Segurando uma ponta do vestido com uma das mãos e um copo de refrigerante na outra, Isabeli Rosa, oito anos, dá voltas pelo salão no ritmo da música típica alemã na Oktoberfest de Igrejinha, ou simplesmente "Oktober". O sorriso radiante completa o traje tradicional, com direito a avental e lenço no cabelo.
— Eu venho para a Oktober há dois anos por causa do grupo de dança, mas também tem muita brincadeira no parque — diz a pequena.
O pai de Isabeli, Gilmar Rosa, 35 anos, também era de grupos de dança típica, mas hoje vai à festa só para paparicar os filhos — Artur, nove anos, também é do grupo. Passar a cultura e o amor pela festa alemã totalmente organizada por voluntários para as próximas gerações é o que querem os cidadãos de Igrejinha, no Vale do Paranhana, oficializada como a capital do voluntariado por uma lei estadual sancionada pelo governador Eduardo Leite no início deste mês.
A festa não se resume a shows nacionais e chope, resgata o envolvimento comunitário e o vínculo com a cidade. São 3 mil voluntários trabalhando na organização e no atendimento aos 200 mil visitantes durante os dez dias de festa. Desde a primeira edição, em 1988, a Associação dos Amigos da Oktoberfest (Amifest) já destinou mais de R$ 15 milhões a órgãos de segurança pública, saúde e educação da região. A associação fica com cerca de 10% dos lucros como fundo de reserva para a organização da edição seguinte e o restante é integralmente revertido em doações. No ano passado, foram repassados R$ 1,16 milhão a 87 entidades.
Um dos principais beneficiados é o Hospital Bom Pastor, que acabou de reformar a maternidade graças ao aporte de R$ 425 mil da edição de 2017. No ano passado, com os R$ 380 mil doados pela Amifest, o hospital reformou a farmácia e a agência de transfusão de sangue.
— Esses recursos são fundamentais para que o hospital consiga se manter dentro dos padrões exigidos e ainda oferecer uma estrutura bonita, confortável e funcional — diz a relações públicas do Bom Pastor, Renata Eidelwein.
Pela comunidade, para a comunidade
O presidente da 32ª Oktoberfest de Igrejinha, Ezequiel Stein, destaca o envolvimento da comunidade não só como o segredo da festa, mas também da qualidade de vida na cidade.
— O amor que cada um dos voluntários tem por esta festa é o que mais explica como isso tudo dá certo. Cada um tem suas atividades, mas doa seu trabalho nesses dias e vê o resultado disso nos serviços da cidade. É uma festa de todos para todos — resume Stein, que é empresário do setor de supermercados.
Apresentador das atrações culturais da festa desde 1995, Juliano Müller de Oliveira, 40 anos, fica com os olhos marejados ao falar do significado da Oktoberfest. No celular, mostra uma foto da segunda edição, em 1989, ainda criança, com trajes típicos. Mas esta edição tem um significado especial, pois a filha, Bruna, 10 anos, é a Mädchen, que significa "menininha" em alemão, a soberana mirim da 32ª Oktoberfest de Igrejinha.
— A prosperidade não se faz sozinho, num mundo cada vez mais individualista, Igrejinha vem na contramão, e a paixão que as crianças já despertam por essa festa é a nossa certeza de que isso nunca vai acabar — afirma.
A pequena Bruna partilha do sentimento do pai. Tentou três vezes o título de soberana mirim e não disfarça o orgulho de ostentar a faixa, agora autografada pela cantora Anitta, que foi uma das atrações neste primeiro fim de semana da festa.
— Estou adorando andar pelo parque e apresentar a todas as crianças as brincadeiras e as histórias da Oktober — diz a menininha, com desenvoltura de gente grande.
Jogos germânicos escolares
Para integrar ainda mais o público infantil, que já tem um dia só seu na programação, na quarta-feira (23), a organização do evento introduziu nesta edição os jogos germânicos escolares. Neste primeiro fim de semana, foram três equipes competidoras de escolas particulares e estaduais. No domingo que vem (27), serão 10 equipes de escolas municipais.
— Trazendo mais crianças para a festa, por meio de atividades lúdicas, estamos garantindo o futuro da Oktober — projeta Diego Sperb, coordenador da comissão de cultura.
A Oktoberfest de Igrejinha tem também um dia dedicado a pessoas com deficiência, o Besonderertag, que será na terça-feira (22). A Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais (Apae), que atende 104 pessoas, é outra entidade beneficiada pelo evento, tanto pelo repasse da Amifest quanto pelo lucro da venda de lanches no estande da Apae. Todos os espaços comerciais da festa são de entidades locais, não há tendas alugadas. A diretora da Apae, Silvia Bischoff, que já foi rainha da Oktober em 2006, é mais um exemplo do quanto a festa alemã atravessa a vida de cada morador de Igrejinha.
— Para a Apae, esta é a principal promoção do ano. Sem o lucro da festa, não conseguiríamos investir em melhorias. Hoje, temos três novas salas de atendimento construídas graças a esse dinheiro — exemplifica.
A Oktoberfest de Igrejinha vai até o dia 27 de outubro, com shows de Matheus e Kauan na sexta-feira (25) e Jorge e Mateus no domingo (27), além de jogos germânicos, comida e dança típica no parque. A entrada é franca de terça a quinta-feira, no sábado até as 16h30 e no domingo até as 11h. Nos demais dias e horários, os ingressos custam a partir de R$ 23, conforme as atrações e o local escolhido (há valores diferenciados em camarotes, por exemplo). Estudantes e idosos pagam metade. Quem vai caracterizado com traje típico ganha tickets de água, refri ou chope. Todas as informações estão no site oktoberfest.org.br.