— Como eu vou fazer com quatro crianças em casa? — essa foi a pergunta que a farmacêutica Ana Caroline Porto, 34 anos, se fez ao ver o resultado do primeiro exame de imagem gestacional, em maio deste ano.
A incredulidade de Ana Caroline era comparável à surpresa do marido Leandro Machado, 39 anos, que, sentado ao seu lado, não conseguiu verbalizar o que sentia diante da novidade, ou melhor, das quatro novidades que viriam ao mundo dentro de alguns meses.
Agora, com os bebês Lavínia, Larissa, Heitor e Lauren nos braços, após 46 dias de internação na Unidade de Tratamento Intensivo (UTI) da Santa Casa de Misericórdia de Porto Alegre, o casal se encaminha para casa. Será em Bagé, na prática, onde vão lidar com os desafios da maternidade e da paternidade.
Há alguns anos, Ana Caroline e o companheiro partilhavam o desejo de se tornarem pais. Quando ela completou 30 anos, decidiram que era chegada a hora de tentar. Aos 33 anos, a farmacêutica engravidou naturalmente e, apesar da existência de casos de gêmeos na própria família e de duplos e quíntuplos pelo lado do marido, jamais passou pela cabeça do casal que eles seriam os escolhidos da vez.
Marco Reichelt, chefe do Serviço de Neonatologia da Santa Casa, afirma que casos como este são raros no mundo.
— (A chance do) Nascimento de quadrigêmeos é de um para cada 700 mil (de forma natural). Este tipo de gravidez é resultado de uma alteração do acaso no momento da concepção. Às vezes, o histórico familiar contribui também — explica.
Reichelt ressalta também que a gestação se torna mais inusitada ainda pelo fato de que três crianças foram concebidas juntas e a quarta, dias depois.
Gravidez de alto risco
Assim que a notícia foi anunciada, a rotina da mamãe de primeira viagem foi bruscamente alterada. Por ser uma gravidez de alto risco, Leopoldo Konzen, obstetra de Ana Caroline, a afastou do trabalho. A profissão de farmacêutica a fazia permanecer, em média, sete horas em pé. Além disso, um leve sangramento registrado, no início da gestação, ratificou a decisão do especialista, conta ela.
— Eu fiquei proibida de fazer toda e qualquer atividade doméstica. Mas eu dava minhas escapulidas e sempre dava um jeito de fazer alguma coisinha de limpeza na casa ou cozinhar. Fiz isso até o momento em que minha barriga permitiu, porque, aos cinco meses de gravidez, ela estava muito pesada. Entrei em repouso absoluto em agosto e assim fiquei até outubro (mês em que os quádruplos nasceram) — relata.
Em meio à espera pela vinda dos nenês, foram realizados um chá de fralda e dois futefraldas (uma espécie de chá de fraldas entre os papais) para arrecadar roupas, brinquedos entre outros itens. Os quatro berços, branquinhos, já foram adquiridos, e o quarto foi pintado de lilás com branco para receber os novos hóspedes da casa.
“Não acreditei quando a bolsa rompeu”, diz a farmacêutica
Por oferecer maior infraestrutura, Ana Caroline foi aconselhada pelo obstetra, de Bagé, a refazer e fazer novos exames de acompanhamento dos bebês na Santa Casa. Aqui, ela ficava na casa de passagem que o município da campanha oferece aos bajeenses que vêm se consultar na Capital. Ao todo, foram quatro vindas ao complexo hospitalar até que, no dia 23 de outubro, ela já não voltou para casa.
Por decisão da médica Ana Paula Moreira, a mamãe teria que ficar na cidade, porque as crianças poderiam nascer a qualquer momento. E nasceram mesmo. No dia 27 de outubro, quando, com o auxílio de uma amiga, ela se preparava para tomar banho, a bolsa se rompeu:
— Falei para a minha amiga que aquele líquido não era nada, deveria ser xixi. Ela teimou que a bolsa havia rompido, mas não acreditei. Terminei meu banho e só então fui para a Santa Casa. Chegando lá, o médico disse que eu já estava com cinco dedos de dilatação — conta, aos risos.
Lavínia, Larissa, Heitor e Lauren nasceram entre 15h26min e 15h31min daquele dia, por meio de cesárea, com peso que variava entre 1,2 kg e 1,4 kg. Nesta quinta-feira (12), ao receberem alta, eles se tornaram atração entre os passantes, teve até pedido de foto com as pequenas celebridades.
Apesar dos poucos dias de vida, a mamãe já consegue identificar as diferenças entre os recém-nascidos:
— Heitor é muito sério, Larissa é uma fera, a Lavínia tem seus momentos de choro e tranquilidade, já a Lauren é extremamente calma.
Ela revela ainda que, agora, com a chegada dos pequenos, dois itens são mais do que bem-vindos:
— Ajuda para cuidar e fraldas, muitas fraldas. Esse vai ser o único presente que vamos querer para os próximos anos.
Os quadrigêmeos :
- Lavínia 1.336kg, 38cm, 15h26
- Larissa 1.234kg, 35cm, 15h27
- Heitor 1284kg, 37cm, 15h29
- Lauren 1414kg, 40cm, 15h31