Uma semana depois de um final de semana de verão em termos de temperatura e aglomerações à beira-mar em plena pandemia da covid-19, as restrições impostas por prefeituras do Litoral Norte surtiram efeito e diminuíram o movimento em algumas das principais praias gaúchas neste domingo (28). Porém, o objetivo de alguns prefeitos de uniformizar as medidas nos diferentes municípios não se confirmou.
Em Tramandaí, a principal novidade nas restrições se verificava na Avenida Beira-Mar, que teve fechados os acessos à praia e os equipamentos de convivência, como bancos e quadras esportivas. O estacionamento também foi proibido na maior parte da avenida. As faixas de isolamento permitiam apenas a circulação em parte da calçada, onde pessoas não deixaram de caminhar, correr e andar de bicicleta, mas sem aglomerações. No mar, apenas surfistas e pescadores eram permitidos.
Por volta das 10h30min, com os termômetros abaixo de 15°C mesmo com céu aberto, a estimativa da Guarda Municipal era de um movimento equivalente a 30% do final de semana passado. A corporação também intensificou abordagens a quem invadisse as áreas isoladas ou se negasse a usar máscara (em caso de esquecimento, os próprios agentes distribuíam o equipamento). Para ambas infrações, as novas regras preveem multa de R$ 200. Até aquele momento, nenhuma abordagem havia chegado a esse ponto.
– Como outras regras, (essas) passam a funcionar mesmo quando ameaçam mexer no bolso. A pandemia tem a mesma lógica do trânsito: os visitantes de outras cidade vêm pra cá com essa mentalidade de que no litoral pode tudo – opina um dos 20 agentes que trabalhavam fazendo rondas pela orla.
Das praias visitadas por GaúchaZH, a que apresentou mais aglomerações aliadas ao pouco uso da máscara era Atlântida, em Xangri-Lá, por volta das 11h30min. Nos arredores da Plataforma de Atlântida, a movimentação era a de um dia ensolarado normal, com livre acesso à praia, e grupos de pessoas conversando em torno de carros ou passeando, poucas com máscaras.
Em Capão da Canoa, a partir das 12h, quando a temperatura já estava mais agradável, era possível observar uma boa movimentação de famílias e praticantes de exercícios no calçadão, mas longe das cenas do final de semana passado. Via de regra, o uso da máscara foi respeitado. Diferentemente de Tramandaí, não havia isolamento a locais públicos.
Conforme a percepção dos frequentadores, o movimento de final de semana baixou drasticamente em razão decreto municipal de quinta-feira (25) que proibiu todo tipo de comércio aos finais de semana a partir das 12h de sábado, inclusive supermercados. As únicas exceções foram farmácias e postos de combustíveis (sem lojas de conveniência). Apenas os atendimentos por tele-entrega foram permitidos. Os demais municípios mantiveram serviços essenciais em funcionamento.
– Vocês foram ali no Centro? Está uma cidade fantasma. Até me pegou desprevenido. Para passar o final de semana, tive de conseguir cerveja clandestinamente – brincou um empresário de 66 anos na orla de Capão.
De fato, à exceção de algumas atividades de lazer no calçadão, o restante de Capão da Canoa estava em clima de lockdown. Na Avenida Paraguassú pouquíssimo carros ou pessoas circulavam no início da tarde. Na Praça Dr. José Agostinelli, na Rua Pindorama, apenas duas das mais de 20 barracas de comida estavam abertas. Também não era permitido pedir e comer no local, estavam ali para receber encomendas que seriam entregues a domicílio. Em dias de semana, os serviços essenciais voltam a operar até as 20h30min ou 21h (na sexta).
Associação publica alerta de UTIs lotadas
Pouco antes das 13h, a Associação dos Municípios do Litoral Norte (Amlinorte) publicou em suas redes um alerta à população de que os leitos de UTIs da região chegaram, neste domingo, a 98% da sua lotação. A informação vem acompanhada de um apelo para que a população “se desloque apenas em extrema necessidade e opte pelas alternativas de tele-entrega”. Em seguida, a mensagem passou a ser compartilhada em grupos de WhatsApp.
Conforme o presidente da associação e prefeito de Imbé, Pierre Emerim, o alerta foi disparado tão logo a lotação foi verificada em tempo real junto aos hospitais da região.
– Estávamos prevendo isso para os próximos dias. Aconteceu ainda antes. Bom é que a notícia já surgiu efeito. Já é visível a diminuição do movimento três horas depois de publicação – atesta Pierre.
Na próxima terça-feira, prefeitos da região se reunirão com o governador Eduardo Leite. Entre as demandas, está o pedido para que não valha na região a regra de que municípios sem mortes possam adotar regramento equivalente à bandeira laranja mesmo estando em região de bandeira vermelha. Segundo Pierre, a proximidade e a alta circulação entre praias tornam a regra perigosa. A segunda demanda é por mais leitos na região, em razão do aumento da população sazonal do Litoral Norte desde o início da pandemia.