O esforço é para que o 20 de Novembro se espalhe pelo restante do calendário todos os anos. Não basta discutir o racismo e a negritude em apenas um momento. Nesta sexta-feira (20), Dia da Consciência Negra, celebra-se o orgulho da presença e a importância da pele preta em um mundo cada vez mais mobilizado para combater a intolerância com informação, empoderamento e representatividade.
Professora associada da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e coordenadora do Programa de Extensão Uniafro na instituição, a doutora em Educação Gládis Elise Pereira da Silva Kaercher torce para que a data se torne secundária:
— É preciso que nossa sociedade avance na garantia dos direitos dos negros de forma tão forte que esta se torne uma data só para lembrar um herói, o Zumbi dos Palmares (mais conhecido líder quilombola brasileiro), e não para lembrar o racismo.
Além de Gládis, outras duas especialistas em questões envolvendo negritude contribuíram para a construção desta lista com 12 atitudes racistas que todos nós podemos e devemos abandonar: Luciana Dornelles Ramos, professora de Educação Física e idealizadora do projeto Empoderadas IG, que fomenta o protagonismo negro e combate opressões diversas, e Perla Santos, professora de Séries Iniciais da Escola Municipal de Ensino Fundamental Mario Quintana, na Restinga, em Porto Alegre, além de fundadora e uma das coordenadoras do Movimento Meninas Crespas, que valoriza a estética e a história negras a partir do cabelo afro.
1. NÃO RIA NEM SILENCIE
Não silencie ou ria, ainda que constrangido, diante de “brincadeiras” depreciativas quanto a cor de pele, tipo de cabelo, formas do rosto ou do corpo. Você não pode se frear por medo de ser visto como o “chato” que cobra bom comportamento em um grupo de amigos ou em um espaço público. Com paciência e de forma educada, você estará educando os demais.
2. REAJA
Amplificados e denunciados nas redes sociais, os episódios de preconceito e os discursos de ódio são frequentes e contundentes. Não basta você dizer que é contra essas práticas — deve ter atitudes que demonstrem sua postura antirracista. O silêncio é conivente, colabora com o racismo. Faça a sua intervenção quando flagrar algum episódio dessa natureza. Tome um cuidado importante: não anule a pessoa ofendida, não tome o lugar dela. O ideal é reagir e lutar ao lado de quem está sendo atacado.
3. CONVERSE
Não há nenhum negro na família, no grupo de amigos, na sala de aula do seu filho, no prédio? Nem por isso as questões referentes à negritude devem deixar de ser discutidas no seu dia a dia. Uma sociedade mais respeitosa e igualitária deve ser do interesse de todos.
4. VALORIZE O CONHECIMENTO
Leia a produção de autores negros, consulte especialistas negros, dissemine as ideias de pensadores negros. Siga os perfis de influenciadores respeitados nas redes sociais.
5. INCENTIVE
Na pandemia, teve grande destaque o incentivo aos pequenos comerciantes e empreendedores para que pudessem sobreviver à grave crise econômica. Que tal valorizar também os negros que são comerciantes e prestadores de serviços no seu bairro e nas redondezas? Divulgue os bons trabalhos, compartilhe os contatos.
6. LEIA
Busque livros, artigos, reportagens sobre o tema. Pequeno Manual Antirracista, escrito por Djamila Ribeiro, é um ótimo começo. Familiarize-se com palavras e expressões presentes nas discussões sobre o tema. Você sabe o que é negritude? E branquitude? Informe-se sobre ações afirmativas antes de simplesmente criticá-las.
7. INDIQUE
Sua empresa está com vagas abertas? Indique profissionais negros para os processos seletivos. Muitas vezes, a informação sobre esses postos de trabalho tem uma circulação restrita, não atingindo públicos variados.
8. QUESTIONE-SE
Dedique-se a exercícios de observação, treine o seu olhar. Preste atenção nos lugares que você frequenta: escritório, restaurantes, bares, eventos, parques. Há pessoas negras? Quantas? Que posições elas ocupam nesses cenários? Você acha que esse número reflete a realidade brasileira?
9. AGRUPE-SE
A depender de seu nível de interesse e mobilização, procure grupos temáticos. Cada vez mais empresas têm incentivado a reunião de funcionários identificados com as questões relacionadas à negritude. Esses espaços não são exclusivos para negros. Pelo contrário: a presença de brancos costuma ser bem-vinda, o que dá diversidade à pauta desses encontros e aumenta o potencial disseminador de boas práticas.