Seu filho convive com negros? Essas pessoas são amigas ou empregadas? Você oferece a ele livros e filmes em que os protagonistas são pretos? Você, pai ou mãe, já leu livros de autores negros? Acha importante pensar sobre isso?
Neste 20 de novembro, Dia da Consciência Negra, quem propõe a série de questões é a professora Luciana Dornelles Ramos, idealizadora do projeto Empoderadas IG, que fomenta o protagonismo negro e combate opressões diversas. Ela dá a inquietante resposta:
— Se a maioria das respostas for não, essa criança está crescendo em uma “bolha branca”.
Além de Luciana, a reportagem de GZH consultou outras duas referências no debate da negritude para organizar este pequeno conjunto de nove dicas sobre como educar, desde a infância, mirando a construção de uma sociedade sem preconceito. São elas: Gládis Elise Pereira da Silva Kaercher, doutora em Educação, professora associada da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e coordenadora do Programa de Extensão Uniafro na instituição, e Perla Santos, professora da Escola Municipal de Ensino Fundamental Mario Quintana, na Restinga, em Porto Alegre, além de fundadora e uma das coordenadoras do Movimento Meninas Crespas, que valoriza a estética e a história negras a partir do cabelo afro.
— A criança não nasce racista. Ela aprende a ser racista — assevera Gládis. — Como ela aprende? Não é que o adulto vá dar uma aula ensinando. A criança aprende por meio das ações, não só a partir daquilo que é dito. Às vezes, as pessoas se defendem, “eu não sou racista, não xingo os negros”. O ensino do racismo não se dá só pela ação, se dá também pela omissão. Quando a criança assiste a um episódio racista em que o adulto fica mudo, ela aprende pela inação dele. O adulto tem que romper o silêncio, a omissão.
1. EDUQUE PELO EXEMPLO
As crianças aprendem a partir do comportamento e da fala dos adultos. Na língua portuguesa, empregam-se palavras de cunho racista em abundância. Pense em “esclarecer”: tornar claro, explicar, elucidar. Ou seja, algo bom. Então quer dizer que o escuro é ruim? Esta pode ser uma das ideias depreendidas daí. Pense sobre o que você fala e procure excluir as palavras de sentido racista.
2. ESTIMULE A CONVIVÊNCIA
Seu filho convive com negros? Eles são colegas de aula, membros da família, amigos, vizinhos ou empregados da casa ou do condomínio? Ajude-o a ter variedade no âmbito das relações e a não cristalizar a imagem de negros como subalternos.
3. DIVERSIFIQUE OS BRINQUEDOS
Apresente a diversidade de cores de pele em jogos, bonecas e outros brinquedos. Fuja da padronização que marcou a infância de várias gerações: bonecas loiras, magras, de olhos claros e cabelo liso. Trata-se de um exercício de observação, apreciação, respeito.
4. PESQUISE LIVROS, DESENHOS E FILMES
Em vez de simplesmente ligar a televisão ou o computador para entreter a criança por um tempo, dedique-se à busca de bons títulos. Mensagens muito importantes, de aceitação e tolerância, podem ser introjetadas a partir de enredos e personagens bem construídos. Procure negros no papel de protagonistas. Se todos os produtos culturais e de entretenimento que entrarem na sua casa exaltarem pessoas brancas, você estará educando seu filho para achar que tudo que é belo, divertido e culto tem a cor branca.
5. “AFROBETIZAÇÃO”
Saia da posição de quem sabe tudo e ocupe o lugar de quem também ainda tem muito a aprender. Leia e assista a filmes junto de seus filhos. Experiências compartilhadas são mais enriquecedoras.
6. MATERIAL ESCOLAR
Há estojos de lápis de cor e giz de cera com diversas cores para representar as diferentes tonalidades de pele, permitindo que a criança explore sua criatividade de maneira mais conectada à realidade. Proporcione o acesso a esses itens e incentive o uso, aproveitando para fomentar boas discussões.
7. APRESENTE A ÁFRICA
Que imagens vêm a sua cabeça ao pensar no continente africano? Faça um esforço para não reduzir os conteúdos apresentados às crianças a fotos de paisagens nas savanas, safáris e animais selvagens. A África é isso também, mas sua complexidade vai além.
8. ASSUMA A RESPONSABILIDADE
Educar para a aceitação da diversidade não é tarefa unicamente da escola e dos professores. A criança aprende o tempo todo, em qualquer lugar, e a família e os demais cuidadores não podem deixar de cumprir seu papel.
9. AJUDE A INTERPRETAR A REALIDADE
Explique o que significam os episódios de racismo que mais repercutem na imprensa e nas redes sociais. Comente cenas que você presenciar na companhia do seu filho. Sempre que possível, não se omita. Com a linguagem adequada, a criança pode começar a aprender e a entender, desde cedo, o universo onde está inserida.