Para marcar o Dia Internacional da Mulher, comemorado em 8 de março, GaúchaZH convidou duas escritoras gaúchas de gerações distintas para refletirem sobre a condição da mulher na sociedade atual. A seguir, você lê o texto de Caren Ane Rhoden, e, aqui, o de Cíntia Moscovich.
Por Caren Ane Rhoden
Autora de “Deserto de Sal” e “Fio”
Falar sobre mulheres, hoje, envolve pensar de modo complexo sobre todos os posicionamentos e situações polêmicas, mas envolve, também, lidar com dados práticos sobre o seu cotidiano. Se olharmos os dados do IBGE, notamos que a mulher ainda luta para atingir segurança e espaço na vida pública. Em 2019, foram mais de 37 mil ameaças e 97 feminicídios consumados (que é a expressão máxima do preconceito contra a mulher) no Rio Grande do Sul. E ela também mantém a jornada dupla, trabalhando fora e dentro de casa, recebendo menos do que homens, assim como sendo maioria no cuidado da casa e dos filhos. Contudo, a mulher não está ou não deveria estar sozinha.
O debate sobre sua condição é crescente durante o século 20 até hoje, atingindo um ponto em que o que antes ficava restrito à tradição oral, passada de mulher a mulher, na família se torna um tema social. Com o passar do tempo, a mulher, em diferentes áreas, foi e vai demarcando sua presença, elaborando sua bagagem e reparando uma lacuna milenar. Mas a situação política é atravessada por posicionamentos conflituosos em relação ao que seria ser mulher, quais seriam os interesses e quais os direitos que ela tem.
Nessa dimensão, notamos que essa luta cultural não é instantânea ou linear, mas prolongada e que necessita de debate e honestidade intelectual para se construir. O medo de situações ocultadas, antes, pela vergonha e o silenciamento, gera pânico. A condição da mulher hoje é, mais do que nunca, a condição da coragem. Ter consciência de si e de sua trajetória histórica pode ser o embasamento para um futuro mais justo, bem como fonte de embates com quem acredita, mesmo usufruindo das conquistas desse pensamento, que a mulher deve retornar ao seu lugar de anjo do lar.
Como escreveu Virginia Woolf, é muito mais difícil matar um fantasma do que matar uma realidade. Esse fantasma, de anjo do lar, bondoso e que busca satisfazer as necessidades de todos, menos a sua, colocando-se como subalterno em sua própria realidade, esse anjo que, em 1931, quando a escritora leu seu artigo – que já era antigo – falando de sua experiência, pode ser percebido em cada uma, não como vitimização, mas como impulso para mudança. Cisgênero ou transgênero, em sua plenitude de ações, desejos e escolhas (uma mulher morre a cada dois dias por aborto inseguro), seja trabalhando, decidindo sobre seu corpo ou saindo à noite, cabe lidarmos com uma sociedade ainda embrionária na busca por igualdade.