Era para ser um jogo de RPG, mas a história do menino que constrói uma casa na árvore e vive uma grande aventura, escrita pelo estudante do terceiro ano do Ensino Fundamental Samuel Erhart Robinson, de Novo Hamburgo, nove anos, acabou ganhando 99 páginas e 500 exemplares, publicados com a ajuda de uma vaquinha virtual. Escrita entre março e junho deste ano, como uma das atividades escolhidas pelo menino escritor para encarar a pandemia de coronavírus, a obra também foi publicada na plataforma de leitura digital Árvore, onde pode ser acessada por mais de um milhão de alunos que a utilizam.
O Menino e a Casa na Árvore: entre sonhos e pesadelos é o primeiro de uma trilogia e conta a história de Gabriel, que depois de construir uma casa na árvore com a ajuda do irmão mais velho e de três amigos, encontra um misterioso botão dentro da construção que os leva a novas e emocionantes experiências.
— O Gabriel é inspirado em mim, porque eu sempre quis ter uma casa na árvores — revela o pequeno escritor.
A paixão de Samuel pelas letras surgiu antes mesmo de aprender a escrever. Aos quatro anos, por exemplo, ele pedia para a avó paterna, a professora de português Elizabete Robinson, formar palavras a partir das letras soletradas pelo neto. Já alfabetizado, Samuel criava histórias em quadrinhos e lia enciclopédias para crianças. A partir delas, criava as próprias sobre temas específicos, como animais e constelações. Meses antes de começar a escrever o primeiro livro, o menino montou o próprio periódico, escrito no computador. Por morar numa rua sem saída, Samuel lançou o jornal do Beco, com novidades sobre a própria via. Até anúncios foram vendidos para a publicação, revela a mãe, a professora de séries iniciais Michele Erhart Robinson, 34 anos.
Intercalando as horas de jogos de Minecraft e de desenhos do Naruto, Samuel redigiu O Menino e a Casa na Árvore: entre sonhos e pesadelos. Para publicá-lo, a família lançou uma vaquinha virtual - a história foi contada por GZH, em maio deste ano.
As cerca de 70 pessoas que contribuíram receberam, cada uma, um exemplar. Três bibliotecas da cidade, incluindo a da Escola Municipal de Ensino Fundamental Pres. Affonso Penna, onde ele estuda, também ganharam a obra. Outros 180 livros já foram vendidos e há exemplares em livrarias de Novo Hamburgo. A família também está comercializando a R$ 20 cada exemplar pelo Instagram @mucarobin.
Desde o lançamento da obra, o pequeno escritor tem participado de encontros virtuais promovidos por órgãos públicos e escolas, onde ele conversa com crianças e adultos. A equipe pedagógica da plataforma Árvore desenvolveu um projeto de leitura relacionado ao livro, destinado aos anos iniciais do Ensino Fundamental. Chamado de Trilhas de Leitura, ele pode ser aplicado nas escolas parceiras e, em casa, pelas famílias, que podem seguir o roteiro elaborado pelo time de especialistas.
— Com trabalho em equipe, dedicação e amizade podemos vencer tudo. Fico feliz em ter realizado o meu sonho e por saber que outras crianças estão sendo influenciadas pelo meu livro. É muito bom saber que outras crianças gostaram da história e que se sentem motivadas a escreverem também — pontuou Samuel.
Em apenas uma semana na plataforma, o livro somou mais de 300 leituras entre alunos.
— Quando assisti ao vídeo do Samuel divulgando o livro, através do Instagram da Árvore, fiquei encantada. Fui até a plataforma, li a obra na mesma tarde e, na semana seguinte, preparei uma aula para os meus alunos. Na aula combinada, eles estavam empolgados com a história. Quando disse que havia marcado uma entrevista com o autor, eles não acreditaram. Na semana anterior à entrevista, muitos alunos relataram nunca terem ficado tão animados para ler um livro como aconteceu com esse. Outros disseram que, após conhecer a história de Samuel, resolveram também escrever um livro — conta Patrícia Cristina, professora do Colégio Regina Pacis, de Sinop (MT).
Incentivadores da criatividade de Samuel, Michele e o marido, o analista administrativo Guilherme Robinson, 34 anos, afirmam que o filho tem liberdade para seguir ou não escrevendo.
— Há semanas em que ele escreve mais, têm dias que é mais tecnológico e, em outros momentos, gosta de ler. Apenas temos que respeitar os gostos dele — ressalta Michele.
Animado com a possibilidade de explorar ainda mais as aventuras do personagem Gabriel, o pequeno escritor garante já ter ideias para a segunda obra, que em breve deve começar a ser escrita.
— O próximo vai ser maior e o terceiro, maior ainda (em número de páginas). Já tenho o começo do segundo, que eu pretendo terminar ainda neste ano, e o final do terceiro. Imagina quantos livros eu vou ter escrito até o final da faculdade? — entusiasma-se, Samuel.