Inconscientes, os vieses cognitivos são pré-julgamentos que influenciam o processamento de informações pelo cérebro. Funcionam como atalhos mentais que tornam o pensamento mais fácil e rápido, mas podem ser perigosos ao nos levarem a tomar decisões irracionais.
O School of Thought, uma organização internacional sem fins lucrativos dedicada ao ensino de habilidades de pensamento crítico e criativo, selecionou os 24 vieses cognitivos que mais embaraçam a sua vida.
A lista foi publicada em dezembro do ano passado no site do Fórum Econômico Mundial. Confira:
Ancoragem
- A ordem em que recebemos as informações contribui para determinar o curso das nossas percepções. Por isso, a primeira informação que acessamos é sempre a mais relevante e influencia todos os demais julgamentos.
- Dica: fique atento a esse viés especialmente durante negociações, como a compra de uma casa ou de um carro. O preço inicial oferecido terá um efeito significativo na sua mente na hora de fechar o negócio.
Custo afundado
- Um projeto no qual investimos tempo, dinheiro ou emoções é mais difícil de ser abandonado. Por causa desse apego irracional ao que já nos custou algo, podemos distorcer os julgamentos e fazer investimentos imprudentes.
- Dica: pergunte a si mesmo se você já não investiu o suficiente em algum projeto sem retorno, se você repetiria esse investimento caso pudesse voltar atrás e como aconselharia um amigo na mesma situação.
Otimismo
- Resultados positivos costumam ser superestimados. Até pode ser benéfico manter uma atitude positiva, mas é imprudente permitir que ela afete a nossa habilidade de fazer julgamentos racionais.
- Dica: faça julgamentos realísticos.
Pessimismo
- A probabilidade de resultados negativos também pode ser superestimada. Esse costuma ser um mecanismo de defesa contra desapontamentos, mas pode levar a quadros de depressão e ansiedade.
- Dica: lembre-se de que, mesmo se algo de bom acontecer, você tende a continuar pessimista.
Efeito Dunning-Kruger
- O quanto menos sabemos sobre um assunto, mais confiantes nos sentimos sobre ele. E o contrário também é verdadeiro. Por isso, muitos especialistas tendem a subestimar suas próprias habilidades, reconhecendo o quanto ainda desconhecem.
- Dica: procure desconfiar das suas certezas. Em um mundo cada vez mais dinâmico e rápido, lembre de questionar as respostas simples dadas para problemas complexos.
Efeito Backfire (tiro pela culatra)
- Desafios às nossas crenças nos levam a acreditar de modo ainda mais forte nelas. Assim, sentimos que um ataque a uma ideia parece um ataque contra nós mesmos.
- Dica: aquilo que desconhece nunca irá colocá-lo em encrenca, mas aquilo que você sabe, irá.
Efeito de enquadramento
- O contexto influencia muito. Acreditamos que pensamos de modo independente, mas somos condicionados pela forma como as informações são apresentadas e pelas sugestões sutis que elas oferecem.
- Dica: tenha humildade intelectual para aceitar que você pode ser manipulado e procure estabelecer limites a essa influência, prestando atenção ao modo como as coisas são apresentadas – as propagandas, por exemplo.
Egoísmo
- Nossos fracassos tendem a ser percebidos como fruto de fatores externos. Porém, os sucessos são vistos como mérito próprio.
- Dica: pare de culpar as circunstâncias pelos erros e se conscientize desse viés antes de julgar os outros.
Efeito Barnum
- As declarações vagas fazem com que tapemos os seus buracos, uma vez que a nossa mente está sempre em busca de conexões. Por isso, nos apropriamos de manifestações nebulosas para interpretá-las e fazê-las parecerem pessoais.
- Dica: profissionais como astrólogos e médiuns se utilizam desse viés para fazer você sentir que estão falando algo relevante. Mas essas coisas podem se aplicar a qualquer um, não só a você.
Hipótese do mundo justo
- O desejo de que o mundo seja justo nos leva a presumir que ele existe. Por isso, uma realidade em que as pessoas nem sempre recebem aquilo que merecem ameaça a narrativa que construímos na mente.
- Dica: dê mais ênfase à compreensão do que à culpa. Cada um tem a sua própria história, todos podem cometer falhas e coisas ruins acontecem mesmo com pessoas boas.
Endogrupal
- O sentimento de pertencimento faz favorecer quem se parece conosco.
- Dica: imagine-se na posição de quem está de fora do seu grupo e tente ser desapaixonado com quem está dentro dele.
