Ao lado do Restaurante Bellamina, que funciona na antiga sede administrativa da Companhia Brasileira do Cobre (CBC), uma estátua em concreto de um extraterrestre dá boas-vindas a quem se hospeda na pousada de mesmo nome:
— Ele representa os seres azuis. Eles estão por aí, pelo pátio — assegura a empresária Guacira Pavão, 60 anos.
Proprietária dos dois negócios, que administra em parceria com o marido, Luiz Pavão, ela defende que a área é um portal para um dos únicos nichos que seguem levando gente a Minas do Camaquã: o turismo ufológico. Estudiosa da doutrina espírita, diz que os alienígenas que circulam por lá são arcturianos, espécie de E.T. "do bem", muito antigos e evoluídos espiritualmente. Eles teriam sido avistados por crianças que participam das atividades de um centro espírita no local. A estátua foi construída no ano passado, como uma homenagem.
Os contatos de Guacira com o que acredita serem aliens são mais antigos. O primeiro ocorreu no final dos anos 1980, quando, em uma noite de verão, suas filhas avistaram no céu elementos brilhantes que lembravam lâmpadas fluorescentes. Os objetos, segundo ela, movimentavam-se em diferentes direções, até desaparecerem no horizonte. Quase uma década depois, ao viajar de carro em direção a Santa Maria, percebeu uma luz branca vindo na direção contrária do sol, atrás do veículo. O objeto que a emanava, segundo recorda, tinha grandes proporções e uma base metálica.
— Quando se aproximava, o carro trepidava. Mas eu já não tinha medo, porque no espiritismo sabemos que há outras espécies, mais evoluídas, que vivem em outros planetas. É natural — diz a mulher, que participou, em 2019, de uma série documental do canal History sobre o assunto.
Relatos de fenômenos atípicos no céu de Minas do Camaquã são comuns entre moradores, e despertam, há anos, o interesse de ufólogos. Quase duas décadas atrás, a fama atraiu integrantes do Projeto Portal (hoje Dakila Pesquisas), fundado por Urandir Fernandes de Oliveira, "pai" do ET Bilu (suposto alienígena que, em um vídeo, manda a humanidade "buscar conhecimento"). À época da liquidação de imóveis, o grupo adquiriu os pavilhões que funcionavam como alojamento.
— Sabíamos de antemão que essa região é considerada um hotspot, um ponto quente para fenômenos, não só no céu, mas na mata, na natureza em geral. A gente já se comunica com muitas dessas energias de forma verbal, telepática e codificada. Às vezes, até com as pedras: se uma pedra cai, é sim. Sem pedra, é não — diz o ufólogo Marcus Rigo.
Segundo Rigo, que mora na Capital, a concentração de minerais da área seria a responsável pelo "magnetismo energético" que possibilita a ocorrência desse tipo de contato. Apesar disso, seu grupo praticamente extinguiu as visitas ao local desde que fundaram Zigurats, um condomínio no interior do Mato Grosso do Sul.
Mais recentemente, a região tem atraído grupos xamânicos, umbandistas e outros interessados na aura mística. A movimentação intriga a comerciante Luciana dos Santos:
— Extraterrestre eu nunca vi. As naves que eu vejo são as deles, passando. É carro do ano, carro importado. É um público culto, com ensino superior — sorri.
Para o doutor em astrofísica e professor da UFRGS Rogério Riffel, é pouco provável que os objetos avistados em Minas do Camaquã tenham relação com aliens. Ele explica que, de fato, a vila está situada em uma área onde há anomalias no campo magnético que, ao interagir com partículas elétricas, podem interferir no funcionamento de equipamentos como satélites e redes elétricas. Mas isso, conforme o pesquisador, não tem influência sobre o que se vê no céu.
— Astrônomos são pessoas que observam o céu e não relatam ufos, porque sabem o que estão olhando. Muitos (fenômenos) têm origens naturais, explicáveis.