O coronavírus deixou tristeza para milhares de famílias, mas também houve quem conseguiu passar pelos primeiros 12 meses da pandemia superando obstáculos, distribuindo amor e inspirando pessoas. GZH conta histórias inéditas e revisita outras três publicadas ao longo de 2020. Elas mostram que, mesmo em meio às dificuldades, é possível encontrar esperança e compartilhá-la. Conheça, abaixo, a história de Arthur:
Quem vê hoje o sorridente Arthur Chacon Gonçalves, 10 anos, de Cachoeirinha, não imagina as dificuldades enfrentadas pelo menino ao longo de 59 dias de internação no ano passado. Vítima de covid-19, ele foi uma das primeiras crianças no Estado a receber ventilação mecânica por conta da doença.
Passados 10 meses da alta, Arthur segue com uma arritmia cardíaca desenvolvida a partir da covid-19 e controlada com medicação. Mas ganhou 21 quilos e faz acompanhamento com nutricionista, cardiologista, psiquiatra e pediatra. Ele não voltou à escola por conta do risco da reinfecção e segue com aulas a distância.
A mãe, Raquel Chacon Gonçalves, 44, que é a professora e artesã, recorda que os primeiros sintomas surgiram na madrugada de 30 de março. Bipolar, epilético e com transtorno opositivo-desafiador (TOD), atraso cognitivo e autismo leve, Arthur foi internado no Hospital de Clínicas de Porto Alegre com suspeita de coronavírus quatro dias depois de deixar a mesma instituição, onde ficara internado por 16 dias para ajustar as medicações dos tratamentos aos quais é submetido desde os quatro anos.
Ao saber que o filho estava com covid-19, a mãe não deixou mais o Clínicas. Foram 35 dias sem retornar para a casa onde moram também as filhas Caroline, 24, e Antônia, 13, e a neta (filha de Caroline) Maria Eduarda, dois anos. As refeições foram feitas dentro do hospital. Por vezes, a filha trazia comida para a mãe. Em outras, as próprias enfermeiras doavam algum lanche para Raquel. As poucas horas de sono ocorreram sempre na poltrona ao lado da cama do menino. Passados os 22 dias de UTI, ele permaneceu isolado num quarto para recuperar os déficits motores gerados pela infecção, até voltar para casa.
— Meu filho renasceu e, apesar de todas as dificuldades, muitas coisas boas ocorreram com ele neste período. Ele, que era totalmente dependente antes da covid-19, agora faz o próprio café — conta a mãe, orgulhosa.