Para marcar o Dia Internacional da Mulher, comemorado em 8 de março, GaúchaZH convidou duas escritoras gaúchas de gerações distintas para refletirem sobre a condição da mulher na sociedade atual. A seguir, você lê o texto de Cíntia Moscovich, e, aqui, o de Caren Ane Rhoden.
Por Cíntia Moscovich
Autora de “Essa Coisa Brilhante que É a Chuva?”, entre outros
Sempre que o pessoal me pede para falar da tal condição feminina, eu tento me esquivar. Acho difícil dizer qualquer coisa que valha a pena: quando me dou conta, lá estou eu bradando obviedades contra um sistema tão velho, tão carcomido e tão mofado que nem sei como não ruiu sob o peso de própria decrepitude.
Só que, quanto mais caquética essa engrenagem se apresenta, mais parece resistir – daí a necessidade de todos os anos a gente marcar bem marcado o Oito de Março.
Nós, mulheres, estamos sempre contando episódios que, se não forem relatados em detalhes, podem ser sempre enunciados em essência: se a gente fosse homem, teriam nos tratado com mais respeito. É como se fôssemos dependentes da tutela masculina, que também autoriza alguns cavalheiros a total falta de consideração e, em casos de mais prepotência, a sessões de verdadeiro esculacho.
Por mais que o machismo e a misoginia tenham passado a ser sinônimos de estupidez e de boçalidade, essas duas porcariazinhas – machismo e misoginia – persistem dentro da sociedade como um tique nervoso, um cacoete que se manifesta quando a gente menos espera.
Claro que o Rio Grande do Sul está na vanguarda desse atraso, valham-nos os céus, mesmo que, em termos de progresso humano, essa pegada que faz da mulher uma coisa de segunda categoria em nada ajude e, em termos de progresso econômico, atrase e puxe para trás.
Mas o que eu ia dizendo. Falar de ser mulher e dessa esquisita e insistente situação de rebaixamento continua sendo difícil, mas decidi não mais me esquivar de falar. Se a gente consentir em ficar quietinha, cairemos todos de quatro e sairemos pastando.
Não é não, violão.