuais exigidos contra o coronavírus, os locais com área aberta para eventos, que estavam em alta antes da pandemia, passaram a ser ainda mais disputados pelos noivos. Muitos estão recorrendo a datas alternativas. Flavia Frutuoso, administradora do sítio Alameda Figueira, em Cachoeirinha, revela não ter mais sábados livres para 2022:
— Hoje, estamos comercializando datas em sextas, domingos, feriados e pré-feriados, que viraram os nossos sábados.
E quem trabalha na produção dos convites de casamento também acompanha o boom dos enlaces. Proprietário há 30 anos de uma gráfica especializada em convites de casamento, Alexandre Graziadio revela que o mês mais procurado para 2022 é, até agora, março. Em determinadas datas, há mais de 10 eventos agendados.
Atendendo clientes de todo o Brasil, Graziadio revela uma curiosidade só vista neste período de pandemia: a gráfica chegou a produzir cartões de desconvite de casamento. Por conta das exigências dos locais, muitos casais optaram por reduzir o tamanho da festa e, consequentemente, o número de convidados. Tudo para não cancelarem os eventos.
Legado
Quem trabalha com casamentos percebe tendências que deverão permanecer nos próximos anos. Festas com até cem convidados, chamadas de mini wedding, estão sendo as mais realizadas, ao contrário dos eventos acima de 350 pessoas, comuns antes da pandemia.
Outras mudanças relativas à festa referem-se ao menor número de convidados por mesa e à continuidade do uso de máscara pelos profissionais que atuam no serviço de alimentação – eles deverão continuar usando o equipamento de proteção. Além disso, passam a fazer parte do calendário os casamentos em dias e meses não tão concorridos. Na segunda-feira do dia 1o de novembro, pelo menos cinco casamentos ocorreram em Porto Alegre.
Casamentos têm que ser no sábado e à noite? Não! Ele pode ser numa sexta à noite, pode ser num sábado de manhã, num domingo de manhã, num feriado. Esta quebra de costumes veio para ficar.
MARIANA SCHMIDT
— Esta demanda reprimida veio para quebrar regras. Janeiro e fevereiro, que não eram meses muito procurados, estão com bastante procura. Casamentos têm que ser no sábado e à noite? Não! Ele pode ser numa sexta à noite, pode ser num sábado de manhã, num domingo de manhã, num feriado. Esta quebra de costumes veio para ficar — afirma Mariana Schmidt, que atua na área desde 2009.
Entre os cerimonialistas, ainda há dúvidas sobre quando as agendas para casamentos terão mais espaços livres. Neca Esbroglio avalia que o mercado dos matrimônios só deve se estabilizar a partir do segundo semestre de 2022.
Três anos e quatro adiamentos depois, enfim as núpcias
Quatro vezes depois de trocar a data do casamento, por conta da pandemia, a professora Maria Julia Machado Treher Valandro, 29 anos, e o advogado Vinícius Valandro, 32, de Porto Alegre, casarão no próximo dia 28, no sítio Alameda Figueira, em Cachoeirinha.
A primeira data prevista para o enlace precisou ser cancelada 12 dias antes da festa, em março do ano passado. Acreditando que a situação se resolveria em breve, os dois remarcaram para seis meses depois. Próximo da data, tiveram de prorrogar para abril deste ano.
E quando chegou 2021, foi necessário mudar mais uma vez. Porém, sem a certeza de que a nova data seria confirmada, Maria Julia e Vinícius mantiveram o casamento no civil para o mês de abril.
— Por conta da pandemia, também foi necessário alterar o projeto de decoração, de disposição de mesas e organização para manter o distanciamento entre as pessoas — conta a professora.
— O local aberto já estava definido desde a época em que participamos de um outro casamento. O que deve mudar será o número de convidados, alguns já informaram que não irão por conta da pandemia — acrescenta o advogado.
Juntos há seis anos e noivos desde 2018, Maria Julia e Vinícius planejaram o casamento ao longo de dois anos. Inicialmente, escolheram uma data que não fosse próxima ao inverno e que pudessem tirar alguns dias de folga para a lua de mel.
Flexibilidade
Mesmo com todas as mudanças, os dois mantiveram a ideia inicial de o casamento não ser num período de temperaturas mais baixas. Porém, precisaram abrir mão do dia da semana. Se nas datas anteriores, a cerimônia ocorreria num sábado, desta vez será num domingo à tarde.
— Precisei trabalhar muito isso em mim: de abrir mão do sábado — relata Maria Julia.
— Foram muitos adiamentos e em cada um deles precisávamos falar com todos os fornecedores para encaixar as datas. Não queríamos mudá-los porque já estava tudo pago — conta Vinícius.
A lua de mel também precisou ser alterada. O casal pretendia ir ao litoral do Rio de Janeiro, mas as passagens foram canceladas. Agora, os dois deverão passar alguns dias no litoral catarinense.
Bebê vira pajem e altera formato da festa
Namorados há sete anos, noivos há seis e planejando o casamento religioso há dois anos, os empresários Tiago Leite, 38 anos, e Fernanda Carpenedo Gabriel, 35, de Porto Alegre, pretendiam se casar em Gramado em setembro de 2020, mas todo o planejamento precisou ser refeito ainda em maio do ano passado.
Acreditando que em 2021 a situação já estaria resolvida, o casal transferiu a data para fevereiro deste ano. Os convites, inclusive, chegaram a ser impressos três meses antes, num período em que os números da pandemia estavam reduzindo. Porém, em dezembro, numa piora do quadro pandêmico, foi necessário alterar a data novamente. Desta vez, para junho.
Enquanto buscavam uma data que encaixasse local da festa, cerimonialista e demais serviços do casamento, o casal acabou tendo despedida de solteiro e até viagem de lua de mel porque não queria perder a estadia já paga.
Ficou faltando apenas a cerimônia religiosa.
— Depois de transferir três vezes, queríamos ganhar tempo. Relaxamos e deixamos para 2022 — relata Tiago.
— E graças a Deus os fornecedores foram super parceiros conosco — completa Fernanda.
Um quarto do apartamento do casal, que mora junto há cinco anos, se tornou depósito para as caixas de bebidas compradas ainda em 2019. Parte dos espumantes, inclusive, acabaram sendo usados nos dois restaurantes administrados por Tiago e Fernanda. O restante segue à espera da festa. Na decoração, também haverá mudanças. Se, para a primeira data, os noivos pensavam apenas em flores brancas, orquídeas, agora haverá espaço para mais verde e velas.
Mudança
Em fevereiro deste ano, com a certeza de que só casariam no religioso numa data mais próxima ao final de 2022, os dois tomaram uma decisão: queriam ser pais. Fernanda tirou o DIU em fevereiro, imaginando que engravidaria depois de pelo menos 10 meses. Mas para a surpresa dos empresários, no mês seguinte, ela descobriu estar grávida.
— Como temos um relacionamento estável, foi muito tranquilo. Estamos felizes — comenta Tiago.
Antes do filho, Fernanda conta que o casamento seria apenas para adultos. O convite informava a condição. Mas com a mudança nos planos do próprio casal, o novo convite virá diferente.
— A ideia era que todos pudessem se divertir sem os filhos. Agora, está liberado, e estamos pensando num espaço kids no casamento — revela Fernanda.
Lorenzo nasceu no mês passado. Agora, o casal já tem uma nova data para o casamento: outubro de 2022. E o filho será o pajem.