Alvos de críticas e piadas, mas também vistos como aquelas pessoas que vão dar o “empurrãozinho” que falta, os coaches têm sido centro de discussões. Debate-se sua função e se pode ser considerada uma profissão de verdade. Discute-se a possibilidade de criminalizar a atividade ou de, ao menos, regularizá-la. Os coaches, atentos a todo esse contexto, seguem proliferando – e garantindo que a profissão é, sim, válida, mas há maus agentes que mancham a reputação de toda a classe.
Seja como for, o coaching tem se difundido como uma prática comum no Brasil. Tanto que há até uma data comemorativa: 12 de novembro é considerado, em alguns Estados, o Rio Grande do Sul entre eles, o Dia do Coach.
— Esse é mais um reconhecimento, validação e credibilização de todo o movimento e prática dos profissionais em coaching em nosso país e do crescimento exponencial e da importância que a metodologia vem ganhando no Brasil — sustenta José Roberto Marques, presidente do Instituto Brasileiro de Coaching (IBC). — O coaching não é moda, mas um movimento, um campo de atuação profissional que vem se desenvolvendo e veio para ficar, seja para aqueles que desejam melhor qualidade de vida, desenvolver liderança, psicólogos que desejam mais ferramentas para sua atuação, profissionais que querem dar um “up” em suas carreiras, ou mesmo àqueles que desejam se tornar coaches profissionais — prossegue JRM, como é conhecido.
O mercado acabou confundindo muito. Misturaram conceitos errados de coaching, de terapia, de hipnose e de programação neurolinguística. O coach não tem formação apropriada para trabalhar como terapeuta, ele não trabalha com patologias, com traumas, com coisas relacionadas ao passado. O foco do coach é trabalhar do presente para o futuro.
RONALD DENNIS PANTIN FILHO
Presidente da Sociedade Gaúcha de Coaching
Na teoria, qualquer pessoa pode se tornar um coach, desde que domine os conhecimentos dentro da sua área. Na prática, é preciso também estar preparado para lidar com pessoas, ajudar os clientes a identificar limites, superar desafios e desenvolver o seu potencial.
Mas o que exatamente faz um coach?
— O coach é um profissional que ajuda pessoas e organizações a saíram de um ponto A, que nós chamamos de “estado atual”, e levar as pessoas ou organizações a um ponto B, que nós chamamos de “estado desejado”. O que diferencia isso de outras profissões é o método: o coach não dá o peixe, ele ensina a pescar. É a arte das perguntas poderosas, a arte das perguntas transformadoras — define Ronald Dennis Pantin Filho, presidente e fundador da Sociedade Gaúcha de Coaching (SGC).
O coach, ele garante, não tem nada a ver com terapia, com psicologia, com consultoria, com mentoria. Justamente, explica Ronald, pela forma como o processo é tratado, baseado em perguntas e provocações.
— O mercado acabou confundindo muito. Misturaram conceitos errados de coaching, de terapia, de hipnose e de programação neurolinguística. O coach não tem formação apropriada para trabalhar como terapeuta, ele não trabalha com patologias, com traumas, com coisas relacionadas ao passado. O foco do coach é trabalhar do presente para o futuro — afirma Ronald, que é master coach, alguém que treina outros coaches.
E como exatamente se “forma” um coach?
Os cursos de preparação para ser coach – o treinamento do treinador, como se diz – lançam mão, dependendo da “escola”, de diversas técnicas e recursos da programação neurolinguística, da gestão de pessoas, da psicologia, da sociologia e outras áreas da ciência. Capacitado e certificado em coaching e nos seus métodos, usados para o desenvolvimento humano, esse profissional pode começar a atuar. Os valores cobrados por um curso ou uma sessão no acompanhamento do cliente variam de acordo com a duração do processo, o tipo de projeto e a experiência do coach. Pessoalmente ou via internet, esses profissionais atendem aos mais variados casos: desde pessoas em busca de uma promoção no emprego, de um relacionamento amoroso ou até de um “despertar espiritual”.
Cuidado com quem ultrapassa barreiras
Com a multiplicação de coaches, vêm também as críticas. A life coach Daniela Peroneo acredita que o maior alvo delas são os coaches que ultrapassam as barreiras do seu trabalho, atuando, por exemplo, na tentativa de “tratar” pessoas que sofrem de depressão.
— Um coach só poderia trabalhar em um caso assim junto a um psiquiatra que liberaria seu paciente para o processo. Creio que nunca um profissional deve pretender realizar o trabalho de outro — afirma Daniela.
Como é uma carreira sem barreiras, todo mundo se sente à vontade para tentar, e isso dá margem para o caos. Tem quem se identifica como coach e propõe a cura de doenças, uma prosperidade imediata. O que você vê em quadros humorísticos... muito daquilo é verdade. Por isso é preciso procurar profissionais sérios e comprovadamente competentes.
MARCUS BAPTISTA
Vice-presidente da International Coach Federation (ICF) no Brasil
Ela afirma, também, que vê as pessoas “generalizando os coaches como se todos fossem iguais”, sem compreender que cada um possui formações diferentes, tipos de atuação diferentes, que geralmente complementam seu trabalho:
— Realmente há escolas de coaching sem diplomas válidos, que se resumem a papéis sem associação com universidades e institutos referência de coaching. Além disso, também existem pessoas que usam técnicas sem embasamento científico ou sem pesquisa e conhecimento adequado e isso também é complicado e precisa ser analisado. Ser coach exige muito preparo, conhecimento e experiência com desenvolvimento humano.
