Por Débora Laks
Psicóloga. E-mail: deboralaks@hotmail.com
Ela estava com o celular a postos, absorta em sua tela. Nada mais parecia existir. Mostrava-se tensa e exausta. Absorvida por um excesso de preocupações, de certo.
Estávamos na sala de espera de um pediatra e aquela mulher me saltou aos olhos. Estaria sozinha? Parecia só.
Logo surge um menino:
– Mãe, olha aqui o que eu sei desenhar!
Ele estava desenhando no quadro negro. Ela faz que sim com a cabeça e segue na conexão dela.
Ele insiste:
– Olha onde eu consigo subir!
Está agora em cima do sofá da sala de espera. Deve ter uns cinco anos.
Ela logo diz:
– Desce daí!
O que será que ele estaria comunicando com suas ações?
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Comparando-se o Censo brasileiro de 1960 com o de 2010, ganhamos 25 anos em expectativa de vida. Passamos de 48 para 73,4 anos. O ser humano nunca viveu tanto como hoje em dia. E não temos tempo?
Freud, em 1937, no texto Análise Terminável e Interminável, anuncia a existência de três ofícios impossíveis: curar, educar e governar. Todas ocupações que estão ligadas às relações humanas e à linguagem. Muitos psicanalistas consideram que o pai da psicanálise estaria justamente apontando para a impossibilidade de se ter certeza da mensagem transmitida, a forma como o ouvinte estaria captando o que é dito.
Essa desconexão do discurso e da escuta pode ser vivida por quem educa como fracasso e, por vezes, gera impotência. Seriam estas sensações motivo para nos vermos sem esperança?
Talvez Freud quisesse justamente nos atentar para a impossibilidade de um resultado exato, já que é impraticável dominar o desejo inconsciente do outro. Dessa forma, o impossível do autor é diferente do irrealizável.
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Victor Guerra, psicanalista uruguaio notável no cenário relacionado aos bebês e crianças, falecido em 2017, nos trouxe contribuições importantes em relação ao ritmo no desenvolvimento emocional. Discorreu profundamente sobre a necessidade de os pais se conectarem aos bebês para desenvolverem um ritmo próprio, como uma dança. Escreveu: “É preciso haver um diálogo sensorial, captar as intensidades sensoriais, as necessidades sensoriais, as preferências sensoriais deste bebê e entrar em um ritmo para que, por sua vez, o bebê encontre um ritmo próprio”.
Visitando sites sobre maternidade e assistindo a vídeos de dicas para pais, não é raro encontrarmos fórmulas mágicas para a educação de nossos filhos. Fórmulas para fazer dormir, jeitos impecáveis de alimentar, atitudes para acabar com as birras, as melhores formas de falar e por aí vamos nós. Estaremos nós, pais, exauridos?
Pois, ora, se Freud trouxe justamente atenção para a dificuldade de educar alguém, se todos os dias vamos encontrando jeitos novos de entender nossos filhos, como alguém poderia ter respostas prontas?
Se ganhamos 25 anos de expectativa de vida, como um celular poderia nos sugar a conexão necessária com nossos filhos? Será que o excesso de informação/ansiedade estaria nos desconectando?
Como Victor Guerra nos ensinou através de seus estudos, crianças precisam de interação sensível com seus pais para desenvolverem a subjetividade. Aqueles que são respeitados em seu tempo costumam se desenvolver mais tranquilamente.
Nessa construção, cada olhar é nutridor, e cada dúvida dos pais gera novos passos com o filho, apreciando o jeitinho que está se desenhando. Certamente uma das tarefas mais nobres e difíceis da vida, na qual as frustrações e incertezas estão sempre presentes. No entanto, cada progresso dos pequenos reacende o valor da labuta diária!