Erro fundamental de atribuição
- O julgamento que fazemos dos outros sempre é pelas suas características, enquanto nos julgamos pela situação. Se tivemos uma noite ruim de sono, sabemos por que estamos mais lentos no dia seguinte. Se vemos alguém mais devagar, presumimos que é uma pessoa lenta.
- Dica: você será mais atencioso – e objetivo – ao reconhecer o contexto em que vive outra pessoa.
Efeito do espectador
- Em uma emergência em espaço público, presumimos que alguém irá tomar alguma atitude e não reagimos. Ocorre uma espécie de paralisia mental que nos distrai do senso de responsabilidade pessoal.
- Dica: presuma que você será a pessoa que irá ajudar ou chamar ajuda. Tente ser a mudança que você quer ver no mundo.
Heurística de disponibilidade
- Os nossos julgamentos são influenciados pelo que nos salta à mente com mais facilidade. Por isso, memórias recentes são mais poderosas e parecem mais relevantes.
- Dica: procure novas perspectivas e estatísticas ao invés de confiar no seu primeiro julgamento.
Maldição do conhecimento
- Uma vez que entendemos algo, presumimos ser óbvio para todos. Assim, acabamos esquecendo o quão complicado é o caminho para o conhecimento.
- Dica: tente ir devagar ao ensinar algo novo a alguém, repita as informações mais importantes e cite exemplos práticos.
Crença
- Uma conclusão que vai de encontro às nossas crenças tende a ser racionalizada e amparada. Por isso, é tão difícil nos afastarmos do que acreditamos e levar em consideração os méritos de um argumento. Na prática, é como se nossas ideias fossem impenetráveis à crítica.
- Dica: pergunte a si mesmo quando e como você chegou a essa crença ao invés de defendê-las automaticamente.
Declinismo
- O passado tende a ser lembrado melhor do que realmente foi, enquanto esperamos um futuro bem pior do que provavelmente seja. Mesmo estando no momento mais próspero e pacífico da história, muitos acreditamos que está ficando pior.
- Dica: desvie dos pensamentos nostálgicos e use métricas mensuráveis – como a expectativa de vida, os dados de criminalidade e os índices de qualidade de vida.
Pensamento de grupo
- A dinâmica social influencia nossas decisões em uma situação de grupo, uma vez que a divergência pode ser desconfortável e perigosa. A opinião daquela pessoa mais confiante – ou da que fala primeiro – costuma determinar a decisão dos demais.
- Dica: procure manter um pensamento crítico em atividades em grupo e avaliar as situações com objetividade.
Negatividade
- Sentimos a dor do sofrimento e da perda com mais intensidade do que a alegria da gratificação e do prazer.
- Dica: liste os prós e os contras para fazer avaliações mais objetivas.
Efeito placebo
- Um remédio, mesmo falso, pode fazer efeito se acreditarmos que ele irá funcionar. Isso pode acontecer em situações que são controladas pela nossa mente, como dores, mas não em viroses ou fraturas.
- Dica: a homeopatia, a acupuntura e outras formas de medicina natural são mais efetivas do que o efeito placebo. Mantenha-se saudável usando a medicina baseada em evidências e consultando um médico.
Confirmação
- Informações que confirmam nossas crenças recebem atenção especial. Somos mais propensos a procurar e concordar com aquilo que consente com nossas hipóteses e ignorar e discordar do que contrasta.
- Dica: assuma suas ideias como uma espécie de software no qual você está tentando encontrar problemas em vez de procurar pensamentos para serem defendidos.
Efeito auréola
- O quanto gostamos ou achamos alguém atraente influencia o nosso julgamento sobre essa pessoa. Isso ocorre porque os nossos juízos são automáticos e é especialmente importante na vida profissional.
- Dica: fique atento aos seus julgamentos. Se quiser ser objetivo, você precisa controlar conscientemente essas influências.
Reatância
- O oposto do que alguém nos pede costuma ganhar mais a nossa disposição do que o pedido em si. Isso porque sentimentos que a nossa liberdade está sendo ameaçada e queremos resistir.
- Dica: cuide para não perder a objetividade quando alguém está lhe pedindo algo. A sabedoria está mais ligada à reflexão do que à reação.
Efeito holofote
- O que os outros pensam sobre nós mesmos costuma ser superestimado. No geral, a maioria das pessoas está bem mais preocupada em si mesmo do que em você.
- Dica: considere como você faz os outros se sentirem ao invés de se preocupar como lhe julgam. É assim que as pessoas lembram umas das outras.