Para Bruno Calderaro, ligado à Sociedade Brasileira de Coaching (SBCoaching), também quem passa mais tempo em rede social que de fato atendendo clientes não é exatamente um coach.
— No meu entendimento, esse efeito ocorre, porque o denominado coach, não consegue convencer uma pessoa frente a frente dos benefícios do processo, dos ganhos, e do valor de contratar um coach, e com isso, ele acaba gerando formas, muito mais teatrais do que de fato funcionais — explica Calderaro.
O principal problema para esses profissionais, garante Marcus Baptista, vice-presidente da International Coach Federation (ICF) no Brasil, são os “picaretas” que vendem soluções mágicas como uma “reconfiguração de DNA” ou uma tal “cura quântica”.
— Como é uma carreira sem barreiras, todo mundo se sente à vontade para tentar, e isso dá margem para o caos. Tem quem se identifica como coach e propõe a cura de doenças, uma prosperidade imediata. O que você vê em quadros humorísticos... muito daquilo é verdade. Acontece mesmo. Por isso é preciso procurar profissionais sérios e comprovadamente competentes – diz Baptista.
Um coach sério, profissional, sabe muito bem o limite dele e respeita a ética das profissões, garante Baptista. Mas como diferenciar um profissional honesto e um desonesto? O coach explica:
— Acredito que muitas vezes as pessoas que encontram um profissional assim só percebem durante o processo. Mas pessoas que prometem mágica e que tudo será perfeito nunca estarão sendo honestas. Passar por um processo de coaching é um trabalho profundo, de crescimento e, às vezes, crescer dói e depende muito de você agir.
Daniela Peroneo acrescenta que, para evitar decepções, uma dica é que a pessoa em busca de um processo de coaching procure saber de todas as formações que o coach possui e como foi o processo de clientes que tiveram experiência com aquele profissional.
Uma treinadora para a vida
A advogada Joselaine Englert conheceu a life coach Daniela Peroneo em uma palestra.
— Na época, eu não procurava uma coach e nem sabia como realmente funcionava todo o processo — explica Joselaine.
Ela lembra que, durante a palestra, Daniela utilizou uma ferramenta que apresentava, de maneira bem visual, que partes da vida precisavam de um aprimoramento. Jose procurou seu consultório para saber mais sobre o coaching e, no mesmo dia, decidiu que faria todo o processo.
A coach conta que o trabalho sempre começa com sessões que utilizam técnicas de autoconhecimento. Essas técnicas, afirma Daniela, são fundamentadas na área da neurociência, psicologia, educação, administração e são ferramentas que podem ser utilizadas por um coach. Além do emprego dessas ferramentas, desde a primeira sessão o “coachee” (o cliente) sai com ações que deve realizar até a próxima sessão, e essas tarefas caminham tanto na direção daquilo que se quer conquistar como também para o seu desenvolvimento pessoal e das relações que estabelece.
Assim, “vão se tornando natural os ganhos que a pessoa percebe em sua vida”, diz a coach. Para Daniela, que é psicopedagoga e mestre em Educação, sua cliente já tinha uma vida organizada, era muito competente em tudo aquilo que fazia. Mas faltava algo:
— Ela estava em busca de ajustar algumas questões relacionadas a propósito de vida e se sentir mais feliz e responsável na criação da vida que deseja. O processo de coaching está acabando e ela já compreende os caminhos que deve continuar seguindo, isto é, ela é quem “pilota” a vida dela.
Se deu certo? Jose garante que essa foi uma das melhores decisões que já tomou:
— Tive um ganho pessoal enorme... Aumentei meu autoconhecimento, meu autocontrole e descobri tudo aquilo que preciso aprimorar. Hoje, tenho plena ciência do que fazer para conquistar o que quero, e mais.
O que é ser coach
- A “life coach” Daniela Peroneo afirma que ser coach é trabalhar com o desenvolvimento integral de uma pessoa para que ela alcance aquilo que ela deseja alcançar – como uma mudança de carreira, melhores resultados em sua vida profissional e financeira, aumento da autoestima, compreender qual é o seu propósito de vida, entre outros.
- — No processo, o cliente compreende o que está dificultando o alcance da meta desejada, que podem ser crenças que lhe limitam, necessidade de ressignificar algumas questões de sua vida, um maior autoconhecimento, por exemplo. Junto a essa compreensão, é construído um plano de ação e é feito o acompanhamento desse processo passo a passo até a meta ser conquistada — descreve Daniela.
- Para o "master coach" Bruno Calderaro, o coach possui características e funções como qualquer outra profissão.
- — Assim como um engenheiro, um médico ou um advogado possuem técnicas, protocolos, métodos e procedimentos a seguir para obter um determinado efeito, a profissão de coach, possui a mesma lógica. Ser coach, é estudar, se especializar, atuar como profissional da área e se organizar dentro de uma estrutura empresarial.
O que não é
- Daniela Peroneo afirma que um coach não trabalha com pessoas que têm problemas relacionados à saúde mental, como ansiedade crônica, depressão, bipolaridade, por exemplo.
- — Casos de saúde mental devem ser tratados por psicólogos e psiquiatras. Claro que uma pessoa pode estar sendo tratada por um psicólogo e também passar por um processo de coaching, pois são trabalhos diferentes — alerta.
- Um coach, a profissional explica, nunca será alguém com respostas prontas, uma receita pronta e um milagre em mãos: todo o processo é construído conforme a necessidade do cliente. Coaching, defende Daniela, é um processo sério que se realiza mediante a ação constante e adequada em busca da meta desejada.