O líder comunitário Lidionei Santos, que mora e atua em comunidades pobres do bairro Cruzeiro, em Porto Alegre, registrou queixa criminal por racismo contra um motorista do aplicativo Uber. Ele assegura que o motorista desistiu da corrida ao baixar os vidros do veículo e verificar que o cliente é negro e estava em frente a uma delegacia de polícia.
— Ele não me deu explicações. Disse apenas “Não vou te levar”, trancou a porta e saiu arrancando, cantando pneu, como se eu fosse alguém que o ameaçava. Eu estava bem vestido, tinha um policial e uma advogada próximos de mim, mas ele não quis me levar. Bastou ver a cor da minha pele — desabafa Santos.
O fato aconteceu por volta das 22h de sexta-feira (18), logo após Santos registrar queixa na Delegacia de Polícia de Pronto Atendimento (da Polícia Civil), situada na Avenida Ipiranga. O pai dele fora assaltado meia hora antes e levou um tiro no rosto. Foi socorrido por policiais e levado ao Hospital de Pronto Socorro. Assim que soube que a situação do pai era estável, Santos foi registrar a ocorrência por roubo no balcão policial. Concluiu, chamou um Uber e aí teve o dissabor de ter a corrida recusada sem explicação.
A reportagem localizou a advogada Árima da Cunha Pires, que assistiu à cena e confirma tudo que Santos disse. Ela levava uma cliente para registrar queixa na Delegacia da Mulher.
— Aquele senhor (Santos) estava parado com o celular na mão. Daí o carro parou e ele se aproximou para entrar e o motorista arrancou. Não ouvi exatamente as palavras, mas achei estranho. Daí perguntei o que houve e ele me respondeu que o motorista não quis fazer a corrida porque se tratava de um negro. E acredito nisso. Uma atitude detestável. Fosse policial, tinha dado ordem de prisão ao motorista, na hora — desabafa Árima.
Um PM também teria visto o abandono da corrida e testemunhado a favor do líder comunitário.
Santos anotou a placa do veículo que o deixou na mão (um Gol locado) e imprimiu a tela com a corrida solicitada - e que não ocorreu. Além da ocorrência com o pai baleado, aproveitou para registrar queixa por racismo.
GZH contatou a empresa Uber, que pediu diversos dados para verificar se de fato a corrida foi solicitada e o que ocorreu. A empresa alega que não conseguiu contato com Lindonei. A Uber distribuiu nota dizendo que "tem uma política de tolerância zero para qualquer forma de discriminação. Em casos dessa natureza, a empresa fica à disposição para colaborar com as autoridades e compartilhar informações sobre os envolvidos, observada a legislação aplicável". Lindonei disse que não foi procurado pela Uber.