“Logo estaremos todos juntos”, dizia o bilhete que a advogada Daisy Longaray Simas, 68 anos, recebeu em casa, em Caxias do Sul, junto do seu presente de Dia das Mães. É a primeira vez em que vai passar a data longe de Daniela Simas, 44 anos, que mora em Porto Alegre. Em isolamento social, as duas repararam no começo do mês que não poderiam dar aquele abraço apertado, a grande tradição da data.
Com a família fisicamente longe — ou então perto demais, passando a quarentena sob o mesmo teto —, este segundo domingo de maio tem potencial para ser como nenhum outro até aqui.
— Acho que em nenhum outro momento a gente teve a oportunidade de valorizar tanto a presença dos outros quanto agora. É um privilégio de poucos, e, quem tem, deveria aproveitar e valorizar — comenta a psicóloga Tagma Marina Schneider Donelli, professora da graduação e pesquisadora do programa de Pós em Psicologia Clínica da Unisinos.
Usar a criatividade (veja algumas dicas neste link) e fazer o bom uso da tecnologia são as recomendações da terapeuta para quem não vai passar o domingo com a mãe — ou com os filhos.
— Mesmo longe, a gente tem acesso a recursos para estar junto. Lancem mão dessas tecnologias, usem o WhatsApp, troquem fotos durante o dia — aconselha a especialista.
A funcionária pública federal Clarissa Coutinho Pinto, 43 anos, pretende juntar em uma chamada de vídeo a mãe, a professora aposentada Léa Maria Coutinho Pinto, 70 anos, e os dois filhos, João Francisco, 6 anos, Luísa, de 3 anos. Morando em bairros vizinhos — Rio Branco e Moinhos de Vento —, não vão passar a data juntas em razão do isolamento. Léa pertence a um grupo de risco do coronavírus.
— Vai ser emocionante (a ligação), porque ela está com muita saudade das crianças _ prevê Clarissa. — Quero dizer para ela que, mesmo distantes, vamos estar sempre juntas, sempre unidas.
Mãe de três filhos, João Pedro, 20 anos, Miguel, 8 anos, e Clara, de apenas um aninho, a jornalista Daniela Ungaretti, 43 anos, vai passar o Dia das Mães em casa, curtindo a família. O marido Daniel e o filho mais velho é que vão cuidar do almoço — e não dão nem pista do cardápio, para que seja uma surpresa.
— É um dia especial para ser paparicada, né? Vou aproveitar! Mas não vai ser como sempre foi. Além do afeto, há a preocupação, o medo, a ansiedade que envolve tudo isso que a gente tá vivendo agora. Não saber o que vem pela frente dá uma angústia. Quem é mãe entende bem esse sentimento de insegurança em relação ao futuro... A gente quer sempre o melhor pra eles — desabafa a apresentadora do Bom Dia Rio Grande.
A mãe de Dani faleceu quando a jornalista estava grávida do primeiro filho. Desde então, ela costumava passar o Dia das Mães com a avó materna, Maria Edith, que tem 87 anos e mora em Pelotas. Fisicamente longe, manda-lhe um recado — e não só para ela:
— Para todas as mães, mulheres guerreiras, fortes, incansáveis: um feliz Dia das Mães!
“A gente vai poder comemorar junto mais adiante”
A personal organizer Daniela Simas não nega que doeu um pouco na hora de mandar o presente de Dia das Mães por entrega, mas tentou não valorizar esse drama. Foi exatamente o que ela aprendeu com Daisy.
— Se a solução é não se encontrar, tranquilo. Tanto eu quanto ela não somos de transformar isso em um momento mais difícil que já é — diz Daniela. — E também não é agora no Dia das Mães que eu vou descobrir que ela é tudo pra mim. Sei disso há muito tempo.
Daniela encomendou duas aquarelas, feitas especialmente para Daisy. Elas lembram um momento muito especial da família: os verões vividos em Arroio do Sal. A casa de praia verde aparece em uma das obras, em segundo plano, junto ao desenho de Daisy, do esposo e dos netos Gabriel, 10 anos, e Leonardo, sete anos, andando de bicicleta. A outra pintura é ambientada à beira-mar, com as crianças construindo um castelo de areia.
— Assim que abrir shopping, o povo vai todo correr para comprar coisas. Acredito que essas aquarelas são mais significativas. Ou então um cartão, uma foto revelada. A gente vai estar representada no Dia das Mães. Acho que o importante é isso, são os momentos que a gente viveu — explica a filha.
Daisy recebeu o presente na porta de casa, na Serra, na quarta-feira (6) de manhã. Adorou.
Enquanto escolhe onde vai pendurar suas aquarelas, ela pretende passar o Dia das Mães com o coração tranquilo e cheio de carinho. Mesmo sem abraçar Daniela e sua caçula Carolina, de 40, por ora.
— A gente vai sentir saudade, mas com a certeza de que o amor preenche nossa vida e de que vamos comemorar juntas mais adiante — conclui a mãe.