O fim de semana transbordou de fofurice para os apaixonados por gatos. Em lugar de apenas semear emoticons de coração em fotos das redes sociais, eles puderam admirar ao vivo e até acariciar o pelo de belezuras de 11 raças diferentes, durante a 9ª Exposição Internacional de Gatos, realizada em Porto Alegre ao longo do sábado e do domingo.
Os visitantes encantaram-se ao ver de perto espécimes de raças pouco usuais, como o bengal, trazido pelo criador Renato Lorini, 32 anos, de Farroupilha. Mistura de leopardo-asiático com gato doméstico, o bengal tem uma aparência selvagem, de leopardo mesmo, mas é dócil. Exceto quando sente o cheiro de outro macho, o que aconteceu quando Lorini, ao exibir um deles, aproximou-o de outro. Preteou o olho da gateada.
— Ninguém toca neste, que ele está brabo! — avisou Lorini, afastando os dois súbitos inimigos.
Lorini trabalha como vendedor, mas dedica as manhãs à criação de 15 bengals dentro da própria casa, que foi adaptada, com uma área sem acesso aos bichanos. Ele comercializa filhotes, mas é muito seletivo com os compradores. Exige que o novo lar tenha telas que bloqueiem a saída dos felinos.
— Eles não podem chegar perto de gatos de rua, não podem ter contato, por causa de doenças. Um gato destes que sai para a rua não vive dois anos — avisa.
Outro sucesso da exposição foram os sphynx apresentados por Isaura Cristina Goulart, 39 anos, criadora de Porto Alegre. A principal característica dessa raça é que os animais parecem pelados. Eles têm apenas uma discreta penugem cobrindo o corpo — e mal parecem gatos. Um filhote custa entre R$ 4 e R$ 5 mil.
Isaura tem 24 gatos, incluindo um macho e três fêmeas da raça sphynx. De uma ninhada recente de uma das gatas, estão com ela ainda cinco gatinhos.
— Eu criava persas e exóticos, mas parei. Muita gente tem. Escolhi o sphynx pelas características e pelo amor e carinho. Eles estão sempre fazendo companhia, são grudentos, gostam de ficar no ombro da gente.
Isaura afirma que a criação dá muita despesa e que é feita por amor. As vendas ajudam a cobrir os gastos, mas não representam lucro.
— É um hobby bem caro. Dá muito trabalho. Mas compensa — diz.
Depois de apreciar os gatinhos de Isaura, Camille Eismann, 20 anos, estava toda derretida.
— Ai, eles são muito fofos! Sou apaixonada por esses gatinhos sem pelos. E é a primeira vez que eu vejo pessoalmente. A gente sai daqui com vontade de ter um gato. Na primeira oportunidade que der, é certeza — comentou.
Camille viajou duas horas com o namorado, Guilherme Lopes, 20 anos, para visitar a exposição. Os dois moram em Taquara, na Região Metropolitana, e o evento foi realizado no Estádio Cinófilo do Kennel Clube do Rio Grande do Sul, na zona sul de Porto Alegre. Camille e Guilherme gostam de felinos, mas ainda não tiveram a oportunidade de ter um porque os respectivos pais não aprovam.
— Eu não tenho, mas meus amigos têm e visito a casa deles por causa dos gatos — revelou Camille.
Um dos expositores mais experientes era Vilmar Duarte, 64 anos, que mantém 60 exemplares de cinco raças distintas (persa, exótico, himalaio, ragdoll e maine coon) em um galpão com mais de 200 metros quadrados, em Campo Largo, na região metropolitana de Curitiba. Comerciário aposentado, ele se dedica em tempo integral à criação, que começou há 23 anos. Mas sua relação com os felinos é bem mais antiga. Aos 11 anos, Vilmar ganhou da madrinha um gatinho. Quando o companheiro morreu, ficou desgostoso e não quis saber de um substituto. Mas, mais tarde, um amigo chegou com uma fêmea persa, jogou-a dentro da casa de Vilmar e decretou: "É teu".
— A gata levou sete meses até chegar perto de mim. A partir dali, comecei a criar. É uma grande satisfação. Eu tenho cinco gatos dentro de casa. Esses eu não dou ou vendo de jeito nenhum, vivem no meu colo. É assim, você vê o filhote e diz: "Esse eu não vou vender, não tenho coragem". E daí ele vai ficando, ficando, ficando...
Morador de Porto Alegre, Matheus Steffen, 26 anos, levou à exposição Daisy, uma ragdoll que encantava os visitantes com seus olhos azuis cristalinos. Importada da Polônia, ela recém teve uma ninhada de quatro filhotes.
— São a coisa mais fofa. O ragdoll é uma raça que tem como principal característica a docilidade. Ele se adapta bem com crianças e outros bichos. São muito tranquilos — contou Steffen.
A criação de exemplares da raça ragdoll é um empreendimento familiar. A ideia veio da mãe de Matheus e hoje envolve também o marido dela e dois filhos, que se dividem com os afazeres. Eles têm no momento 18 gatos (entre adultos e filhotes) em casa.
— Já chegamos a ter 30, mas quase enlouqueci — contou Matheus.
Segundo o jovem, para tirar dinheiro da criação de gatos é preciso um esquema industrial, que envolve responsabilidade e dedicação a animais que merecem respeito e afeto. No caso da família, trata-se de um complemento de renda.
— Em 10 anos, comprei um apartamento. Mas é um risco (como profissão e investimento). O primeiro gato que importamos dos Estados Unidos custou R$ 20 mil e não reproduziu.
Cerca de 80 exemplares estiveram expostos ao público durante a exposição e também passaram pelo crivo de juízes especializados, que distribuíram pontuações válidas para rankings mundiais. Dois dos quatro julgadores foram importados: o argentino Carlos Lopez e a austríaca Katharina Krenn. Entre os juízes brasileiros estava a veterinária Aline Broda, 38 anos, que para chegar à função teve de atravessar mais de uma década de treinamentos em diferentes cargos auxiliares até ser habilitada, em 2015. Exibindo um manual com explicações sobre quais são os critérios de julgamento de cada raça, ela afirmou que há pouco espaço para subjetividade no julgamento.
— Às vezes, têm dois gatos muito parecidos e posso achar que hoje um está melhor, se mostrando mais. Amanhã pode ser diferente — contou.
Presidente da União dos Criadores de Gatos do Brasil (Unigat BR), entidade que realizou a exposição, Rodrigo Ustra, é um arquiteto e servidor público que cria gatos por hobby. Quando vai vender algum, faz questão de alertar que os custos são altos. Uma doença, por exemplo, pode representar gastos de R$ 4 mil em veterinário. Ele observa que os criadores sérios só vendem gatos castrados, por uma série de fatores, como o temperamento e o controle populacional — uma gata não castrada pode somar 200 descendentes no período de apenas dois anos.