Nesta segunda-feira (26), os alunos do Instituto Estadual de Educação Assis Chateaubriand, em Charqueadas — invadida por um ex-aluno que atacou estudantes com uma machadinha — dedicaram os turnos da manhã e da tarde a atividades lúdicas. As crianças e adolescentes confeccionaram cartazes com desenhos e frases expressando seus sentimentos.
Foi o início de uma série de atividades para lidar com o choque causado pelo ataque. Patricia Sanchotene, coordenadora da Comissão Interna de Prevenção de Acidentes e Violência Escolar (Cipave), relata que, logo no dia posterior ao ataque, foi promovido um círculo de reconstrução da paz com os alunos.
— Ali, eles tiveram oportunidade de falar o que sentiam. No início da ação, eles relataram que estavam assustados, angustiados. Ao término do diálogo, já teve uma mudança de postura no enfrentamento do problema e eles disseram que estavam esperançosos e mais tranquilos de que as adversidades seriam superadas — afirma Patricia, que disse ainda que esta ação será desenvolvida ao longo das próximas semanas com a comunidade escolar.
No Brasil e no mundo, outras instituições de ensino passaram por situações semelhantes, até mais graves. Veja, abaixo, como elas reagiram.
Escola Estadual Coronel Benedito Ortiz, de Taiúva, em São Paulo
Com um revólver, Edmar Aparecido Freitas, 18 anos, ex-aluno da Escola Estadual Coronel Benedito Ortiz, de Taiúva, São Paulo, invadiu o pátio da instituição, atirou em alunos, professores e funcionários. O fato ocorreu em janeiro de 2003. A então vice-diretora, Maria de Lurdes Fernandes, traçou com professores e demais profissionais do setor pedagógico um plano de atividades para socializar as crianças.
Atividades que abordavam a diversidade dos indivíduos foram colocadas em prática em todas as disciplinas. Jogos e competições em duplas e grupos passaram a ser prioridade para estimular a divisão de responsabilidades e cooperativismo. Livros e filmes sobre bullying e relacionamento interpessoal entraram no planejamento pedagógico das aulas.
Atenção especial foi dada aos mais introvertidos. Aqueles que continuavam tendo dificuldade de demonstrar seus sentimentos foram encaminhados ao setor de orientação educacional:
— Ali, desenvolvíamos outras ações para que o aluno pudesse se abrir conosco. A partir daí, relatávamos a situação com os pais para que eles pudessem buscar auxílio profissional. Esse processo foi muito importante, porque envolveu toda a escola. Professores, alunos e funcionários. Quando um percebia que um aluno apresentava comportamento diferente, isso já nos era comunicado. Além disso, a longo prazo, o trabalho melhorou a convivência entre todos. Porque as crianças passaram a incluir aqueles que eram mais quietinhos — lembra Maria de Lurdes.
Escola Municipal Tasso da Silveira, de Realengo, no Rio de Janeiro
Em abril de 2011, Wellington Menezes de Oliveira matou 12 alunos em ataque na Escola Municipal Tasso da Silveira, no bairro Realengo, na zona oeste do Rio de Janeiro. Com dois revólveres com acelerador de disparos e munição em um cinto especial, Oliveira atirou contra as crianças.
Desde a tragédia, a escola tem trabalhado ideias como a inclusão, diversidade e bullying junto aos estudantes. A segurança também foi reforçada com a presença de funcionários do colégio que controlam a entrada e saída de pessoas.
Colégio Goyases, de Goiânia, em Goiás
Com uma pistola .40 da mãe, que é policial militar, um adolescente de 14 anos matou dois colegas e feriu outros quatro a tiros, em outubro de 2017, no Colégio Goyases, em Goiânia, Goiás. A ação do jovem teria sido motivada por bullying, segundo investigação da Polícia Civil.
Na época, a direção da escola permitiu que pais dos alunos da Educação Infantil ficassem com os filhos na sala de aula. Além disso, o primeiro dia foi dedicado à confraternização entre todos. Atividades lúdicas foram promovidas e foi disponibilizado para pais e alunos suporte psicológico com a oferta de 20 psicólogos. Aqueles que não conseguiam sair de casa contaram, inclusive, com atendimento terapêutico em casa.
Creche de Janaúba, em Minas Gerais
Também em outubro de 2017, um homem ateou fogo a crianças de uma creche em Janaúba, no norte de Minas Gerais. Nove crianças e uma professora morreram no ataque. O responsável pelo crime era segurança na instituição.
Após o ocorrido, os pais e responsáveis dos alunos foram acolhidos por psicólogos e pedagogos em um encontro promovido pela prefeitura da cidade. Os funcionários da escolinha também foram recepcionados e atendidos.
Escola Estadual Professor Raul Brasil, de Suzano, em São Paulo
Em março deste ano, dois ex-alunos - um adolescente de 17 anos e um homem de 25 anos - invadiram a Escola Estadual Professor Raul Brasil, em Suzano, no estado de São Paulo. Eles mataram duas funcionárias da instituição, cinco alunos e um comerciante da região.
Na retomada das aulas, foram feitas atividades esportivas, artísticas e rodas de conversa. Foi oferecido, ainda, atendimento psicossocial para funcionários, alunos e familiares com equipes do Centro de Atenção Psicossocial (CAPS) de Suzano, psicólogos da Secretaria de Educação do Estado de São Paulo e Universidade de São Paulo (USP).
Universidade de Virginia Tech, em Blacksburg, na Virgínia (EUA)
Em abril de 2007, o estudante Cho Seung-Hui, 23 anos, assassinou 32 colegas e professores na Universidade de Virginia Tech, nos EUA. Após uma semana do massacre, as aulas foram retomadas. Na época, o dia foi marcado por homenagens.
Houve liberação de balões e o badalar dos sinos, uma batida para cada uma das 32 pessoas mortas o campus. Em função da magnitude do atentado, a Associação de Governo Estudantil da Virginia Tech emitiu um comunicado pedindo que a mídia respeitasse a privacidade dos estudantes e partisse quando as aulas fossem retomadas.
Além disso, familiares das vítimas receberam o contato direto de e-mail e telefone do presidente do então presidente Instituto Politécnico da Virgínia, Charles Steger, caso precisassem de apoio para buscar ajuda.