Férias escolares de inverno não precisam ser sinônimo de viagens e de gastos. Em tempos de crise, dá para aproveitar os poucos dias de descanso para colocar em prática coisas simples e que pesam quase nada no bolso. Atividades caseiras e aproximação familiar são excelentes para impulsionar o desenvolvimento infantil sob diversos aspectos, afirmam especialistas. A criatividade é a estratégia para driblar o período sem aula, equilibrando brincadeiras e momentos de ócio.
— Acho importante dissociar a brincadeira do consumo. Com pouco dinheiro, se faz muita coisa, desde que a proposta seja feita com emoção e qualidade — defende a pedagoga Magdalene Espíndola, orientadora educacional do Colégio João Paulo I – Unidade Sul.
Com esse mantra em mente, o céu é o limite: de uma simples caminhada com o animal de estimação até um cinema em casa, tudo pode trazer diversão e até aprendizagem. Uma dica bastante fácil de ser colocada em prática é apostar nas brincadeiras de rua. De acordo com a neuropsicóloga Rochele Paz Fonseca, professora e pesquisadora da PUCRS, estudos recentes sinalizam que essas atividades são as que mais favorecem o desenvolvimento cognitivo, social e emocional dos pequenos.
Sem ideias por onde começar? Além de idas a parques e praças, Rochele, que também é sócia da clínica Conectare, indica outras opções:
— Para o adulto, é difícil brincar espontaneamente, então, a dica que eu dou é lembrar das brincadeiras que eles (os pais) faziam quando criança: brincar de pegar, correr, montar cabana no pátio. Só não pode ser algo forçado, tem de ser algo que os dois gostem.
Outra dica é visitar bibliotecas públicas, livrarias, museus e pontos turísticos da cidade.
— Também dá para fazer um piquenique, aproveitando para preparar as coisas, ir à feira para comprar ingredientes. Fazer as coisas que serão levadas dá outro significado à atividade e, só aí, há dois ou três dias de envolvimento — comenta a pedagoga Magdalene.
Ela sugere que práticas do dia a dia, como o preparo do café da manhã, sejam feitas em família.
— No lugar de comprar suco e bolo prontos, que tal fazê-los? São atividades rotineiras que podem ser divertidas e criativas — diz, acrescentando que oficinas de sucos e cupcakes também são boas saídas que ainda ajudam nas funções cognitivas.
Arrumar o armário pode ser divertido e solidário
Quem não tem muita afinidade com as panelas pode investir em jogos: ensinar as crianças a jogar cartas (como escova e rouba-monte), brincar de memória ou jogos de tabuleiro como Lince e Cara a Cara. Também é uma boa hora para dar aquela organizada nas roupas e nos brinquedos.
— As crianças podem ajudar a arrumar o armário, promover um desfile e separar para doação as roupas que não servem mais — ilustra Rochele.
Teatros, fantoches e brincadeira de troca de papéis – o filho vira pai/ mãe e vice-versa – são ideias que estimulam a empatia e flexibilidade mental.
— Isso a gente tem que trabalhar na infância, pois depois se cria um padrão é preciso mudar — destaca a neuropsicóloga.
Incentivar a leitura também é importante. A pesquisadora da PUCRS diz que a ciência já comprovou que quem tem o hábito na infância reduz os riscos de desenvolver Alzheimer na vida adulta. Um exercício bacana é promover a leitura de livros ou gibis e depois assistir aos respectivos filmes, para compará-los.
Momento familiar
Férias são um ótimo momento para conversar entre a família, planejando os dias seguintes, e conviver mais com tios, primos e avós.
— É importante a convivência com diferentes faixas etárias para resgatar as histórias familiares e estreitar laços parentais — lembra a pedagoga Magdalene.
Na mesma linha, a neuropsicóloga Rochele indica como passatempo organizar fotos:
— Monte a árvore genealógica. Ou uma linha do tempo: “Aqui, tu estás na barriga da mamãe, aqui, tu és bebê, essa foto é quando o mano chegou”.
Isso ajuda no desenvolvimento emocional infantil e na consolidação da memória episódica, que têm impacto significativo na adolescência e vida adulta.
Pratique o nadismo
Tão bom quanto preencher os dias de férias com atividades em família é praticar o chamado nadismo. Ou seja: pisar no freio e não fazer absolutamente nada.
— Estamos em um ritmo frenético e, assim, sobrecarregamos o cérebro. O tempo não precisa ser 100% preenchido. Nadismo é sair do padrão automático. É parar com tudo — explica a neuropsicóloga.
Essas pausas são fundamentais para fomentar o autoconhecimento e a criatividade.
— O que a criança precisa? Tempo e espaço. O resto ela vai criar, planejar e executar. Tendo tempo livre, a criatividade será mais expressada — finaliza Magdalene.