Há uma série de psicólogos americanos que se dedicam a pesquisar o perdão. Uma das descobertas feitas nos últimos tempos é que perdoar pode ser ensinado, como se ensina qualquer outra habilidade. Outra conclusão dos estudos é que não importa muito qual técnica se use, porque no final os resultados são similares. O psicólogo Loren Toussaint, dos Estados Unidos, faz uma comparação com as dietas: é indiferente qual se escolhe, desde que se coma menos e melhor.
— Da mesma forma, aprender a perdoar não depende de escolher a técnica correta, mas sim do compromisso profundo, permanente e vitalício de se tornar uma pessoa mais tolerante. Você faz isso pouco a pouco, dia a dia. É trabalho duro — disse ele a GaúchaZH.
Diante disso, poder-se-ia pensar ser que perdoar está ao alcance de todos e que tudo é perdoável. Na realidade, não é bem assim. O próprio Toussaint reconhece que, embora o perdão seja ensinável, ele também depende da natureza e da personalidade de cada pessoa.
O psicólogo americano Everett Worthington acompanha essa ideia:
— Perdoar não é para todos e talvez não seja para todo mundo todas as vezes. Não é obrigatório. Há muitas maneiras de lidar com as injustiças, incluindo ver a justiça ser feita, buscar a justiça, ver as pessoas sofrerem as consequências do seu comportamento nocivo, entregar as coisas a Deus, tolerar, aceitar, seguir em frente, bem como, é claro, perdoar.
Além das características individuais, as peculiaridades da ofensa também influenciam se será possível ou não alcançar o perdão.
É comum confundir o perdão com coisas como justiça e reconciliação. Perdão tem a ver com o indivíduo se libertar de ressentimentos e avançar para o futuro. Pode às vezes coincidir com a justiça e pode levar à reconciliação, mas nenhuma delas é necessária para perdoar e se livrar da raiva.
LOREN TOUSSAINT
PSICÓLOGO AMERICANO
— A facilidade de perdoar depende do tamanho da injustiça que alguém está tentando perdoar — acrescenta Worthington.
Um outro fator que pode ajudar, segundo o especialista, é se o ofensor expressa remorsos sinceros, manifesta arrependimento, pede desculpas ou oferece algum tipo de reparação. Nesse caso, pode ser mais fácil perdoar. Mas um detalhe para o qual os pesquisadores chamam atenção é que o perdão não deve ser confundido com reconciliação e não depende de que justiça seja feita. Ele está em um universo distinto.
— É comum confundir o perdão com coisas como justiça e reconciliação. Perdão tem a ver com o indivíduo se libertar de ressentimentos e avançar para o futuro. Pode às vezes coincidir com a justiça e pode levar à reconciliação, mas nenhuma delas é necessária para perdoar e se livrar da raiva — afirma Toussaint.
Existem diferentes estratégias desenhadas por especialistas para ajudar alguém que quer perdoar. As duas mais conhecidas são um modelo em nove fases, desenvolvido pelo psicólogo Frederic Luskin, diretor do Projeto Perdão, da Universidade Stanford, e o método REACH (em inglês, alcançar), criado pelo psicólogo Everett Worthington. Veja abaixo:
Os nove passos de Frederic Luskin
- Conheça o problema: saiba exatamente como você se sente a respeito do que aconteceu e seja capaz de explicar o que não está certo na situação. Depois, fale sobre suas experiências com pessoas em quem confia.
- Comprometa-se: assuma um compromisso com você mesmo de fazer o que for necessário para se sentir bem. O perdão é para você e para ninguém mais.
- Busque a paz: o perdão não significa necessariamente uma reconciliação com a pessoa que o feriu, nem tolerar o ato que ela cometeu. Você está em busca de paz. O perdão pode ser definido como “a paz e a compreensão que vêm de encarar a experiência vivida de forma menos pessoal e de mudar sua narrativa de mágoa”.
- Ponha em perspectiva: tenha uma visão correta do que está ocorrendo. Reconheça que seu estresse está vindo dos sentimentos feridos, dos pensamentos e dos problemas físicos que você sofre agora, e não do que ofendeu ou machucou você dois minutos – ou 10 anos – atrás. O perdão ajuda a curar os sentimentos feridos.
- Gerencie o estresse: quando se sentir irritado, recorra a alguma técnica simples de controle do estresse para se acalmar.
- Não espere pelos outros: não adianta esperar de outras pessoas e da vida coisas que elas não querem lhe dar. Reconheça as expectativas descabidas que você tem em relação ao seu comportamento e ao dos outros. Lembre-se de que você pode esperar saúde, amor, paz e prosperidade e trabalhe para isso.
- Busque outros caminhos: direcione sua energia para encontrar uma forma de atingir suas metas que não passe pela experiência que feriu você. Em lugar de repisar mentalmente o sofrimento, busque jeitos novos de ter o que você quer.
- Assuma o poder do perdão: lembre-se de que uma vida bem vivida é a sua melhor vingança. Em lugar de focar nos seus sentimentos feridos, concedendo dessa forma um poder sobre você à pessoa que o feriu, aprenda a procurar amor, beleza e bondade ao redor de você. Perdão tem a ver com poder pessoal.
- Torne-se um herói: reformule a narrativa da sua dor de forma a destacar a escolha heroica pelo perdão.
O método REACH
- R: Recorde a ofensa sem culpar ou atacar a outra pessoa
- E: Emocionalmente, substitua emoções negativas por emoções positivas (empatia, simpatia, compaixão e amor)
- A: Altruisticamente, ofereça o dom do perdão
- C: Comprometa-se com o perdão que você experimentou
- H: Havendo dúvidas, agarre-se ao perdão
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